Filme do Dia: Jauja (2014), Lisandro Alonso



Jauja (Argentina/Dinamarca/França/México/Brasil/EUA/Holanda/Alemanha, 2014). Direção: Lisandro Alonso. Rot. Original: Lisandro Alonso & Fabian Casas. Fotografia: Timo Salminem. Música: Viggo Mortensen. Montagem: Gonzalo del Val & Natalia López. Dir. de arte: Sebastián Rosés. Com: Viggo Mortensen, Diego Roman, Ghita Norby, Mariano Arce, Viilbjork Malling Ager.
Gunnar Dinesen (Mortensen) parte em busca de sua filha Ingeborg (Ager), que fugiu com o soldado que era mantido prisioneiro e a quem se espera provas do que disse sobre o oficial desaparecido e de que não se trata de mero desertor.
Engana-se quem acredita que a mudança de foco para um período histórico diferenciado, assim como uma abordagem plenamente ficcional e com atores do cenário internacional como Mortensen significaria também uma revisão do horizonte estético do realizador. A recusa ao drama convencional, ao caráter eminentemente dialógico e a fartura de “tempos mortos”, onde detalhes de ações são descritas sem que nada de eminentemente dramático ocorra, persistem. É quase como se assistíssemos a um drama histórico sendo desmontado diante de nossos olhos. Muitos dos elementos comuns a esse gênero estão lá. Existe índios, execuções brutais, cobiças associadas ao desejo por uma mulher e uma busca dela ao longo do filme, mas os mesmos, em última instância, são diluídos por um filme que mantém os figurinos de época e uma fotografia esmerada (realizada pelo habitual colaborador dos filmes de Aki Kaurismaki) mas não se encontra ambientado em cenários de época, com a presença de dezenas de extras. É a paisagem inclemente do deserto e sua geografia natural específica que interagem com os personagens de forma pouco habitual ao que seria um drama de época, seja acobertando a masturbação do oficial que deseja a filha de Dinensen ou fazendo uso de uma gruta como moradia para uma velha senhora que o oficial encontra em sua jornada árdua em busca da filha. Seria essa morada uma alucinação que posteriormente se transfere para o próprio corpo narrativo do filme que finda por encontrar a filha do mesmo adormecida em um castelo na contemporaneidade? Pouco importa. A impressão que fica, de um enfrentamento inicialmente arrojado com as convenções de um cinema que não interessa a Alonso se torna demasiado vítima de sua própria pretensa radicalidade, soando mais como exercício retórico que propriamente digno de uma intensidade como a presente em suas melhores obras (A Liberdade, como melhor exemplo). Destituído de trilha musical, quando essa irrompe, num determinado momento em que o herói admira as estrelas, isolado e no limite de suas forças, ao invés de ganhar impacto por seu mero uso, mas parece um achincalhe irônico tal a sua aberta e proposital inadequação em relação à imagem. 4 L/Arte/Bananeira Filmes/Canal Brasil/Fortuna Films/Kamoli Films/Les Films do Worso/Mantaraya Producciones/Massive/The Match Factory/Perceval Pictures. 108 minutos.


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