Filme do Dia: Compasso de Espera (1969), Antunes Filho

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Compasso de Espera (Brasil, 1969). Direção e Rot. Original: Antunes Filho, a partir de seu próprio argumento. Fotografia: Jorge Bodanzky. Música: Vicente de Paula Salvia. Montagem: Charles Fernand Mendes de Oliveira. Cenografia: Laonte Klawa. Com: Zózimo Bulbul, Renée de Vielmond, Elida Gay Palmer, Karin Rodrigues, Léa Garcia, Stenio Garcia, Antonio Pitanga, Cléa Simões, Augusto Barone.
Jorge (Bulbul) é um publicitário de sucesso que lança seu primeiro livro de poesias. Apadrinhado do poderoso Dr. Macedo (Barone), Jorge sente vários conflitos por ser negro e de origem pobre, sendo acusado pela irmã (Garcia), de ter vergonha da própria família. Amante da branca, rica e mais velha Ema (Palmer) e iniciando uma relação com a igualmente branca e mais jovem Cristina (Vielmond), ele também faz parte de um grupo de consciência negra que discute as diversas vertentes do movimento negro. A tensão se torna crescente quando Jorge e Cristina são espancados ao namorarem numa praia do litoral de São Paulo.

Muitas são as fraquezas dessa única experiência cinematográfica do diretor teatral Antunes Filho para o cinema como os diálogos por demais “sociologizados” para seu corpo eminentemente realista, artifício que ainda fica mais intenso com o recurso a dublagem como forma de lidar com a ausência de som direto numa produção que, dada a precariedade de meios, levou quatro anos para ser concluída. Dito isso, não há como não destacar uma aguda percepção da questão racial na sociedade brasileira, enfrentada de modo pioneiro, assim como certas virtudes inclusive partindo de suas próprias limitações técnicas. A partir do uso canhestro da sonorização posterior, inclusive com vozes de atores diferentes dos que encarnaram os personagens em vários casos, o filme não deixa de fazer uso recorrente de diálogos ou monólogos de sequências precedentes ou que ainda virão. Tampouco se pode esquecer sua bela e singela fotografia em preto & branco, a cargo de Bodanzky e mesmo uns poucos momentos visuais verdadeiramente inspirados, como a perspectiva “distorcida” de Jorge/Bulbul em relação ao carro da amante, no momento que ela oferece carona para ele e Cristina. Tem-se a nítida impressão que Antunes desejou, de modo um tanto pretensioso, realizar seu Terra em Transe (1967), a partir da perspectiva mais pontual de seu protagonista negro, enquanto seu cínico prólogo, que macaqueia de forma irônica a linguagem publicitária, parece antecipar recursos que serão explorados de forma mais sistemática por Sérgio Bianchi décadas após. O tema da questão racial no Brasil será articulado de modo mais consistente em Quase Dois Irmãos (2004), de Lúcia Murat. A presença de Vielmond, estreando com apenas 16 anos, parece fazer parte do intuito de provocar a sociedade brasileira. Antunes Filho Prod. Cinematográficas para Embrafilme. 98 minutos.

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