Filme do Dia: O Tempo Não Apaga (1946), Lewis Milestone


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O Tempo Não Apaga (The Strange Love of Martha Ivers, EUA, 1946). Direção: Lewis Milestone. Rot. Adaptado: Robert Rossen & Robert Riskin, baseado no conto Love Lies Bleeding, de John Patrick. Fotografia: Victor Milner. Música: Miklós Rózsa. Montagem: Archie Marshek. Dir. de arte: Hans Dreier & John Meehan. Cenografia: Sam Comer & Jerry Welch. Figurinos: Edith Head. Com: Barbara Stanywick, Van Heflin, Lizabeth Scott, Kirk Douglas, Judith Anderson, Roman Bohnen, Darryl Hickman, Janis Wilson, Ann Doran, Mickey Kuhn.
Em 1928, Martha Ivers (Wilson), garota que foge da rigidez de uma tia tirana (Anderson), para se aproximar do jovem e rebelde Sam Masterson (Hickman) mata acidentalmente sua tia, numa provinciana cidade. Sua única testemunha é o garoto Walter O´Neil (Kuhn), que silencia por pressão de Martha e pela ganância de seu pai (Bohnen), que pretende amealhar boa parte da fortuna dos Ivers. Dezoito anos após, Sam Masterson  (Douglas) retorna ao local depois de uma vida errante encontra com Toni Marachek (Scott), recém-saída da prisão. Os dois se atraem imediatamente um pelo outro. Porém, o fato de Marachek ter perdido o ônibus para uma cidade próxima o leva à prisão, pois ainda se encontra em liberdade condicional. Masterson procura ajuda de Walter O´Neil (Douglas), promotor bem sucedido e com promissora carreira na política reencontra Martha Ivers (Stanwyck), hoje uma industrial bem sucedida. O´Neil procura a todo custo afastar Masterson da cidade, forjando uma mentira para que Marachek abandone a prisão e contratando capangas para o surrarem. Esse descobre tudo e resolve revidar, porém não contava com a paixão ainda latente de Martha Ivers que o faz abrir mão de Marachek. Após descobrir que Martha fora autora não somente do crime contra sua tia, como de uma acusação contra um homem inocente que é condenado à morte, Masterson fica convencido do desequilíbrio do casal e reencontra com Marachek, partindo com ela para uma nova vida.

Esse filme noir consegue cativar a atenção por sua melodramática e envolvente narrativa sendo estréia de Douglas, vivendo um apatetado e fraco homem dominado pela força da mulher com a qual casou (vivida pela habitual vilã do gênero, Stanywick). Soma-se a isso a sensualidade brejeira de Lizabeth Scott, atriz que foi lançada por Wallis na esteira de Lauren Bacall, e mais talentosa que seu próprio modelo. Há, na esteira do melodrama clássico, a habitual contraposição entre a decadência moral dos ricos contra os valores da virtude encarnados pelos remediados – ainda que uma leitura cínica subliminar seja possível, no momento em que Masterson se vê caído pelos encantos da ricaça que fora objeto de amor na infância. Judith Anderson, que se celebrizou no papel de vilã em Rebecca (1940), de Hitchcock, volta a viver uma vilã similar ao início do filme. Milestone, célebre por seu Sem Novidades no Front (1930), não alivia o excessivo drama que acompanha o quarteto principal, como é o caso do patético duplo suicídio do casal rico ao final, ainda que tampouco se furte às habituais surpresas do gênero, como numa presumida morte de O´Neil de modo idêntico ao da tia de Martha anos antes. Talvez a maior força do filme advenha da talentosa dupla de roteiristas (Riskin não tendo sido creditado e Rossen também cineasta de talento) e de que o apelo emocional dos dramas vividos por seus personagens se sobreponha  às próprias intrigas excessivamente rocambolescas comuns ao noir. Hal Wallis Productions para Paramount. 116 minutos.

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