Filme do Dia: Bang Bang (1971), Andrea Tonacci
Bang Bang (Brasil,
1970). Direção e Rot. Original: Andrea Tonacci. Fotografia: Thiago Veloso.
Montagem: Roman Stulbach. Cenografia:
Andrea Tonacci & Milton Gontijo. Com: Paulo César Pereio, Abrahão Farc,
Jura Otero, Ezequiel Marques, José Aurélio Vieira, Thiago Veloso, Antônio
Naddeo, Thales Pena, Milton Gontijo.
Um homem (Pereio), uma mulher e uma
quadrilha formada por uma mãe comilona, um filho cego que atira a esmo e outro
narcisista. Não muito mais que isso é fornecido por esse filme sui generis
de Tonacci que, mesmo enquadrado no estilo do que ficou conhecido como Cinema
Marginal, muito se distancia dos clássicos Matou a Família e Foi ao Cinema
e O Bandido da Luz Vermelha. Embora tenha em comum com o último o fato
de canabalizar muitos elementos dos filmes de gênero americanos (a trilha
sonora faz uso de compositores que produziram para o cinema americano como
Andre Previn, Lalo Schiffrin e Henri Mancini), sinalizando para a influência em
ambos de Godard, e canções da velha guarda da MPB (no caso, aqui, Lamartine
Babo), Tonacci se afasta da panaceia sonora que atravessa todo o filme de
Sganzerla, enfatizando muito mais a própria imagem. Os raros diálogos servem
menos como apoio narrativo que um elemento secundário dentro da própria cena.
Com planos-seqüência que duram vários minutos compostos de belos travellings
automobilísticos, um trabalho de câmera primoroso e uma bela fotografia que
acentua ainda mais o seu caráter moderno, o filme constantemente brinca com a
própria estrutura narrativa cinematográfica, sendo seu momento mais criativo o
que Pereio pede que a atriz refaça suas frases e uma nova tomada é realizada.
Sua originalidade pode ser cotejada com uma seqüência semelhante, porém
infinitamente mais convencional e didática realizada por Truffaut em Noite
Americana. Em vários momentos o equipamento de filmagem se apresenta
visível e num rápido plano a mãe, interpretada grotescamente por um homem –
traindo também a influência das velhas comédias burlescas – começa a contar
diretamente a história para a câmera e é logo interrompida por uma torta. Com
um senso de geometria raro no cinema nacional, notável no seu uso do espaço
seja em avenidas, estradas, elevadores ou subterrâneos, seu virtuosismo no ato
de filmar, fotografia embranquecida e lentos fades lembram O Bravo
Guerreiro, com o mesmo Pereio. O corte abrupto, outra presença do cinema
moderno influenciado por Godard, também se encontra presente em boa parte da
narrativa, sobretudo numa seqüência de mágica que conta ainda com a fanfarra da
Fox. Destaques para a longa seqüência em que a atriz realiza um solo de danças
flamencas num teto de um prédio, a do carro dos bandidos incendiado em uma
estrada, assim como as duas sequências em que Pereio discute o tempo inteiro
com o mesmo motorista de táxi, típicas de sua sobreposição do visual à qualquer
limitação narrativa tradicional. Filmado
em Belo Horizonte. Total Filmes/Sobreimpressão Produção e Distribuição de
Filmes. 93 minutos.
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