O Dicionário Biográfico de Cinema#164: Erich von Stroheim
Erich von Stroheim (Erich Oswald Stroheim) (1885-1957), n. Viena
1918: Blind Husbands [Maridos Cegos]. 1919: The Devil's Passkey. 1921: Foolish Wives [Esposas Ingênuas]. 1922: Merry-Go-Round (iniciado por Stroheim; foi substituído por Rupert Julian). 1925: Greed [Ouro e Maldição]; The Merry Widow [A Viúva Alegre]. 1928: The Wedding March [Marcha Nupcial]; Queen Kelly [Minha Rainha]. 1933: Walking Down Broadway (nunca lançado, retrabalhado e estreado como Hello Sister [Alô, Belezas!]).
Stroheim é geralmente conhecido como a mais arruinada das carreiras no cinema e, no entanto, é dificilmente sensível pensá-lo como vítima. Mais fácil visualizá-lo "o Von", diretor de Ouro e Maldição, o maior de todos os filmes "perdidos", e "o homem que você amaria odiar", como a mais completa invenção de Erich Oswald, o filho vienense de um mercador judeu alemão e de uma mãe oriunda de Praga.
Anos depois, coube a Stroheim reivindicar origens aristocráticas e uma notável carreira militar. Mas seu estilo indubitável e persuassão foram mais um produto de aspiração artística do que qualquer grande familiaridade com a alta sociedade austro-húngara. Após breve serviço militar, emigrou para os Estados Unidos em 1906 e atravessou sombrios anos de obscuridade antes de reaparecer, em 1914, como um rufião hollywoodiano. Pelos anos seguintes, esforçou-se para ser indispensável no império de Griffith-John Emerson, interpretando pontas em Birth of a Nation [O Nascimento de uma Nação], Intolerance [Intolerância] e Hearts of the World; assistindo Griffith sempre que possível; atuando como consultor militar em Old Heidelberg (15), de Emerson; e ganhando seus primeiros créditos como diretor de arte. Em 1917, em Old France (*), estabelecendo o papel de oficial prussiano tão central à sua imagem.
A ambição de Stroheim era dirigir, e em 1918 persuadiu Carl Lemmle na Universal a deixá-lo fazer seu primeiro roteiro original, "The Pinnacle": o resultado foi Maridos Cegos, no qual o próprio Stroheim interpretava o tenente Erich von Steuben, o fastidioso, irônico e desalmado super-homem militar. Este foi seguido por The Devil Passkey (19) e Esposas Ingênuas (21), ambos para a Universal. O último novamente estrelado por Stroheim como oficial cafajeste e enrolador, em sua maior parte numa área de recreação Continental. Um sucesso em termos de prestígio, foi um fracasso financeiro a despeito ou por conta da insistência da Universal, que teria-o cortado substancialmente. Foi tirado de seu filme seguinte, Merry Go Round (22), em grande medida por conta de uma intervenção de Thalberg, então zelador de Laemmle, na Universal.
Stroheim se mudou para a Goldwyn Company, e em 1923 filmou Ouro e Maldição, a partir do romance McTeague, de Frank Norris. Foi o talvez o mais imprudentemente ambicioso filme jamais feito: teria Stroheim sonhado que sua versão de dez horas seria lançada? Ou ele atraiu problemas por si próprio? Não poderia ter inventado um golpe mais amargo que o modo que, quando trabalhava em Ouro e Maldição, a Goldwyn Company tornou-se Metro-Goldwyn-Mayer, com Thalberg como um de seus cabeças. Cortes sucessivos reduziram Ouro e Maldição até uma versão final, lançada em 1925, de dez rolos - talvez um quarto da concepção original.
Stroheim retaliou com um grande sucesso comercial para a MGM, A Viúva Alegre, estrelando John Gilbert e Mae Murray. Mas em 1926-28, estava novamente em problemas com a Paramount, a respeito de Marcha Nupcial, um projeto em duas partes no qual também atuava - como Príncipe Nicki von Wildliebe-Rauffenberg. A Primeira Parte, "A Marcha Nupcial" foi lançada muito como pretendida. Porém, a segunda "A Lua de Mel", foi tirada das mãos de Stroheim e dada a diversos outros, inclusive von Sternberg, para diminuir a metragem. Apareceu somente brevemente na Europa, como O Casamento do Príncipe. Em 1928 ateve-se a uma parceria improvável com Gloria Swanson e Joseph Kennedy para realizar Queen Kelly [Minha Rainha]. A infelicidade de seus parceiros com a arrogância e extravagância de Stroheim entraram em ação, quando o som interrompeu as filmagens. Uma vez mais, a versão lançada foi uma imagem encolhida dos planos de seu diretor.
Stroheim dirigiria somente uma vez mais: Walking Down Broadway. Mas o produtor Sol Wurtzel brigou com o executivo Winfield Sheehan e eventualmente uma versão refilmada apareceu: Alô, Belezas!
O resto da carreira de Stroheim foi como escritor viajante e ator. Na América apareceu em, dentre outros, The Great Gabbo [O Grande Gabbo] (29); com Garbo, em As You Desire Me [Como me Queres] (32, George Fitzmaurice), e em The Crime of Dr. Crespi [O Crime do Dr. Crespi] (35, John Auer). Também trabalhou como consultor militar ou escritor de diálogos para a Anna Karenina, de Garbo (35, Clarence Brown), San Francisco [San Francisco, a Cidade do Pecado] (36, W.S. van Dyke) e The Devil Doll [A Boneca do Diabo] (36), de Tod Browning.
Em 1936 foi a França e interpretou Von Rauffenstein, o aviador aleijado em La Grand Ilusion [A Grande Ilusão] (37), de Renoir, assim como em Marthe Richard (37, Raymond Bernard) e dois filmes de Christian-Jacque: Les Pirates du Rail (38) e Les Dispares de Saint-Agil (38). Esperava dirigir novamente, La Dame Blanche, com colaboração de Renoir, mas a guerra cancelou o filme e Stroheim retornou à América.
Apareceu na Broadway em 1941-43 em Arsenic and Old Lace e teve várias participações exóticas para adquirir o espírito de guerra: I Was an Adventuress [Sedutora Aventureira] (40, Gregory Ratoff); em So Ends Our Night [Náufragos] (41, John Cromwell); como Rommel em Five Graves to Cairo [Cinco Covas no Egito] (43), de Billy Wilder; em The North Star [Estrela do Norte] (43), de Milestone; como The Great Flamarion [A Grande Paixão] (45, Anthony Mann); e em The Mask of Dijon (46, Lew Landers), contracenando com Denise Vernac, sua futura esposa.
Em 1946 retornou à França, mas fez somente um filme, La Danse de Mort (47, Marcel Cravenne), baseado em peça de Strindberg, de algum interesse. Em 1950 retornou a Hollywood para interpretar Max von Mayerling, o mordomo, ex-diretor e ex-marido em Sunset Boulevard [Crepúsculo dos Deuses], de Billy Wilder. O filme, por sua vez, uma deliberada humilhação de Stroheim e uma das mais confusas peças de auto-adulação hollywoodiana. Completo com um clipe de Minha Rainha e um cuidado com os cenários atípico de Wilder, Crepúsculo dos Deuses é o final ácido para uma visão cínica de como Stroheim dirige Norma Desmond-Gloria Swanson para os fótografos da imprensa. (Mas que influência Stroheim teve em Wilder, como uma advertência contra a recusa de compromissos).
Depois disso, Stroheim apareceu somente em um filme alemão, Alraune [Mandrágora] (52, Arthur Maria Rabenalt) e um punhado de filmes franceses a mais, antes de sua morte.
É difícil hoje ver mesmo o que os estúdios escolheram tornar disponível da obra de Stroheim. Mas, uma vez assistidos, Ouro e Maldição, Marcha Nupcial e Minha Rainha - não importa o quão palidamente reflitam os originais - nunca são esquecidos. Eles contém as contradições essenciais na obra de Stroheim: entre melodrama e naturalismo; romantismo e cinismo; detalhe psicológico e perspectivas épicas. Como todos os grandes diretores silenciosos sabia o quão necessário era abandonar o gosto pela obsessão. Seu aumento imprudente de situações foi uma forma de improvisação, mesmo que isso implicasse gastos e adiamentos disparatados. Deixado por si, Stroheim nunca concluiria um filme, tão crônica era sua febre por detalhes. Por tanto que explorou o realismo dos personagens e se deliciou com o trabalho de locações, ainda assim era capaz de repentinos insights requintados - geralmente sobre perversão, luxúria, malícia ou orgulho. Seus filmes acumulavam detalhes, mas nunca perdiam a visão do personagem ou da estrutura. O famoso veredito de Thalberg - que Stroheim era o fetichista das filmagens - era mais verdadeiro que o produtor sabia, por Stroheim ser tão preciso quanto expansivo. A despeito de todos os obstáculos, Stroheim realizou filmes totalmente pessoais, aparentemente insultos duradouros, desapontamentos e reversos com um estoicismo que reconhecia o quanto toda traição melhorou a identidade e reputação de Von. A nobreza entristecida que olha para fora de A Grande Ilusão e Crepúsculo dos Deuses foi tão parte de sua obra quanot o vale da morte e o jogo de Ouro e Maldição.
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N.York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2736-39.
(*) N. do E: no IMDB consta como For France.
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