O Dicionário Biográfico de Cinema#226: Josef von Sternberg

 Josef von Sternberg (Josef Stern) (1894-1969), n. Viena



1925: The Salvation Hunters. 1926: The Exqusite Sinner [Ele e a Cigana] (co-dirigido com Phil Rosen); A Woman of the Sea. 1927: Underworld [Paixão e Sangue]; Children of Divorce [Filhos do Divórcio] (co-dirigido com Frank Lloyd). 1928: The Last Command [A Última Ordem]; The Dragnet [O Super-Homem]; The Docks of New York [Docas de Nova York]. 1929: The Case of Lena Smith [O Romance de Lena]; Thunderbolt [O Homem de Mármore]. 1930: Der Blaued Engel [O Anjo Azul]; Morocco [Marrocos]. 1931: Dishonored [Desonrada]; An American Tragedy [Uma Tragédia Americana]. 1932: Shangai Express [O Expresso de Shangai]; Blonde Venus [A Vênus Loira]. 1934: The Scarlet Empress [A Imperatriz Vermelha]. 1935: The Devil Is a Woman [Mulher Satânica]; Crime and Punishment [Crime e Castigo]. 1936: The King Steps Out [O Rei Se Diverte]. 1937: Claudius (*) (não concluído). 1939: Sergeant Madden [Sargento Madden]. 1941: The Shangai Gesture [Tensão em Xangai]. 1943: The Town (d) (c). 1951: Jet Pilot [Estradas do Inferno] (**) (co-dirigido com Jules Furthman). 1952: Macao (co-dirigido com Nicholas Ray). 1953: The Saga of Anatahan [Anatahan].

Von Sternberg nos tornou fácil antipatizá-lo. Seu tom favorito era o de desdém. Cortejou inimigos assim que saiu dos trilhos, tornando-se não empregável com arrogância serena. Em A Imperatriz Vermelha, o personagem de John Lodge, apaixonado por Dietrich, mas sabedor que ela iria humilhá-lo, é convidado a admitir um oficial subalterno no quarto da Imperatiz. Ao fazê-lo, sorri sardonicamente, e pede ao oficial que dê a Dietrich uma mensagem e então diz, não importa, ela compreenderá. Assim é que von Sternberg nos deixa para entender ou expor nossa estupidez. A cumplicidade respira em seus filmes, não apenas na adoração fatalística que a câmera oferece a Dietrich e que ela responde enigmaticamente, mas na admissão "naturalmente, es uma miscelânea, sem sentido nenhum. Somente os mais ilustrados podem ver a beleza interior." Sternberg cultivou seu próprio elitismo, surpreendentemente sobrevivendo com ele por treze filmes na Paramount, e então tolerou um exílio crescentemente bizarro.

Sua juventude foi dividida entre Viena e Nova York, e em sua obra alternou um senso de femme fatale continental e o herói americano lacônico mais completamente do que qualquer outra pessoa: em O Anjo Azul e Marrocos, por exemplo, fez ponte entre os mundos da humilhação germânica e do orgulho hawksiano. Trabalhou, em turnos, para a World Film Corporation e serviu no exército americano. Após a guerra, fez sua estreia como assistente de direção em The Mystery of the Yellow Room (19, Emile Chautard). Trabalhou em The Highest Bidder (21, Wallace Worsley) e By Divine Right [Por Direito Divino] (24, Roy William Neill), no qual um "von" foi acrescentado a seu nome "sem meu conhecimento".

The Salvation Hunters, feito com bem poucos recursos e novas locações, foi visto como realismo refrescante. Mas Sternberg rapidamente estabeleceu um mundo particular de luz e sombras, romance e violência, homens fortes e mulheres misteriosas. Paixão e Sangue e Docas de Nova York apresentam seu imaginário erótico em formação e A Última Ordem é um exercício para o enfraquecimento do inflado e repleto de auto-comiseração Emil Jannings alcançadas em O Anjo Azul.

Mesmo sendo econômico nos diálogos, o som foi essencial a Sternberg por conta de seu gosto por um realismo comportamental bastante intimista, dentro de um artíficio surrealista de trama e cenários. Não menos essencial foi Dietrich. Com a melhor boa vontade do mundo, seus filmes sem ela perdem este langor maravilhoso e fulminante. Não foi um homem fácil de ser dirigido por. Muitos atores - notadamente Jannings e William Powell - reagiram violentamente a ele. Dietrich o adorava e confiava nele. Daí o porque de seus filmes juntos terem uma incrível privacidade, contra a qual, as preocupações sensatas da Paramount pareceram irrelevantes. 

Em retrospecto, parece rídiculo que Lubitsch tenha sido estimado na Paramount por sua sofisticação, e se pensasse de Sternberg como um ingovernável fantasista. Ele assegurou no celulóide que muitas imagens do rosto de Dietrich, movendo-se entre a luz e as sombras, fossem melhor tema para o cinema que os estratagemas teatrais de Lubitsch. Inventou países em direção de arte para ela - o norte da África, China, Espanha e Rússia - que foram autênticos somente em termos emocionais. Fez da mulher a árbitra sexual, observadora serena de uma vida absurda que não oferecia melhor consolo que o de se vivenciar o prazer. A Imperatriz Vermelha é a prova que a imagem sexual é mais duradoura e séria que amor, política e história. E seu final, defesa delirante da depravação aberta de Dietrich de um triunfo do amour fou do cinema americano e uma obra-prima do surrealismo. Ao lado deste, Marrocos e Expresso de Shangai são apenas belas celebrações do romance, a insistência no apego sentimental conquistando à razão. A Imperatriz Vermelha possui este espírito tornado esplendidamente agressivo com o próprio pessimismo engenhoso de Sternberg. Parece tão surpreendente, que ninguém ousaria fazê-lo hoje.

Após Dietrich, Sternberg aceitou atribuições. Claudius quebrou, por conta do acidente de Merle Oberon e da intransigência de Charles Laughton, mas é mais característico de um projeto arruinado de Sternberg. Sua obra posterior é virtualmente definida por obstáculos e impedimentos que criou para si próprio. Portanto, deixou a Paramount, sob uma nuvem, demitido por Lubitsch, aparentemente demasiado orgulhoso para admitir que as "extravagantes" cenas de multidão em A Imperatriz Vermelha provieram de um filme silencioso de Lubitsch, The Patriot [Alta Traição]. Tensão em Xangai, Estradas do Inferno e Macao são filmes fragmentários, claramente maltratados por suas próprias companhias produtoras, mas ainda oferecendo relances de jogos de luz em um sorriso feminino que Sternberg identificava como fundamental ao cinema. Macao, particularmente, suas imagens gloriosas e alucinatórias, da treliça do falso luar nadando sobre conjuntos de papelão. 

Foi necessária a impossibilidade ridícula de Anatahan para concluir sua carreira de realizador. Uma trama selvagem - sobre marinheiros japoneses e uma mulher abandonada em uma ilha não sabendo que a guerra acabou - filmado sob as condições mais simples. A ilha foi feita de papel, celofone, e luz. E o próprio Sternberg fotografou o filme, revelada em tal artificialidade pura, arrependendo-se somente de ter utilizado água real. Raramente visto, Anatahan é uma obra-prima, a ser considerado ao lado dos filmes com Dietrich. Por sua total absorção no estilo, interesse destituído de remorsos na existência sexual, sutil convicção na desesperança e amoralidade, Sternberg agora permanece claramente,  como um dos maiores diretores e o primeiro poeta do cinema underground.

Após Anatahan, ensinou cinema e escreveu seu escandaloso compêndio em alegria amarga e confissões ocultas, Fun in a Chinese Laundry. O capítulo sobre Dietrich é uma contribuição maior a literatura sobre o cinema e uma grande e caústica história de amor.

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2733-36. 

N. do E: (*) no IMDB, I, Claudius

(**) somente lançado em 1957, data com o qual é creditado no IMBD.

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