Filme do Dia: A Morta Viva (1943), Jacques Tourneur

 


A Morta-Viva (I Walked with a Zombie, EUA, 1943). Direção: Jacques Tourneur. Rot. Original: Inez Wallace & Curt Siodmak. Fotografia: J. Roy Hunt. Música: Roy Webb. Montagem: Mark Robson. Dir. de arte: Albert S. D´Agostino & Walter E. Keeler. Cenografia: A. Roland Fields & Darrell Silvera. Com: James Ellison, Frances Dee, Tom Conway, Edith Barreth, James Bell, Christine Gordon, Theresa Harris, Sir Lancelot.

Wesley Rand (Ellison) contrata a jovem enfermeira canadense Betsy (Dee) para cuidar de sua esposa Jessica (Gordon), nas Índias Ocidentais. Betsy se torna cada vez mais envolvida por Wesley, porém se depara com o ambiente sombrio no qual este vive com sua esposa, que não demonstra o menor sinal de vida e cercados de nativos que praticam o vodu. Também compõem a família Rand seu irmão alcoólatra, Paul (Comway) e a mãe (Barrett) de ambos, cientista. Influenciada pelos empregados que falam de curas provocadas nos ritos de vodu, Betsy leva Jessica para um ritual e, inesperadamente, acaba encontrando a Sra. Rand no local. Ela aconselha Betsy a levar Jessica de volta. Pouco depois, após surpreendente revelação da Sra. Rand, Jessica e Paul são encontrados afogados no mar.

Mesmo que não se encontre à altura de sua obra-prima, Sangue de Pantera (1942), essa nova parceria da dupla Val Lewton-Tourneur, produtor e cineasta respectivamente, rende um filme misterioso e atmosférico bem acima da média, surpreendente por seu laconismo (talvez levado pelas dificuldades de produção, afinal se tratavam de filmes de pouco orçamento) e concisão narrativa. Como em seu filme anterior, a dupla retorna ao universo fantástico, evocado por referências à culturas “exóticas”, inclusive em termos de idioma, assim como o reino de sombras que surge do contraste entre luzes e escuridão, no qual o desejo é peça fundamental – é a partir do desejo possessivo pelos filhos que a mãe provoca a ruína de Jessica; é o desejo de Betsy por Wesley que a faz permanecer no local. Porém, aqui a urdidura desse desejo, mesmo se espraiando para toda uma atmosfera extremamente sombria e erótica ao mesmo tempo, é menos bem elaborada que em seu filme anterior, no qual toda a mise-en-scene podia ser lida como expressão de uma sexualidade problemática e ambígua. Nesse sentido, aqui se trilha uma via mais convencional, sendo a sexualidade destemperada não a da protagonista, como no outro, e sim dos personagens secundários, daí o correspondente final trágico que porventura venham a merecer. Conway, irmão do mais famoso George Sanders,  curiosamente morreria alcoólatra. Há apropriações não creditadas da obra Jane Eyre, de Charlotte Brontë. RKO Radio Pictures. 69 minutos.

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