Filme do Dia: Die Suffragette (1913), Urban Gad

 


Die Suffragette (Alemanha, 1913). Direção e Rot. Original: Urban Gad. Fotografia: Karl Freund, Emil Schüneman & Guido Seeber. Com: Asta Nielsen, Max Landa, Mary Scheller, Herr Schroot, Charly Berger, Fred Immler, Adele Reuter-Eichberg.

De família rica, Nelly  (Nielsen) rejeita um pedido de casamento e se encontra interessada em um homem mais velho, e bastante ocupado, Lorde William (Landa). Sua mãe leva-a consigo para uma de suas ações de caridade, para que conheça a pobreza, e também ao clube das sufragistas, do qual é membra entusiasta. Nela, entusiasmada com a eloquência das mulheres, não apenas se torna aderente à causa, como vai presa após quebrar uma vitrine de loja, fazendo greve de fome na prisão. Ao sair, consente com a mãe em provocar um atentado contra Lorde William, que se encontra em vias de promulgar uma lei que prenderá toda e qualquer manifestante sufragista. Porém, quando faltam poucos minutos para que a bomba exploda, Nelly vai rapidamente à mansão de Lorde William, tentar salvá-lo da explosão.

Num período em que a câmera, via de regra, não se movimenta, ou apenas discretamente para reenquadrar os atores em campo, observa-se uma saída aparentemente fácil, de mobilizar os atores para recantos onde se encontra mais próxima a câmera, lição que já encontra posta, aliás por um dos primeiros filmes exibidos do cinematógrafo Lumière (O Regador Regado).  Ou simplesmente já posiciona, de início, a câmera de forma bem estratégica, para cenas que não terão maiores movimentações dentro do espaço a ser filmado, como a perspectiva perpendicular (uma vez mais evocativa dos Lumière), que se filma a reunião na Câmara dos Comuns. Se o espectador vencer os desafios de uma produção que sobreviveu incompleta, será brindado com inesperadas dádivas, como a de um estranho primeiro plano que tenta traduzir o quão perturbada se encontra a heroína quando se imagina responsável pela morte do homem por quem se sente atraída. Nada nem ninguém no filme nos prepara para a súbita eclosão dessa imagem tão desconcertante quanto a personagem se encontra no momento em questão.  E o que dizer do suspense dos minutos finais, que apela a recursos bem distintos dos habitualmente utilizados por Griffith ou outras produções contemporâneas (como Suspense), inclusive um plano de destaque extemporâneo à ação com um relógio de algibeira marcando dois minutos para o momento fatídico?  As cartelas, como usual então, antecipam o que ocorrerá, como é o caso do pedido de Lorde William que seja apresentado a Nelly. E esta é vida por ninguém menos que Asta Nielsen, já famosa no meio teatral, pavimentando o seu caminho para a fama no cinema já na Alemanha, como é o caso dessa produção, que sobreviveu com trechos ausentes – referidos simplesmente por cartelas e uma única vez, por um still, de Nelly já se movimentando para quebrar a vitrine de uma loja. Ou ainda a recusa da proposta de casamento a um de seus pretendentes.  Também se tira partido da profundidade de foco, de muito boa qualidade à época, como se pode perceber dos convidados que chegam à festa de Nelly às costas da mesma. Se não há preocupações no plano ideológico de forma direta, sem muito esforço se deduz, sobretudo ao seu final, que a perspectiva aqui apresentada é bastante conservadora – e a representação das sufragistas é associado negativamente com seu radicalismo – com Nelly se tornando outra pessoa quando abandona os laivos irascíveis da área de influência de sua mãe e se torna mulher, algo que já antecipara ao afirmar que as mulheres deveriam lutar com seu coração – que tipo de luta (a do lar?), não fica claro ao final. Debilidades de sua narrativa se encontram associadas ao capricho e volubilidade da Nelly de Nielsen, que com o mesmo ímpeto desenxabido que resolvera se tornar uma sufragista radical, ser presa e participar de um atentado que poderia ter resultado em morte, nega rapidamente tudo diante do objeto de sua paixão. PAGU. 59 minutos.

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