Filme do Dia: Fuga do Passado (1947), Jacquers Tourneur
Fuga do Passado (Out of the Past, EUA, 1947). Direção: Jacques Tourneur. Rot.
Adaptado: Daniel M. Wairing, a partir de seu próprio romance, Build My Gallows High. Fotografia:
Nicholas Musuraca. Música: Roy Webb.
Montagem: Samuel E. Beetley. Dir. de arte: Albert S; D’Agostino &
Jack Okey. Cenografia: Darrell Silvera. Figurinos: Edward Stevenson. Com: Robert Mitchum, Jane
Greer, Kirk Douglas, Rhonda Fleming, Richard Webb, Steve Brodie, Virginia
Huston, Paul Valentine, Dickie Moore, Ken Niles.
Jeff Bailey
(Mitchum) é um ex-detetive particular, Jeff Markham, que pretende esquecer seu
passado de proximidade com o crime ao cuidar de um posto de gasolina e formar
um casal com Ann (Huston). Certo dia, no entanto, recebe a mensagem de ir ao encontro do jogador
Whit (Douglas), profundamente associado com seu passado. Foi através de Whit
que ele viajara atrás de sua amante, Kathie (Greer), que levara consigo 40 mil
dólares dele. Jeff a encontra no México e os dois vivenciam um romance. Porém,
logo Jeff perceberá, quando parte para San Francisco com ela, não só que Kathie mentira a respeito de não
ter pegue o dinheiro, como ainda matara um homem próximo de Jeff que tentara
chantageá-los, Fisher (Brodie). Whit tem uma nova missão para Jeff,
reencontrando Kathie. E é no trajeto para essa nova missão que ele revela tudo
sobre seu passado para Ann. Whit pretende que Jeff encontre os livros contábeis
que se encontram na posse de um chantagista, Leonard Eels (Niles).
Um dos maiores
clássicos noirs, o filme é marcado
pelo duplo registro empregado por Jeff/Mitchum entre um passado cabuloso de
envolvimento com uma típica femme fatale
sem coração e um presente que fragilmente se mantém com dignidade e um esboço
de projeto futuro, que evidentemente será carcomido rapidamente pelo retorno do
passado que se faz futuro sombrio e, ao final, morte. Ainda que a determinado
momento Bailey fale de Markham como de uma outra pessoa, esses são expedientes
que demonstrarão ser mera retórica diante da pressão avassaladora dos fatos. Mesmo
o noir sendo pródigo em flashbacks,
aqui ele se encontra presente menos como praticamente o todo narrativo (Pacto de Sangue, Crepúsculo dos Deuses) que como ponte entre o passado e o futuro.
Como “vilão”, o Whit de Douglas traz a originalidade de aceitar de volta Kathie
após sua traição, assim como de voltar a contratar Jeff mesmo depois dele
também tê-lo traído. A sucessão de mortes que envolve os personagens é digna de
uma tragédia shakespeariana. Entre a insipidez da mocinha derramada e submissa
que não se envolve com as ações do amado – e que, pragmaticamente acaba
aceitando o pretendente após consultar o oráculo invertido que afirma sobre o
passado, encarnado na figura do adolescente surdo-mudo que trabalhara para Jeff
no posto – e o esplendor fatal de sua contaparte, que levará Jeff a morrer a
seu lado, baleado, tal como uma versão menos glamorosa de Bonnie & Clyde,
existe a beleza ímpar de Rhonda Fleming. A virtuosidade de sua narrativa, com
sua alucinada profusão de personagens e situações, sufoca, no entanto, o que
Tourneur apresentou de melhor em seu cinema (Sangue de Pantera), que é a personificação da angústia e do temor
se apossando de um personagem. Aqui nem de longe se tem tempo para isso. O
comentário final do garoto parece acenar, antes de tudo, para uma “verdade
conveniente” que faça Ann se desvincular do amor por alguém já morto. James M.
Cain colaborou, de forma não creditada, com o roteiro. RKO Radio Pictures. 97
minutos.
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