Filme do Dia: Behind the Lines (1971), Margaret Dickinson

 


Behind the Lines (Reino Unido, 1971). Direção: Margaret Dickinson. Fotografia: John Fletcher. Montagem: Margaret Dickinson & Ellen Adams.

Documentário que, apesar de em suas cartelas iniciais afirmar ter sido filmado integralmente em Moçambique, o que não necessariamente é desmentido pelo que se segue inicia, na verdade, com uma contextualização das lutas de libertação dos países subjugados por Portugal, cujo presidente Marcelo Caetano afirma que Portugal somente se torna “poderoso” com seu império africano, que evidentemente são imagens de arquivo. Desde os créditos iniciais seu engajamento – a realizadora foi envolvida com a luta armada da FRELIMO -  já se faz perceber, ao apresentar artesanato de material tradicional adequado aos motivos contemporâneos de guerra (guerrilheiros armados, representações do colonialismo tradicional como um grupo de africanos a transportar um bebê branco, etc.). Apresenta soldados cantando e se motivando em grupo e logo sendo recebidos com alegres cantorias por parte de moradores locais. Um militante fala para a comunidade reunida, sendo seu português traduzido simultaneamente em dialeto, enquanto a voz over comenta sobre o país falar ao menos 16 línguas distintas. Os guerrilheiros também trazem material fotográfico relativo ao conflito. Trata-se do sétimo ano de luta armada, como ele comenta. O documentário também se detém sobre uma militante mulher, tópico habitualmente não referido em boa parte dessa produção. Ela é observada não apenas em sua rotina militar de treinamentos, mas igualmente em palestras para a população dos povoados, função essa observada a ser efetuada pelos homens diversas vezes nessa produção que focava as guerras de independência de Portugal.  A sequência que apresenta a organização de cooperativas agrícolas, o incentivo à produção artesã (esse mais sugerido que efetivamente apresentado), a assistência médica e a educação em zonas dominadas pela FRELIMO, serve como uma antecipação de projeto nacional quando o restante do território do país estiver “livre”. Os interesses econômicos (e a sustentação de uma reação aos que lutam pela independência) surgem na zona mais industrialmente desenvolvida do país, envolvendo potências ocidentais; embora a participação britânica seja minimizada nesse contexto, segundo o narrador, é difícil crer em tal constatação quando se pensa a forte aliança do capital britânico com a África do Sul. A centralidade da província de Tete na Guerra e a importância de conquista-la se dá porque ela se situa entre dois territórios de posição ideológica contrária, a África do Sul e a Rodésia. Ainda discutindo tópicos que dizem respeito a Guerra Fria, afirma-se do apoio da OTAN a ações contrárias a FRELIMO. Embora admita que os armamentos são provenientes do Leste Europeu e da China, defende que todos os guerrilheiros,  professores e pessoal médico é composta de moçambicanos, o que muito provavelmente não é verdade.  Porém, é bastante fidedigna sobre os custos da guerra para Portugal, e afirma que, descontados os oficiais de elite, para boa parte dos soldados iletrados que lá estão, nem sabem sobre o que defendem ou lutam em oposição aos guerrilheiros da FRELIMO. Bastante didático e convencional em seu formato, estruturando-se a partir de uma voz over masculina que direciona o olhar do espectador sobre as imagens, também cede o discurso a soldados (que falem em inglês ou sendo dublados quase simultaneamente ao registro sonoro em português), como elemento de apoio àquela “voz principal”, sem esquecer ocasionalmente a utilização de mapas e trucagens básicas com os mesmos. S.P. Films/ Dateline Film Prod. 53 minutos.

 

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