Filme do Dia: Marcha Nupcial (1928), Erich von Stroheim
Marcha Nupcial (The
Wedding March, EUA, 1928). Direção: Erich von Stroheim. Rot. Original:
Erich Von Stroheim & Harry Carr. Fotografia: Hal Mohr, Ben F. Reynolds & B. Sorenson. Música: J. S.
Zamecnik. Montagem: Erich von Stroheim & Josef von Sternberg.
Dir. de arte: Richard Day & Erich von Stroheim. Figurinos: Richard Day, Max
Rée & Erich von Stroheim. Com: Erich von Stroheim, Fay Wray, George
Fawcett, Maude George, George Nichols, Zasu Pitts, Hughie Mack, Matthew Betz,
Cesare Gravina.
Filho do Príncipe Ottokar (Fawcett) e da Princesa
Maria (George) von Wildeliebe-Rauffenburg, o Príncipe Nicki (von Stroheim) leva
uma vida dissipada, como a dos pais, envolvendo-se com inúmeras amantes, até o
dia que conhece, na parada militar de Corpus Christhi, a jovem e pobre Mitzi
(Wray). O envolvimento afetivo de ambos contraria tanto o atual pretendente da
moça, o rude açougueiro Schani (Betz) quanto os pais que, em dificuldades
finançeiras, preferem ver o filho unido a filha do rei dos emplastros
farmacêuticos Fortunat (Nichols), Cecilia (Pitts). Embora apaixonado, Nicki
cede a pressão dos pais e casa-se com Cecilia, para o desespero de Mitzi, que
assiste a saída do casal da igreja, ao lado de Navratil, que desiste da ameaça
de matar Nicki, após Mitzi concordar em casar com ele.
Ao mesmo tempo que explora, com uma crueza poucas
vezes vista no cinema até então, uma família aristocrática decadente por
excelência – a realeza austríaca, na figura do casal von Wildeliebe-Rauffenburg
– von Stroheim também cede espaço para seu contraparte: os acessos românticos
do filho Nicki. Enquanto os insultos trocados e a própria figura física do
casal real recém-acordado são repugnantes, as cenas do idílico amor entre Nick
e sua adorada proletária Mitzi são impregnadas de um romantismo kitsch. E a ironia subliminar de von Stroheim não deixa
de contrapor essas duas facetas ao longo de todo o filme. Seja no prólogo,
quando logo após comentários que celebram as virtudes de Viena e do povo
austríaco segue-se a citada seqüência do casal da realeza Habsburga acordando.
Ou ainda, e principalmente, na seqüência em que Ottokar e Fortunat,
completamente bêbados e distantes de qualquer escrúpulo, selam o acordo de
casarem seus filhos em um bordel e, numa carruagem, abaixo de uma macieira, no
mesmo momento, inocentemente Nicki e Mitzi vivem um breve momento de amor. A
ironia do cineasta evoca, por vezes, o universo de Machado de Assis, como
quando os pais de Nicki comentam que Cecilia, apesar de família rica, portanto
ideal como esposa para o filho, é manca. No final, surpreendentemente
frustra-se com as expectativas do melodrama e o casal protagonista fica com os
pares que lhe haviam sido reservados pelo meio social. No momento do casamento
o cineasta alude a hipocrisia do mesmo substituindo, por duas vezes as mãos do
organista pelas de um esqueleto. Com uma breve seqüência em cores, essa
produção foi interrompida após nove meses de filmagens e von Stroheim teve que
cumprir ordens do estúdio para realizar uma continuação, utilizando-se como
base material já filmado para esse longa-metragem. Na década de 1950, no
entanto, conseguiu remontar a versão original de seu projeto. Paramount. 117 minutos.
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