O Dicionário Biográfico de Cinema#84: Richard Burton

 



Richard Burton (Richard Walter Jenkins Jr.) (1925-84), n. Pontrhdyfen, Gales

Educado em Port Talbot e Oxford, e na RAF de 1944 a 1947, realizou sua estreia teatral em 1943 e por volta de meados dos anos 50 havia se estabelecido como um dos mais excitantes jovens atores do palco britânico. Sua carreira no cinema havia começado em 1948, com The Last Days of Dolwyn (Emlyn Williams), e fez Now Barrabas Was a Robber (*) (49, Gordon Perry), Waterfront (50, Michael Anderson), The Woman With No Name [A Desconhecida] (51, Ladislas Vajda), e Green Grow the Rushes (51, Derek Twist), antes da Fox chamá-lo a Hollywood. Então, após o ponderadamente romântico My Cousin Rachel [Eu Te Matarei, Querida] (52), Burton estrelou o primeiro filme em Cinemascope, The Robe [O Manto Sagrado] (53) - ambos filmes dirigidos por Henry Koster. Talvez, Burton nunca foi capaz de se livrar da imagem de um Barrymore temporão, e gradualmente sucumbiu a quantidade de dramas de época que foi convidado a interpretar. Isso para não dizer nada de seu encontro com Elizabeth Taylor durante a batalha em Cleopatra [Cleópatra] (63, Joseph L. Mankiewicz), o casamento deles e sua parelha lúgubre  em tantos filmes. Um homem assediado por obstáculos e provavelmente sempre um pouco desdenhoso do cinema, Burton possuía o equipamento, em voz e rosto, demandado pelas telas. Porém uma única vez, e justo em um de seus filmes menos notados, seu talento se apresentou por si próprio: como o oficial fatalista em Bitter Victory [Amargo Triunfo] (57, Nicholas Ray).

Doutro modo, não há muito o que escolher entre seus primeiros romances de época - The Prince of Players [O Gênio da Ribalta] (54, Philip Dunne), Rains of Ranchipur [As Chuvas de Ranchipur] (55, Jean Negulesco), e Alexander the Great [Alexandre Magno] (55, Robert Rossen) - e as encomendas de prestígio internacionais: The Taming of the Shrew [A Megera Domada] (67, Franco Zefirelli); Dr. Faustus [Doutor Faustos], dirigido por Burton e Neville Coghill; e Anne of the Thousand Days [Ana dos Mil Dias] (70, Charles Jarrott). Como todos esses filmes demonstram, Burton estava muito disposto a se vestir e se entregar a uma maneira bastante rasa e grandiosa de atuar. E foi tão evasivo quanto naqueles filmes que foram comercializados como um voyeurismo vicário sobre um dos notórios romances dos anos 60: The V.I.P.S [Gente Muito Importante] (63, Anthony Asquith); The Sandpiper [Adeus às Ilusões] (65), de Minnelli; Who's Afraid of Virginia Woolf? [Quem Tem Medo de Virginia Woolf?] (66), de Mike Nichols; The Comedians [Os Farsantes] (67), de Peter Glenville; e mesmo  Boom! [O Homem que Veio de Longe] (68), de Losey/Tennessee. 

Desde os seus primeiros dias em Hollywood, Burton preservou a ilusão de independência, trabalhando quando queria no teatro, retornando à Inglaterra para uns poucos filmes, e encontrando tempo para assistir partidas de rugby. Porém os filmes raramente se provaram de valor: Seawife [A Intocável] (57, Bob McNaught); Look Back in Anger [Odeio Essa Mulher] (59, Tony Richardson); Doutor Faustos; e Staircase [Os Delicados], de Donen. A medida que Burton parecia fugir de papéis convencionais, ele nunca estabeleceu uma persona cinematográfica firme. Existe apenas lampejos do que poderia ter sido em The Desert Rats [Ratos do Deserto] (53, Robert Wise); Amargo Triunfo; The Bramble Bush [Espinhos da Carne] (60, Daniel Petrie); The Night of the Iguana [A Noite do Iguana] (64), de Huston; The Spy Who Came from the Cold [O Espião que Saiu do Frio] (65), de Martin Ritt; e The Assassination of Trotsky [O Assassinato de Trotski] (72, Joseph Losey). Nos anos 70, permitiu-se a uma série de ineditamente insatisfatórios filmes: Villain [O Vilão] (71, Michael Tuchner); Raid on Rommel [Os Comandos Atacam Rommel] (71, Henry Hathaway); Hammersmith is Out [Unidos pelo Mal] (72, Peter Ustinov); Bluebeard [Barba Azul] (72, Edward Dmytryk); para a TV, o rídiculo Divorce His, Divorce Hers [Divórcio Dele, Divórcio Dela] (73, Warris Hussein), exibido poucas semanas antes dele e Taylor anunciarem uma ruidosa separação; The Journey [A Viagem Proibida] (74, Vittorio De Sica); Rappresaglia [O Carrasco de Roma] (74, George Pan Cosmatos); The Klansman [Os Homens Violentos do Klan] (74, Terence Young); The Medusa Touch [O Toque da Medusa] (78, Jack Gold); The Wild Geese [Selvagens Cães de Guerra] (78, Andrew V. McLaglen); Breakthrough [Ruptura das Linhas Inimigas] (79, McLaglen).

Fama, fadiga e álcool o mantiveram distante das telas por alguns anos e ele retornou com uma nova e desconfortável marca de abatido na terrível tensão de Exorcist II: The Heretic [O Exorcista II: O Herege] (77, John Boorman) e Equus (77, Sidney Lumet), que o trouxe próximo de um Oscar sentimental para a humilhação pública de "...e o vencedor é Richard...Dreyfuss", permitindo-se a sua mais reservada entrega à dor em anos.

Pouco restou nos últimos anos além dos olhos - ainda adoráveis, mas horrorizados, e a voz, que se tornou uma lima de mortificação: Love-Spell [Magia do Amor] (79, Tom Donovan); Circle of Two [Círculo de Dois Amantes] (80, Jules Dassin); Absolution [Absolvição] (81**, Anthony Page); Wagner (83, Tony Palmer)  e Ellis Island (84, Jerry London) para a TV; e o interrogador em 1984 (84, Michael Radford). 

A publicação de seus diários, em 2012, estabeleceu diversas coisas: sua necessidade da bebida, seu amor por Liz e o fato que ele foi um escritor.

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 364-6. 


(*) N. do E: No IMDB, simplesmente Now Barrabas

(**) N. do E.: No IMDB, consta como sendo produção de 1978. 

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