Filme do Dia: Sinfonia de Paris (1951), Vincente Minnelli

 





Sinfonia de Paris (An American in Paris, EUA, 1951). Direção: Vincente Minnelli. Rot. Original: Alan Jay Lerner. Fotografia: Alfred Gilks. Música: Conrad Salinger.  Montagem: Adrienne Fazan. Dir. de arte: E. Preston Ames & Cedric Gibbons. Cenografia: Edwin B. Willis. Figurinos: Orry-Kelly. Com: Gene Kelly, Leslie Caron, Oscar Levant, Georges Guetáry, Nina Foch, Andre Charisse, Magda Blake, Susan Cummins, George Davis, John Eldredge, Anna Q. Nilsson, Rayden Horke.

Jerry Mulligan (Kelly), após servir ao exército americano na Segunda Guerra, decide se estabelecer em Paris e tentar a sorte como pintor, vivendo em uma diminuta água-furtada, e compartilhando suas esperanças e receios com o compositor frustrado Adam Cook (Levant), que possui como amigo Henri Baurel (Guetáry) que, no momento, encontra-se encantado pela vida, pois apaixonado. Mulligan, por sua vez, desperta a atenção da endinheirada Milo Roberts (Foch), que pretende bancar sua carreira, como forma de também possuí-lo. Ele, no entanto, somente tem olhos para a balconista de uma loja sofisticada de perfumes, Lise (Caron) que, mal sabe ele, vem a ser noiva e casará em breve justamente com Henri Baurel.

Essa aparente ciranda do amor imperfeito, com todo o perfeccionismo visual que possua, explorando a extravagante paleta de cores quase como um pré-requisito do gênero, que passava a vivenciar o esplendor nessa década, tornou-se, talvez inadvertidamente, uma das produções referenciais do mesmo, apesar da comprometedora pobreza de seu roteiro que, longe dos momentos inspirados do realizador, como em A Roda da Fortuna, pouco extrai da peça musical original dos Gershwin que o inspirou além de uma pretensiosidade em que o kitsch predomina sobre a inteligência de filmes, como a própria realização de dois anos após de Minnelli ou, em comparação nada favorável, Cantando na Chuva. De fato, produções como essa ou outra de Donen, muito mais modesta que ambas, Um Dia em Nova York (1949), ambas com o mesmo gênio de Kelly, conseguem de longe tirar melhor partido das convenções oferecidas pelo gênero. Sim, há todo o carisma da estreante Caron, trazendo consigo uma ousadia em sua sensualidade e movimentação de pernas no número musical inicial que quase complica a vida dos produtores com os censores. Ao qual se soma, na mesma sequencia, a virtuosidade que faz uso de seu corpo enquanto simula ler um livro.  Também há a energia aparentemente inesgotável de Kelly, não raras vezes nessa produção incorporando poses, danças e mesmo trajes que poderiam flertar com a cultura queer. Há também extravagâncias cenográficas como a sequencia que custou a bagatela de meio milhão de dólares e mais de vinte minutos de metragem de filme, próximo ao final. Um elenco de apoio afinado, capitaneado pelo carismático músico Oscar Levant. Porém não se embarca, de fato, nas histórias amorosas de seus personagens, tão artificiais quanto os seus cenários ou nos números musicais – de canções menos inspiradas que em vários outros do gênero, apesar de serem do repetório dos renomados irmãos Gershwin – corroborando para uma sensação de excessiva sobrevalorização que perdura ao longo do tempo, e sendo também considerado o musical favorito dos quais participou pelo próprio Kelly. Destaque para a presença da apenas instrumental But Not for Me. National Film Registry em 1993. MGM. 114 minutos.

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