The Film Handbook#196: Vittorio De Sica
Vittorio De Sica
Nascimento: 07/07/1902, Sora, Itália
Morte: 17/11/1974, Paris, França
Carreira (como diretor): 1940-1974
De muito louvados como marcos do Neorrealismo, os filmes de Vittorio De Sica revelam um nível de manipulação emocional que demonstra a impossibilidade de se conseguir uma definição única que abarcasse a todos do "movimento" italiano do pós-guerra. O "realismo" dessas produções é controverso, seu tom poético, sua "fé" na gente comum frequentemente pessimista.
Ídolo das matinês nos anos 20 e 30, De Sica foi, portanto, capaz de eventualmente produzir seus próprios filmes. Dirigindo seu primeiro longa em 1940, realizaria com o roteirista Cesare Zavattini, alguns dos mais conhecidos filmes neorrealistas. Tema e estilo se estabeleceram em sua primeira colaboração; A Culpa dos Pais/I Bambini ci Guardano, uma história simples, a respeito do adultério de uma mulher e o posterior suicídio de seu marido, enfatizava personagens da classe trabalhadora, locações reais, interpretações naturalistas e a vulnerabilidade das crianças à corrupção dos adultos. Tudo isso foi trabalhado de forma mais emocional que analítica. Uma crítica ainda mais explícita do pós-guerra, Vítimas da Tormenta/Sciusciá>1 observava a inocência e amizade de dois garotos moradores de rua, destruída pelo envolvimento do irmão mais velho de um dos garotos com o mercado negro e o autoritarismo do reformatório para delinquentes juvenis. De Sica faz uso maciço de atores não profissionais, sendo que seu gosto pelo simbolismo se tornou ainda mais evidente no uso do estimado cavalo dos rapazes para denotar liberdade.
Ladrões de Bicicleta/Ladri di Biciclette>2 novamente faz uso de uma criança, dessa vez para sentimentalizar sua análise dos efeitos humilhantes do desemprego. Buscando por sua bicicleta roubada, empréstimo recente e fundamental para o emprego de seu pai de pregar cartazes, o garoto testemunha a injustiça e o desespero dos subúrbios pobres de Roma. O enredo decepcionantemente simples leva a que o pai, em ato final de desespero, roube ele próprio; seu suposto realismo cotidiano escrupulosamente organizado em imagens melancolicamente poéticas que sugerem a alienação da vida proletária. Apenas o garoto oferece um lampejo de esperança, enquanto as multidões hostis romanas servem para acentuar o esforço do homem em recuperar seu emprego e auto-estima.
Milagre em Milão/Miracolo a Milano descrevia a situação dos pobres e sem moradia em tons enjoativos e caprichadamente fantásticos, suas massas algo momescas defendendo o capitalismo com a ajuda de uma pomba simbólica e vassouras voadoras. Umberto D.>3, no entanto, foi uma história profundamente pessimista da solidão de um velho empobrecido, seus únicos amigos sendo um cachorro e uma empregada jovem, cujo sofrimento é mal percebido pelo protagonista ranzinza. Chamativo pelo seu uso de tempo real mais que fílmico ao apresentar a garota lidando com suas tediosas tarefas domésticas, foi a última colaboração da dupla em uma obra maior neorrealista.
Durante os anos 50 e 60, o diretor se afastou das locações reais, atores não profissionais e comentários sociais em lustrosas farsas satíricas ou melodramas atraentes filmados em estúdio; filmes como Duas Mulheres/La Ciociara, Ontem, Hoje e Amanhã/Ieri Oggi Domani e Matrimônio à Italiana/Matrimonio all'Italiana, frequentemente protagonizados por astros estabelecidos - notavelmente Sophia Loren e Marcello Mastroianni - tratavam de temáticas sexuais com rasa superficialidade. Com o passar do tempo, De Sica parecia crescentemente um artista peso leve levado por sua simpática direção de atores e seu astuto tempo para a comédia rumo a materiais cada vez mais escapistas. Somente nos anos 70, pouco antes de sua morte, retornaria a temas mais políticos, descrevendo o encarceramento de judeus na Itália fascista do pré-guerra em O Jardim dos Finzi Contini/Il Giardino dei Finzi Contini>4 e confrontando os velhos problemas de diferenças de classe e regionais da Itália enquanto reveladas pela visita de uma mulher a um sanatório em Amargo Despertar/Una Breve Vacanza. O primeiro, no entanto, foi decorativo em sua nostalgia roséa e elegância enevoada; a sátira do segundo foi contradita pelos clichês de um subenredo romântico.
Em retrospecto, mesmo a obra neorrealista de De Sica foi desfigurada pelo melodrama; a autenticidade das filmagens em locação sendo minada por tramas esquemáticas e sentimentalidade excessiva. As interpretações soberbamente naturalistas e não profissionais em sua melhor obra, no entanto, transmitem um esmagador poder emocional.
Cronologia
O neorrealismo de De Sica é mais simplista que o de Rossellini; seu senso visual antecipa muitos futuros diretores italianos, notadamente Antonioni e Rosi. Sua obra posterior pode ser comparada a de Dino Risi, Ettore Scola, Mario Monicelli e Luigi Comencini.
Leituras Futuras
Italian Cinema: From Neo-realism to the Present (Nova York, 1983), de Peter Bondanella.
Destaques
1. Vítimas da Tormenta, Itália, 1946 c/Rinaldo Smordoni, Franco Interlenghi, Anielo Mele
2. Ladrões de Bicicleta, Itália, 1948 c/Enzo Staiola, Lamberto Maggioranni, Lianella Carell
3. Umberto D., Itália, 1952 c/Carlo Battisti, Maria-Pia Casilio, Lina Gennari
4. O Jardim dos Finzi Contini, Itália, 1970 c/Dominique Sanda, Lino Capolicchio, Helmut Berger
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 79-80.
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