Filme do Dia: Rio de Lama (1981), Kôhei Oguri

 


Rio de Lama (Doro no Kawa, Japão, 1981). Direção: Kôhei Oguri. Rot. Adaptado: Takako Shigemori, a partir do romance de Teru Miyamoto. Fotografia: Shôhei Andô. Música: Kurôdo Môri. Montagem: Nobuo Ogawa. Dir. de arte: Akira Naitô. Com: Nobutaka Asahara, Takahiro Tamura, Mariko Kaga, Makiko Shibata, Minoru Sakurai, Yumiko Fujita, Gannosuke Ashiya, Masako Yagi.

Japão, 1955. Num país ainda sofrendo com os traumas da Segunda Guerra, Nobuo (Asahara) vive com o pai (Tamura), que já o foi com idade avançada e a mãe, Sadako (Fujita), à margem de um rio, onde sua moradia também serve como pequeno comércio. Certo dia se instala na outra margem uma família que vive numa casa flutuante, cujas duas crianças, Ginko (Shibata) e Kiichi (Sakurai), tornam-se próximas de Nobuo. Eles são apresentados aos pais de Nobuo e o pai demonstra aquiescência na continuidade da amizade, mesmo sabendo da fama da mãe dos garotos, Shoko (Kaga), ser prostituta, apenas advertindo-o a não frequentar o barco da família à noite. Certa noite Nobuo vai até o barco com o amigo e flagra a mãe do garoto prestando serviços sexuais a um cliente. Nobuo foge desconcertado. Pouco depois, sua mãe o alerta que o barco está deixando o seu local, rebocado por outro. Inicialmente pretendendo demonstra indiferença, Nobuo segue-o gritando insistentemente o nome do amigo.

Singela produção nipônica que à sua época concorreu ao Oscar de filme estrangeiro. Talvez seu melhor trunfo seja a afinada interpretação do trio mirim, ao qual nenhum dos três seguiria carreira e a beleza das composições visuais, assim como de sua fotografia em p&b. Seu preciosismo visual, no entanto, choca-se com interpretações quase grosseiramente naturalistas do elenco adulto e repletas de cenas demasiado óbvias, como o canto que Kiichi reproduz do pai e imediatamente afeta o pai de Nobuo, veterano de guerra. A um passo em falso de cair no pieguismo, algo incentivado por sua trilha musical, sua trama também se ressente do acréscimo de motivos do romance perfeitamente desnecessários, como a da ex-mulher do pai que, próxima da morte, deseja conhecer Nobuo, e que nada acrescentam em relação ao núcleo dramático principal. O viés algo naturalista com que o miserabilismo social é descrito que resvala para o seu título em português (tradução fiel do original?), assim como para um universo cruel, onde Nobuo não é poupado de se deparar com a trágica morte de um dos frequentadores do comércio logo ao início é refratado pelo modo como é apropriado pelo subjetivismo sensível e mudo de Nobuo. A representação desse surge algo ambígua no episódio da morte, quando o garoto observa o cavalo que lhe havia sido prometido por brincadeira minutos antes pelo falecido. E irrompe em lágrimas, das quais não se sabe exatamente sob qual propósito quando submetido seguidamente a tortura praticada contra os caranguejos por Kiichi e o sexo praticado pela mãe do amigo, que observa-o desconcertada. O filme, por exemplo, não chega a acenar para uma possibilidade de auto-culpabilização de Nobuo nos episódios envolvendo a morte e o sexo – o fato de ter desejado ser dono do cavalo cujo dono morre em seguida ou vincular a partida da mãe do amigo ao fato de tê-la flagrado com um cliente.  Kimura Prod. para Toei. 105 minutos.

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