Filme do Dia: Paixões Sem Freios (1955), Vincente Minnelli
Paixões Sem Freios (The Cobweb, EUA, 1955). Direção: Vincente Minnelli. Rot. Adaptado: John Paxton & William Gibson, a partir do romance do segundo. Fotografia: George J. Folsey. Música: Leonard Rosenman. Montagem: Harold F. Kress & Conrad A. Nervig. Dir. de arte: E. Preston Ames & Cedric Gibbons. Cenografia: F. Keogh Gleason & Edwin B. Willis. Figurinos: Helen Rose. Com: Richard Widmark, Gloria Grahame, Charles Boyer, Lauren Bacall, Lilian Gish, John Kerr, Susan Strasberg, Oscar Levant, Paul Stewart.
Numa clínica psiquiátrica de luxo, o
Dr. McIver (Widmark) realiza um ousado tratamento experimental que dá uma
liberdade relativamente grande para seus pacientes. Sua vida pessoal e
profissional, no entanto, está longe da calmaria com o sócio alcoólatra Devanal
(Boyer) e a fútil esposa Karen (Grahame). McIver se aproxima da sensual Meg
(Bacall), no ápice da crise, em que seu paciente mais próximo, Steven Holte
(Kerr), desaparece e é dado como afogado, tudo parece fora do controle na
própria clínica e a mulher se digladia com uma funcionária influente, Vicky
Inch (Gish).
Minnelli, com ingredientes semelhantes
aos que alguns de seus contemporâneos extraíram obras-primas, ao mesmo tempo
efetivando uma crítica social da sociedade norte-americana como um todo, como
Douglas Sirk ou – ainda mais próximo da proposta do filme em questão – Nicholas Ray (Delírio da Loucura), não
consegue ir além do melodrama mal ajambrado. De fato, fragmentado como é entre
tramas secundárias que não dizem exatamente a que vieram e personagens que não
fariam falta a sua trama, sintomático de adaptações que aparentemente querem
ser “fiéis” a estrutura romanesca na qual se apoiam, essa dependência excessiva
se torna ineficaz, mesmo prejudicial para uma sucessão de clichês e momentos
francamente constrangedores com atores que poderiam ter sido bem melhor
aproveitados, notadamente Bacall soluçando dentro do carro após discutir sua
recém-iniciada relação com o casado McIver em meio aos holofotes e equipes
policiais que buscam o suicida Holte, vivido pelo mesmo Kerr, em sua estreia,
uma espécie de aprendiz de James Dean (que havia sido, inclusive, a escolha
original) em seu foco por jovens adultos problemáticos (no filme seguinte de
Minnelli, Chá e Simpatia, viverá o
jovem homossexual atormentado). Ou ainda a veterana Gish vivendo uma reprimida,
amarga e insolente solteirona. E se os tiques dramáticos de Kerr soam
demasiadamente típicos de sua época, o que não dizer de uma Grahame particularmente caricata com seu
enjoativo sotaque e ninfomania – termo utilizado pelo próprio Holte/Kerr para
descrevê-la – reprimida, encontrando motivos para seduzir, mas interrompendo
sua ação a meio caminho? O meio caminho significa um evidente aceno para sua
“rehabilitação” para com o marido, e pretensamente o espectador, em seu inconvincente
arranjo final, esse igualmente típico da época e ao qual não escapava o próprio
Sirk. Widmark, habitual vilão em filmes noir, sai-se melhor encarnando
aqui o herói que sabe de seus limites e que chega a se equiparar ao
incompetente Devanal de Boyer. Criam-se situações em que os ditos “sãos” são
tão ou mais atormentados que seus pacientes, e no caso de alguns dos últimos
parece soçobrar uma reserva de felicidade e superação que aos primeiros é
negado e somente conseguido através do imperativo aceno de final feliz, mais
convenção narrativa que qualquer outra coisa. O envolvimento afetivo entre
Holte e uma paciente da mesma clínica antecipa situações que serão exploradas
mais aproximadamente pelo cinema americano em filmes como David e Lisa (1960). Há referências a vários pintores, dentre eles
Van Gogh, sobre quem o diretor dirigiria pouco depois Sede de Viver. Embora Bacall seja creditada antes de Grahame, sua
participação no filme é bem menor, tendo sua primeira fala após mais de vinte
minutos de iniciado o mesmo. MGM. 134
minutos.
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