Filme do Dia: A Gôndola do Diabo (1946), Carlo Campogalliani

 


A Gôndola do Diabo (La Gondola del Diavolo, Itália, 1946). Direção: Carlo Campogalliani. Rot. Original: Carlo Campogalliani & Marcelo Pagliero, a partir do argumento de Max Calandri. Fotografia: Mario Albertelli & Antonio Marzari. Música: Umberto Mancini. Montagem: Eraldo Da Roma. Dir. de arte: Luigi Scaccianoce & Ottavio Scotti. Com: Alfredo Varelli, Loredana, Carlo Lombardi, Emilio Spalla, Nino Pavese, Flora Marino, Letizia Quaranta, Giorgio Piamonti, Carlo Micheluzzi.

Veneza, século XVI. Uma série de assassinatos ocorre em poucos dias na cidade. Cria-se uma mística sobre a gôndola do diabo, que surgiria e desapareceria como que por encanto.  Paolo Venier (Varelli), querido jovem de uma família nobre, apaixona-se pela plebeia Marina (Loredana), filha do gondoleiro Marco (Spalla). Uma das vítimas dos crimes vem a ser justamente o pai de Paolo, Alvise (Piamonti). Paolo fora seduzido por Imperia (Marino), que é apaixonada por ele e não concorda com o crime, cometido por seu próximo, o enviado estrangeiro grego Stelio Ricunis (Lombardi). Quando Imperia marca um encontro com Paolo para lhe contar tudo, é morta próxima a ela e ele, flagrado diante de seu cadáver, tido como seu assassino. O próprio Ministro da Justiça (Micheluzzi), no entanto, não acredita que tenha sido ele. Marina, desconfiada do próprio pai, vai chorar sua inocência junto à mãe de Paolo (Quaranta). Ela se torna prisioneira do pérfido Stelio numa estalagem, mas Paolo surge e a liberta. Após um confronto na espada com Stelio, Paolo o desarma, mas sua morte é poupada por Marco, que quer que ele esclareça sobre as outras mortes. Enquanto Stelio é decapitado em praça pública, celebra-se o casamento de Paolo e Marina.

Baseado em uma lenda medieval e seguindo meio que à risca todos os clichês do gênero, ainda assim –e no auge da descoberta internacional do neorrealismo – sobra um sopro de vitalidade nessa produção, sobretudo em sua primeira parte, ainda menos engajada na convencional trama e não só disposta mas conseguindo de fato recriar a atmosfera de uma Veneza repleta de tipos, galanteios, lubricidade quase shakespeariana e intrigas. Em parte, tal resultado é conseguido graças ao elenco – com exceção da falta de vitalidade dramática da heroína vivida por Loredana, ela própria veneziana. Em parte ao dinâmico trabalho de câmera e boa utilização da cenografia e das locações, sem cair no risco do exagero. O fato do único efetivo vilão ser estrangeiro – Imperia pode ser uma mulher dissoluta e independente, mas se redime no momento em que se apaixona por Paolo, provocando justamente sua morte – possui um efeito de alívio sobre a comunidade, após um momento de incerteza, no qual a própria mocinha duvidara da integridade do pai. As virtudes dos heróis, de uma maneira geral, não precisam ser postas à prova, assim não existe nenhum movimento efetivo que se oponha a Paolo, nem tampouco nenhuma restrição, mesmo que inicial, de uma aristocrata de renomada família aceitar em sua família a filha de um trabalhador braçal. Campogalliani era especialista na direção de aventuras como essa ou O Espadachim de Veneza (1941) e mesmo quando enveredava pelo melodrama contemporâneo, caso de um de seus filmes mais conhecidos (Il Treno Crociato, 1943), o resultado tampouco era alentador. Essa versão parece se encontrar longe de completa, já que existe fontes que afirmam sua duração ser mais de 40 minutos mais longa.  Curiosamente, quando da escrita dessa resenha, os dois atores principais se encontravam ainda vivos, com 100 e 90 anos respectivamente. Scalera Film S.p.a. 84 minutos.

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