Filme do Dia: Winter, o Golfinho 2 (2014), Charles Martin Smith

 


Winter, o Golfinho 2 (Dolphin Tale 2, EUA, 2014). Direção: Charles Martin Smith. Rot. Original: Charles Martin Smith, Karen Janszen & Noam Dromi. Fotografia: Daryn Okada. Música: Rachel Portman. Montagem: Harvey Rosenstock. Dir. de arte: David J. Bomba & Mark Garner. Figurinos: Hope Hanafin. Com: Nathan Gamble, Ashley Judd, Cozi Zuehlsdorff, Harry Connick Jr.,  Morgan Freeman, Bethany Hamilton, Kris Kristofferson, Julia Winter, Austin Stowell.

Sawyer (Gamble) é um garoto que trabalha em um parque aquático que abriga temporariamente criaturas marinhas. Sua favorita é Winter, uma fêmea que não possui a nadadeira e que ocasionalmente utiliza uma prótese. Sawyer é muito próximo da filha do dono do parque, a garota Hazel (Zuwhlsdorff), que também possui o mesmo encanto pelos golfinhos. Um golpe os abate, a morte por velhice de uma fêmea, que era companheira de Winter, Panamá. A morte eminente de Panamá provoca uma mudança de comportamente em Winter, que pela primeira vez é agressiva com Sawyer. Ao mesmo tempo, sua mãe (Judd) acena para a possibilidade de Sawyer prosseguir seus estudos com uma bolsa numa escola de Boston. Porém, a situação de deixar Winter deprimida – as fêmeas de golfinhos necessitam de uma companheira do mesmo sexo – já que a sua possível parceira, torna-se apta a retornar ao mar, deixa-a apreensiva. Quando tudo parecia perdido, um filhote de golfinho do sexo feminino é encontrada encalhada na praia. Dada a sua tenra idade, não mais poderá se adaptar e retornar ao mar, portanto tornando-se a companheira ideal para Winter, caso ocorra um entrosamento entre as duas. A primeira tentativa demonstra ser fracassada. Na segunda, diante de uma ansiosa plateia distribuída parte no aquário, parte fora desse, o sucesso é garantido. Sawyer, portanto, pode partir para aprimorar seus estudos em Boston.

Partindo do habitual mote de “baseado em fatos reais”, essa continuação com uma produção de três anos antes, do mesmo realizador, é um acachapante compósito de clichês narrativos com algumas atualizações para se adequar às sensibilidades contemporâneas ao seu lançamento – assim não se trata mais de animais pertencentes a um parque aquático convencional tais como na série Flipper, ainda que ao final de contas sua protagonista (e a que lhe irá fazer companhia) sejam. Do mesmo modo, o próprio Sawyer não deixa de lembrar, em mais de um momento, que se tratam de animais selvagens, por mais dóceis que possam parecer, portanto capazes de gestos inesperados, assim como não se saber ao certo se compartilham de inteligência e sentimentos, ainda que também nesse quesito acabe se comprovando mais como retórica vazia que as próprias situações do filme farão questão de não deixar tanto espaço assim para que se pense o oposto. Embora, verdade seja dita, tampouco com a mesma carga de antropormofismo inerente a aproximações semelhantes pelo cinema anteriormente, mesmo que “planos subjetivos” do golfinho se encontrem presentes em vários momentos. Existe uma profusão de personagens que bem poderiam ser limados sem grande prejuízo do roteiro e se é certo que alguns dos clichês mais abusados como o que contrapõe os interesses financeiros ao da pesquisa e preocupação com os animais seja explorado, não chega a virar exatamente um cavalo de batalha dramático, recebendo uma porção relativamente marginal diante da trama como um todo. Se o garoto ainda consegue dar conta de seu papel de forma digna e fugindo do sentimentalismo demasiado excessivo, o mesmo não pode se dizer de sua contraparte feminina, em boa parte do tempo âs lágrimas com todo tipo de situação. A facilidade com que tudo se encaixa ou não, de acordo com o ritmo de avanço narrativo chega a ser canhestro quando comparado mesmo aos padrões do cinema clássico de décadas atrás. Se algumas imagens do “casal” de garotos a partir da perspectiva submarina imediatamente suscitam aproximações com A Lagoa Azul, logo se perceberá o contraste por conta da assexualidade com que ambos são descritos pela câmera, assim como na interação cotidiana. Não falta o contato com o público através da figura de um pelicano (digitalizado) aloprado que possui obsessão por uma tartaruga encontrada e posteriormente liberta.  Ao final,  as já obrigatórias “imagens reais” equivalentes a muitas das situações dramatizadas pelo filme. Morgan Freeman surge como personagem coadjuvante que traz “muletas” para golfinhos e também para garotos indecisos quanto ao seu futuro, na cena talvez mais pífia do filme, quando  aconselha Sawyer sobre o mundo ser maior do que podemos imaginar. Algo nada muito distante da “originalidade” da própria frase preferida de seu protagonista, que faz referência a uma porta que se abre sempre que se fecha outra. Bethany Hamilton, surfista que se tornou famosa por ter um braço arrancado por um tubarão surge em alguns momentos, como o de um nado com a também deficiente Winter. Alcon Ent.\Boxing Cat Films\Color Force para Warner Bros. 107 minutos.

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