Filme do Dia: Adeus, Meninos (1987), Louis Malle

 


Adeus, Meninos (Au revoir les enfants, França/Alemanha, 1987). Direção e Rot.Original:Louis Malle. Fotografia: Renato Berta.  Montagem: Emmanuelle Castro. Dir. de arte: Willy Holt. Figurinos: Corinne Jorry. Com: Gaspard Manesse, Raphael Fejtö, Francine Racette, Stanislas Carré de Malberg, Philippe Morier-Genoud, François Berléand, François Négret, Benoît Henriet, Irène Jacob.

Na França dominada pelo exército nazista de 1944, em uma estação ferroviária, o jovem Julien (Manesse) não consegue esconder o choro por ter que se separar da mãe (Racette) para ir estudar em um colégio interno católico. Também vai com ele seu irmão mais velho, François (Malberg). No colégio, chega por último um jovem de nome Bonnet (Fejtö), que se torna a vítima principal das brincadeiras dos outros alunos, por sua reserva, predileção pelos livros aos esportes, não receber visitas e por não ir às missas, afirmando-se protestante. Extremamente curioso com relação ao colega, com quem divide as atenções dos professores, e é inferior em termos de cultura musical, Julien acaba descobrindo ser ele judeu. Participando entusiasmado de uma competição escolar, Julien encontra o tesouro, embora se perca do restante da turma. Encontrando com Bonnet, vagam perdidos até serem recolhidos por um soldado do exército alemão. Na enfermaria, Julien briga com Bonnet ao revelar que sabe sobre sua verdadeira identidade. Quando sua mãe o visita e o leva para almoçar com o irmão, Julien chama Bonnet e o defende das curiosidades da mãe. Ocorre um momento de tensão no restaurante, particularmente perceptível para ambos, quando um cliente tradicional  é intimado a sair na frente de todos por ser judeu. Uma investida de soldados alemães procurando judeus invade o colégio e, embora tentem esconder Bonnet na enfermaria, esse é descoberto e tornado prisioneiro com outros dois colegas e um padre que lá lecionava. Os garotos, assustados, se despedem do professor.

Contando uma história simples, sobre um episódio histórico marcante do século a partir de uma perspectiva profundamente pessoal e do ponto de vista ambíguo (da criança que era no período, como também subrepticiamente do adulto que rememora e dá ordem a tudo que era confuso então), Malle conseguiu realizar um filme envolvente. As fraquezas consistem nos raros momentos em que um excesso de lirismo é deliberadamente imposto para se tornar um filme “sensível e tocante” ou que há uma gravidade que soa empostada, porém longe de um sentimentalismo fácil como das adaptações da literatura infanto-juvenil de Marcel Pagnol por Yves Robert, em A Glória de Meu Pai e O Castelo de Minha Mãe ou de um psicologismo pretensioso como o de Eu Sou o Senhor do Castelo, de Wargnier, produzidos, da mesma maneira, entre o final da década de 80 e o início da seguinte. Algumas conhecidas práticas da França à época são entrevistas em pequenas cenas ou detalhes, como a presença do mercado negro, representado pelo ajudante de cozinha Joseph, que vem a ser despedido, quando flagrado pelos padres, e a divisão da população entre resistentes e colaboradores - no momento em que Bonnet é preso, Julien afirma que foi a enfermeira que o denunciou aos soldados alemães. O plano final, narrado pelo próprio cineasta, em que afirma que jamais esquecerá a cena do amigo sendo levado pelos nazistas até o dia de sua morte, é um emocionado testemunho pessoal de um momento histórico marcante, como raras vezes encontrado no cinema. Tanto em termos formais quanto de conteúdo o filme é grandemente clássico, quando comparado a alguns títulos de destaque da filmografia de Malle como Ascensor para o Cadafalso (1958) e Meu Jantar com André (1980). Leão de Ouro no Festival de Veneza. MK2 Productions/ NEF Filmproduktion/ Nouvelles Éditions de Films/ Stella Films . 103 minutos.

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