Filme do Dia: Children (1976), Terence Davies


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Children (Reino Unido, 1976). Direção e Rot. Orignal: Terence Davies. Fotografia: William Diver. Montagem: Sarah Ellis & Digby Rumsey. Com: Phillip Mawdsley, Valerie Lilley, Nick Stringer, Robin Hooper, Trevor Eve, Elizabeth Estensen, Harry Wright, Phillip Joseph.
Criança que é vítima de maus tratos na escola, Tucker (Mawdsley) enfrenta uma situação também problemática em casa, com uma mãe nervosa (Lilley) e um pai (Stringer) enfermo que a espanca e acaba morrendo. Tucker, que se sente instintivamente atraído por homens e teve uma formação educacional e disciplinar bastante rígida, apela, quando maior, para encontros furtivos.
A economia de gastos da produção se afina muito bem com o estilo distanciado, mas igualmente vigoroso, com que Davies traça sua narrativa autobiográfica. O que torna o filme mais pungente é justamente o modo distanciado com que toda a narrativa, sempre sob a perspectiva do garoto/jovem adulto, edifica-se. Com excelente senso de enquadramento, corte seco e interpretações contidas, o realizador consegue expressar em imagens toda a dimensão de sofrimento e culpa, de viés grandemente cristão, que de hinos e rezas decorados automaticamente na violenta escola se materializam na sua precoce e traumática relação com a morte e a sexualidade. Os hinos católicos que esporadicamente surgem na banda sonora acabam  ao mesmo tempo acentuando a dimensão distanciada e reforçando a atmosfera de culpa que vai construindo seu protagonista. O fato de não lidar tampouco com atores de renome auxilia na construção do universo retratado, ao mesmo tempo peculiar e extremamente universal. O filme se interessa mais por situações do que propriamente diálogos ou ações de causa e efeito da dramaturgia convencional.  O modo como os flashbacks se entrelaçam, mesmo que motivados ocasionalmente como sendo “memórias” do jovem adulto se encontram longe de serem justificados apenas enquanto tal, não existindo tampouco uma preponderância de uma narrativa “partindo do presente” – o filme finda com uma imagem “do passado”. É a presença da morte, no entanto, mais do que da sexualidade, que se torna mais premente no filme, dada a extensão de tempo que ganha a morte do pai de Tucker e os acontecimentos que se sucedem que vão desde a satisfação e posterior culpa pela satisfação sentida com a morte do pai até o medo de se encontrar sozinho no mesmo espaço onde presenciou o cadáver do pai morto. A contenção dramática aqui observada, nesse média metragem que compõe um tríptico que talvez seja a obra-prima do realizador, foi cedendo posteriormente a incursões dramáticas mais convencionais em filmes de maior orçamento tais como A Bíblia de Neon (1995). O fato de ter realizado apenas 8 filmes em mais de três décadas de carreira também sinaliza para certo comprometimento artístico. Destaque para a impressionante imagem final que parte de mãe e filho na janela e progressivamente vai se ampliando até a imagem do carro fúnebre envidraçado ganhar proeminência, porém não deixando de refletir mãe e filho por trás. Assim como o plano-sequência de mais de dois minutos em que mãe e filho andam de ônibus e a primeira começa a chorar. BFI. 41 minutos.

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