Filme do Dia: Sangue Mineiro (1929), Humberto Mauro


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Sangue Mineiro (Brasil, 1929). Direção e Rot. Original: Humberto Mauro. Fotografia: Edgar Brasil. Com: Carmen Santos, Nita Ney, Luiz Soroa, Maury Bueno, Máximo Serrano, Fantol, Rosendo Franco, Augusta Leal, Adhemar Gonzaga, Elie Sori.
         Em noite de São João, Carmen (Santos), filha adotiva do empresário Juliano Sampaio (Fantol), tenta o suicídio após perceber que seu amor, Roberto (Soroa), encontra-se nos braços de sua irmã, Neusa (Ney). Ela é socorrida por dois rapazes, Cristóvão (Bueno) e Max (Serrano), que voltam de uma noitada de farras e é levada para a fazenda de Acaba Mundo, onde é acolhida como filha pela matriarca Martha (Leal). Carmen desperta o amor tanto no jovem intempestivo e fanfarrão Cristóvão, inconsequente moço da cidade, quanto no seu ajuizado primo Max. Após a descoberta pela família Sampaio de que Carmen se encontra em Acaba-Mundo, Neusa vai visitá-la e pede que ela retorne ao lar, afirmando que nada mais existe entre ela e Roberto. As investidas grosseiras de Cristóvão sobre Carmen, por sua vez, provocam uma briga entre os primos. Roberto procura Carmen e lhe pede perdão, mas Carmen recusa, aceitando o pedido de desculpas de Cristóvão, com quem se casa. Roberto, vítima de acidente de carro quanto retorna de Acaba-Mundo, volta para Neusa, com quem também se casa. Quanto a Max, não possui outro consolo que ser arrimo de família para a velha mãe e o irmão mais jovem, Tuffy (Sori).
           Última produção de Mauro em Cataguazes, o filme retoma elementos de seus filmes anteriores, como o rapaz bonachão e irresponsável que se redime graças a força redentora do amor, também presente em Brasa Dormida, a oposição entre o elemento urbano e o provinciano, aqui sobretudo marcante na caracterização dos dois primos e uma certa impetuosidade do amor viril provocado pelos encantos femininos, que voltará a ser explorada com maior êxito em Ganga Bruta (1932). Como já observado, a narrativa em grande parte ocorre sob a espreita de olhares que observam com atenção o desenrolar da trama afetiva, tão testemunhas oculares quantos nós espectadores. Poucas vezes tal observação produz uma intervenção direta, como a que Max efetiva contra o primo, no episódio do assédio a Carmen. Embora muito se tenha dito a respeito da simpatia de Mauro pelos valores provincianos de um Brasil Profundo é, no mínimo, paradoxal que a heroína escolha casar com o tipo que é o oposto desses valores. De todo modo, a seqüência final, mesmo apontando para o casamento entre Cristóvão e Carmen enquanto indicativo de um “final feliz”, trai não menor ambiguidade quando a heroína suspira dizendo-se saudosa de Acaba-Mundo, logo após receber uma carta de Max. No momento em que o Brasil principiava um processo de industrialização de modo mais efetivo, tal situação parece remeter a uma precoce nostalgia pelos valores “autênticos” do campo. Alguns entretítulos de certa pomposidade literária se contrapõem aos que não são mais que diálogos de cunho realista, que felizmente predominan. Phebo Brasil Film. 82 minutos.

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