The Film Handbook#195: Dziga Vertov

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Dziga Vertov
Nascimento: 02/01/1896, Byalistok, Polônia
Morte: 12/02/1954, Moscou, URSS
Carreira (como diretor): 1918-54

Apesar da maior parte de sua obra ser raramente exibida, pode-se afirmar que basta se assistir um único filme de Vertov (nascido Denis Arkadievitch Kaufman) para reconhecê-lo como um dos maiores inovadores do cinema. Um teórico inflamado e um militante proponente de novas e revolucionárias formas de realização, merece plenamente sua reputação enquanto documentarista pioneiro e também, talvez, um dos primeiros modernistas do cinema.

Irmão de Boris e Mikhail Kaufman (ambos se tornariam cinegrafistas), Vertov cunhou seu pseudônimo (grosseiramente traduzido como pião giratório) pouco antes da Revolução de 1917, quando já fazia experimentações com a montagem sonora. Tragado pelo enorme fervor artístico que acompanhou a vitória bolchevique, em 1918 foi convidado por Lev Kulechov para trabalhar como roteirista, montador e supervisor dos Cinejornais Semanais, os primeiros da União Soviética. Quase imediatamente Vertov revelou um interesse na manipulação de atualidades através da montagem, e nos próximos anos, no filme de compilação Anniversary of the Revolution/Istoriya Grazdanskoy Voyny em suas experiências com os ambulantes agit-trens (que levavam notícias e propaganda para, e documentavam as vidas das massas russas) e na série de cinejornais Kino-Pravda (Cinema-Verdade), constantemente refinou suas ideias e sua técnica. Hostil à ficção, desenvolveu a teoria da câmera-olho, argumentando que a máquina poderia observar e registrar coisas muito mais claramente que o olho humano; mas, ao mesmo tempo, enquanto frequentemente  utilizava uma câmera escondida - então inovadora por si própria - experimentava mais e mais técnicas de montagem variadas, que serviam tanto para tornarem seus filmes mais revigorantes, como para destacar a participação e o papel revolucionário do realizador e sua câmera.

Foi após Soviet Toys/Sovetskie Igrushki>1 (o primeiro filme soviético de animação e um curta enérgico e satírico sobre o capitalismo), Cinema-Olho/Kinoglaz e A Sexta Parte do Mundo/Shestaya Chast Mira>2, que celebrava a enorme diversidade e recursos russos que Vertov realizaria sua obra-prima, O Homem com a Câmera/Chelovek s Kinoapparatom>3. Em um nível, o filme é um retrato lírico de um dia na vida de uma cidade soviética; noutro, um surpreendente manifesto vanguardista da capacidade do cinema de registrar - e transformar - a realidade. Tela dividida, câmera rápida e lenta, sobreposições e montagem subliminarmente rápida são utilizadas não enquanto mera trucagem mas sim como hino à versatilidade do cinema; ainda mais surpreendente, Vertov literalmente (através da animação) faz sua câmera andar sob seu tripé, e volta-se ao longo de todo o filme para uma meditação auto-reflexiva sobre sua própria gênese ao apresentar o cinegrafista e a montadora trabalhando, e a plateia do cinema assistindo a cenas do próprio filme. O resultado final é engenhoso, empolgante e intelectualmente provocativo.

Com o advento do som, Vertov provou-se igualmente ambicioso em seu uso do som sincronizado e não sincronizado; mas após Entusiasmo/Entuziazm e Réquiem a Lênin/Tri Pesne o Lenine, tornou-se vítima do conservadorismo artístico do stalinismo e realizou seu último longa-metragem, Lullaby/Kolybelnaya, em 1937. Desde então, até sua morte, seria reduzido a trabalhar em cinejornais comparativamente convencionais, muitos em colaboração com Yelizaveta Svilova, sua esposa e montadora de longo tempo.

A importância de Vertov enquanto pai fundador do documentário e influente teórico - em termos de sua análise da relação entre a câmera, seu objeto e o espectador - não é meramente histórica. Seus melhores filmes ainda permanecem excitantes exemplos do modo pelo qual a arte cinemática pode transcender e revitalizar a mera observação da vida cotidiana e as demandas da propaganda política.

Cronologia
Ele próprio influenciado por Maiakovski e Kulechov, Vertov pode ser favoravelmente comparado a Eisenstein ou Pudovkin, embora seu estilo seja bem distante da poética de Dovjenko. Suas ideias ecoaram em Brecht, e sua influência em documentaristas como Chris Marker, Jean Rouch e Pennebaker, para não falar de Godard e Jean-Pierre Gorin (que colaboraram enquanto Grupo Dziga Vertov) é enorme.

Leituras Futuras
Kino (Londres, 1960), de Jay Leyda, Documentary (Nova York, 1974), de Erik Barnouw, Non-Fiction Film (Londres, 1974), de Richard Meran Barsam. Alguns dos próprios escritos teóricos de Vertov podem ser encontrados em Cinema in Revolution (Londres, 1973).

Destaques
1. Soviet Toys, URSS, 1924

2. A Sexta Parte do Mundo, URSS, 1926

3. O Homem com a Câmera, URSS, 1929

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 291-3.


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