Filme do Dia: A Casa Sinistra (1932), James Whale
A
Casa Sinistra (The Old Dark House,
EUA, 1932). Direção: James Whale. Rot. Adaptado: Benn W. Levy & R.C.
Sheriff, baseado no romance Benighted,
de J.B. Priestly. Fotografia: Arthur Edeson. Música: David Broekman. Montagem:
Clarence Koelster. Cenografia: Charles D. Hall. Com: Boris Karloff, Melvyn Douglas,
Charles Laughton, Lilian Bond, Ernest Thesiger, Eva Moore, Raymond Massey,
Gloria Stuart, Elspeth Dudgeon, Brember Wills.
Um grupo de pessoas se vê forçado a pedir hospedagem em uma
casa sinistra em meio a uma forte tempestada que impediu a continuação de sua
viagem, numa região remota do País de Gales. Eles são estranhamente
recepcionados pelo mordomo mudo Morgan (Karloff) e pela quase surda Rebecca
Femm (Moore), irmã do não menos excêntrico Horace (Thesiger). Fazem parte do
grupo o milionário Sir William Porterhouse (Laughton) que vive um casamento de
aparências com a corista Gladys Perkins (Bond), Roger Penderel (Douglas) e o
casal Philip (Massey) e Margaret Waverton (Stuart). O grupo começa aos poucos a
descobrir os riscos que se escondem na sinistra casa, com um alcoolizado Morgan
e a descoberta do inválido Sir Roderick (Dudgeon) e de um filho que sempre é mantido
trancado no quarto, Saul Femm (Wills), perigoso psicopata.
Filme do melhor – e breve – momento da carreira de Whale,
onde toda a construção atmosférica que se tornará marca registrada de um gênero
se torna aqui aliada de uma sutil ironia, que não apenas troça com o próprio
gênero (de um modo bem mais oblíquo e talvez interessante que as releituras
abertamente cômicas de décadas após como A Dança dos Vampiros ou O Jovem
Frankenstein) como ainda faz menção explícita a sexualidade de um modo
bastante ousado. Nesse último sentido, encontra-se tanto a bestialidade de
Morgan atacando Margaret, releitura de uma seqüência semelhante de O Cão Andaluz, como a referência de um
casamento de conveniência de Sir William, apenas para que “não pensem que se
trata de um gay”, como adverte sua própria esposa, que afirme que eles não
praticam nada além da amizade. Tampouco faltam momentos inspirados de uma
atmosfera sombria construída sobretudo a partir de elementos relativamente
simples como os diálogos completamente surreais entre Saul e Roger ou – e
principalmente – a sucessão rápida de planos nos quais o riso “cacarejante” de
Rebecca, assim como a inversão de sua
imagem em cantos opostos do quadro provoca um efeito bizarro. Ou ainda a
utilização do estranho a partir de um deslocamento de gêneros – o personagem do
pai solitário, com maquiagem carregada e relativamente bem cuidada, foi vivido
por uma atriz, daí sua voz ser tão fina quanto a “de uma criança”, como
acreditam os personagens antes de encontrá-lo. Foi refilmado, com o mesmo
título original, por William Castle, em 1963. Os elementos cômicos se
encontrarão mais evidentemente presentes em produções posteriores dirigidas por
Whale, como A Noiva de Frankenstein.
Destaque para a irônica nota inicial que afirma ser Karloff o mesmo que atuara
como monstro em Frankenstein (1931),
antecipando-se portanto a desfazer qualquer polêmica. Assim como o momento em
que Laughton, em seu primeiro filme americano, canta Singin´ the Rain duas décadas antes da canção virar título do
célebre musical de Stanley Donen. Foi dado como perdido por muitos anos.
Universal Pictures. 72 minutos.
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