Filme do Dia: Eu Só Quero que Vocês Me Amem (1976), R.W. Fassbinder

Eu Só Quero que Vocês Me Amem (Ich Will Dog Nur, Dass Ihr Mich Liebt, Alemanha, 1976). Direção: Rainer Werner Fassbinder. Rot. Adaptado: Rainer Werner Fassbinder, adaptado do livro Lebenslaenglich, de Klaus Antes & Christiane Erhardt. Fotografia: Michael Ballhaus. Música: Peer Raben. Montagem: Liesgret Schmitt-Klink. Dir. de arte: Kurt Raab. Com: Vitus Zeplichal, Elke Aberle, Alexander Allerson, Erni Mangold, Johanna Hofer, Katherina Buchhammer, Wolfgang Hess, Armin Meier, Erika Runge, Ulrich Radke.
Diante de uma escritora (Runge), Peter (Zeplichal) relembra toda sua vida e os motivos que o levaram à prisão. Trabalhando incansavelmente na construção de uma casa para satisfazer o pai (Allerson) e a mãe (Mangold), Peter decide casar-se com Erika (Aberle), e mudar para Munique. Tendo que se esforçar tenazmente como mestre-de-obras para poder pagar o aluguel de um apartamento com o mínimo de luxo, Peter terá que multiplicar seus esforços após a chegada da esposa e o nascimento do filho. Porém, querendo satisfazer a esposa nos mínimos detalhes, como anteriormente o fizera com os pais, compra presentes extravagantes e se endivida cada vez mais. A figura do pai começa a se tornar recorrente em algumas pessoas que observa e a labuta não consegue ser interrompida completamente nem nas férias, já que ele retorna ao trabalho pouco tempo depois, para cumprir novas dívidas. Certo dia, ao ver o vendedor que costuma comprar cerveja discutir com um cliente jovem, acredita ser seu pai e o assassina.
              Nesse filme, realizado já sob evidente influência do melodrama sirkeano, porém em chave mais pessoal que suas realizações posteriores e mais estilizadas, o cineasta consegue traçar um dos retratos mais penetrantes de esquizofrenia já vistos nas telas, transformando o contemporâneo O Inquilino, de Polanski, que retrata um caso similar, numa caricatura de mau gosto. O sucesso do filme se encontra tanto na sutil representação dos delírios do protagonista quanto na elaborada teia que mescla na motivação de seu surto tanto o peso inegável dos mecanismos de controle social (proporcionar a mulher o que todas as outras possuem) quanto pessoais (a transferência para a figura da mulher do desejo de agradar para ser amado que lhe foi negado pelos pais). E não menos importante é a interpretação estupenda de Zeplichal. O uso do flashback é pouco ortodoxo, pois a narrativa já inicia diretamente com algumas recordações do futuro preso e, da mesma forma,  antecipadamente apresenta em breves planos o assassinato, que será desdobrado posteriormente no momento que o protagonista a ele se refere. Anteriormente o cineasta já havia empreendido um estudo semelhante, sobre a loucura presente no seio da mais absoluta “normalidade” cotidiana em Por Que Deu a Louca no Sr. R? (1970), como se com ambos os filmes o que apontasse é  que a sociedade se encontra doente, sendo os indivíduos em crise, peças necessárias para que, com o seu contraponto, o mecanismo social continue inquestionável na sua aparente normalidade. Curiosamente, como muitos de seus outros filmes, um paralelo pode ser traçado com Uma Jovem Tão Bela como Eu (1972), de Truffaut, que apresenta sob forma cômica as narrativas de uma assassina para um sociólogo. Bavaria Atelier GmbH. 104 minutos.

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