Filme do Dia: Trumbo: Lista Negra (2015), Jay Roach



Trumbo: Lista Negra (Trumbo, EUA, 2015). Direção: Jay Roach. Rot. Adaptado: John McNamara, a partir do livro de Bruce Cook. Fotografia: Jim Denault. Música: Theodore Shapiro. Montagem: Alan Baumgarten. Dir. de arte: Mark Ricker, Lisa Marinaccio & Jesse Rosenthal. Cenografia: Cindy Carr. Figurinos: Daniel Orlandi. Com: Bryan Cranston, Diane Lane, Louis C.K., David Maldonado, Helen Mirren, Michael Stuhlbarg, Elle Fanning, John Goodman, Roger Bartm Dean O’Gorman, Christian Berkel, David James Elliot, Madison Wolfe, John Getz, James DuMont, Alan Tudyk, Richard Portnow, Adewale Akinnuoye-Agbaje.
Dalton Trumbo (Cranston), então roteirista mais bem pago de Hollywood, após o final da Segunda Guerra Mundial, rapidamente cai em desgraça junto aos estúdios por ser filiado ao Partido Comunista. A pressão de nomes dentro da própria indústria como o da colunista Hedda Hopper (Mirren) e do ator John Wayne (Elliot), somado a investigação empreendida pelo senador J. Parnell Tomas (DuMont) são o suficiente para que Louis B. Mayer (Portnow), demita-o. Sem emprego, Trumbo vem a ser preso numa penitenciária no Kentucky, onde fica sob a supervisão do negro republicano fã de Wayne, Virgil Brooks (Akinnuoye-Agbaje). Trumbo encontra forças para resistir graças a família, particularmente sua esposa Cleo (Lane). Um de seus colegas mais próximos, o ator Edward G. Robinson (Stuhlbarg) depõe contra ele e outras pessoas do grupo dos dez. Quando solto, Trumbo trabalha sob pseudônimo, inclusive em produções como A Princesa e o Plebeu (1953), ganhadora do Oscar na categoria de roteiro, que é recebido por Ian McLellan (Tudyk), que assinou o mesmo em troca de uma percentagem do salário. Ironicamente, Trumbo vende seu trabalho barato e em grande quantidade para a produtora popular  dos Irmãos King, comandada pelo bonachão Frank (Goodman). Sua postura fere os brios do mais radical Arlen Hird (Louis C.K.). Estressado com a quantidade de trabalho que tem que produzir para manter a família, uma crise se instala, com as dúvidas da esposa Cleo a respeito de permanecer com ele e a indignação da filha Niki (Fanning) com um pai que não abandona a banheira onde escreve nem para comemorar o aniversário de 16 anos da filha. A situação somente começa a se transformar quando, ao mesmo tempo, Kirk Douglas (O’Gorman) e Otto Preminger (Berkel) pretendem ter Trumbo como roteirista dos projetos que se encontram envolvidos, Spartacus e Exôdus, respectivamente. Douglas não cede as pressões de Hopper e o filme apresenta nos créditos o nome de Trumbo, decisão que segue a que Preminger já havia tomado para sua produção, realizada posteriormente mas lançada antes. Para pôr uma pá de cal na famigerada lista negra, o próprio Trumbo dá uma entrevista na TV na qual assume publicamente a autoria dos roteiros do período. Em discurso emocionado ao ganhar o prêmio do Sindicato dos Roteiristas em 1970 por Johnny Vai à Guerra, afirma que não houve vilões ou heróis no período, apenas reações diferentes a um período crítico da história do país.
Hollywood vem sistematicamente abordando a si própria, de forma crítica e mordaz, ao menos desde os anos 1950. Mais de meio século após, trata-se do caso em questão, com todas as ambivalências aí implicadas – o fato de Trumbo ironizar com o Oscar, a determinado momento, mais Cranston ter sido indicado a um pelo próprio filme; ou ainda que o discurso final do roteirista não ser exatamente a tônica do filme, onde fica bastante demarcado os bons, os maus e os fracos (tal como um Louis B. Mayer, que tem como exato contraponto o produtor de filmes sensacionalistas Frank King, que expulsa um dos sujeitos que pretende que ele demita Trumbo a tacadas de beisebol) diante das pressões sociais. Cranston constrói com carisma seu personagem, irônico e impertinente como um Waldo Lydecker/Clifton Webb em Laura, de ninguém menos que o próprio Preminger, não faltando sequer a referência a escrita na banheira. Fazendo amplo uso de imagens de arquivo em diálogo com as reconstituídas e, a determinado momento, fundindo reconstituição e imagem de arquivo numa espécie de efeito-Zelig, o filme demonstra o quanto a resistência de nomes estelares da indústria rapidamente se desfez com o agravamento das tensões (dentre eles o casal Humphrey Bogart e Lauren Bacall, devidamente identificados). Porém, a mesma covardia da indústria serve como patamar para o que, em última instância, é o triunfo de seu oposto e dos valores americanos devidamente resgatados e recriados à saudável distância do tempo e com todo o algo constrangedor pacote de referências a personalidades reais em traços que buscam, como sempre, a mimetização – sendo o destaque, nesse quesito, para o Kirk Douglas, de O’Gorman, provavelmente o único dos retratados, com exceção dos filhos de Trumbo, a se manter vivo quando do lançamento dessa produção. Ao seguir a fórmula acima caracterizada, o filme se afasta de incursões mais livres, emblemáticas e anárquicas do período retratado, como Testa-de-Ferro por Acaso (1976), de Martin Ritt. Embora o filme aparentemente relativize o que pode ser considerado como oportunismo carreirista – o de Edward G. Robinson, por exemplo em relação a Trumbo, significa quase o mesmo que o personagem fictício Arlen Hird clama contra ele, excetuando o mal caratismo e a denúncia de colegas para se safar, encontrando em Trumbo algo como o fiel da balança ou o típico herói liberal, que abraça uma causa mas não esquece do senso prático de continuar tocando a vida, fugindo dos radicalismos tanto à direita quanto à esquerda. Groundswell Prod./ShivHans Pictures para Bleecker Street Media. 124 minutos.

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