The Film Handbook#198: Bob Rafelson

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Bob Rafelson
Nascimento: 21/02/1933
Carreira (como diretor): 1968-2003

Um dos mais eloquentes talentos cinematográficos trabalhando os temas da desilusão e alienação tão em voga nos idos dos anos 70, Bob Rafelson tem recentemente sucumbido em rasas e pretensiosas variações sobre os motivos dos thrillers tradicionais. Sua obra inicial, no entanto, é digna de nota por seu humor lacunar e abordagem oblíqua para com a narrativa.

Rafelson passou a maior parte de sua juventude viajando nos Estados Unidos e na Europa antes de iniciar um curso de filosofia. Desistindo do mesmo, conseguiu trabalho como roteirista para a televisão, onde se tornou famoso como criador (juntamente com Bert Schneider) do grupo pop The Monkees. Após co-produzir e escrever uma série de enorme sucesso estrelado pela banda, realizaria sua estreia na direção com eles em Os Monkees Estão de Volta/Head, um mistura de música, comédia e imagens de arquivo tipicamente psicodélica e tola, talvez mais lembrada por sua sutil paródia de gêneros como o musical e o filme de guerra. O filme foi o primeiro projeto da BBS Productions, formada por Rafelson juntamente com Schneider e Steve Blauner, que viria a produzir Sem Destino/Easy Rider, A Última Sessão de Cinema/The Last Picture Show e O Amanhã Chega Cedo Demais/Drive, He Said, de Nicholson, para não mencionar a primeira realização maior de Rafelson, Cada Um Vive Como Quer/Five Easy Pieces>1. Sobre um jovem solitário dividido entre as ansiosas aspirações culturais de sua família  burguesa e uma mais anárquica vida proletária com uma garçonete nada brilhante, o filme foi um olhar irônico sobre o fracasso, a auto-comiseração e a contestação vazia, suas imagens esparsas e atmosféricas enriquecidas por uma galeria de interpretações soberbamente naturais. Enquanto um retrato, além disso, das diferenças de classe de uma América até então raramente observados pelo cinema, permanece sem rivais em sua sutileza.

Ainda mais excêntrico foi O Rei da Ilusão/The King of Marvin Gardens>2 novamente fazendo uso da tensão familiar para evocar a tristeza e a banalidade subjacentes ao Sonho Americano: em uma Atlantic City varrida pelos ventos, dois irmãos - um, DJ depressivo de um programa de rádio tarde da noite, outro um pequeno criminoso em liberdade - juntam-se em um absurdo esquema de enriquecimento rápido com a concessão de jogos havaianos. Seus planos findam em um assassinato doméstico, mas Rafelson equilibra a tragédia com cenas de sombria e lacônica engenhosidade; o resultado é assumidamente irregular, mas tentadoramente crível. O Guarda-Costas/Stay Hungry>3 foi um outro retrato de desencantamento, apesar do enredo mais acessível. Aqui, o jovem ovelha negra de uma rica família do Alabama volta-se contra os desonestos empreiteiros para os quais trabalha, a fim de salvar um ginásio local que havia reenergizado seu interesse pela vida. Menos melancólico que os filmes anteriores de Rafelson, abriu espaço para cenas inconsequentes mais inspiradas (uma dança country, um concurso de Mr. Universo que subitamente emerge de uma das ruas da cidade) que constituem uma nada convencional e afirmativa celebração da comunidade.

Em 1981, após ter sido demitido do filme de prisão Brubaker, Rafelson colaborou com o dramaturgo David Mamet em uma nova versão do clássico thriller O Destino Bate à sua Porta de James M. Cain; ainda que o filme tenha sido capaz de recuperar a sexualidade sórdida e explícita ausente das versões anteriores, e efetivamente demonstrar as emoções desesperadas de um casal levado pela paixão adúltera a cometer um assassinato, seu tom sombrio é fatalmente solapado entre o thriller convencional e o filme de arte. Igualmente, a inversão de papéis no coração de O Mistério da Viúva Negra/The Black Widow (no qual uma agente federal torna-se obcecada com o poder e a independência do psicopático marido-assassino que ela rastreia) foram insuficientemente complexos para sugerirem algo mais que uma agradável homenagem tortuosa ao estilo dos melodramas noir dos anos 40.

Rafelson em seu melhor retrata os desencantados derrotados e solitários em histórias que se preocupam menos com o suspense que com a digressão. A análise dos personagens, a criação de uma atmosfera, e uma habilidade para evocar emoções através de observações íntimas são o seu forte; seu talento peculiar parece ser desconfortavelmente limitado pelas características dos filmes de gêneros.

Cronologia
O breve sucesso da BBS vinculou a carreira de Rafelson com a de Nicholson, Hopper, Bogdanovich e Henry Jaglom; ele pode ser comparado, por razões diversas, com figuras tão diferentes quanto Antonioni, Bergman, Penn, Altman e Monte Hellman.

Destaques
1. Cada Um Vive Como Quer, EUA, 1970 c/Jack Nicholson, Karen Black, Susan Anspach

2. O Rei da Ilusão, EUA, 1972 c/Jack Nicholson, Bruce Dern, Ellen Burstyn

3. O Guarda-Costas, EUA, 1976 c/Jeff Bridges, Sally Field, Arnold Schwarzenegger

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 229-30.


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