The Film Handbook#193: Louis Malle

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Louis Malle
Nascimento: 30/10/1932, Thumeries, Nord, França.
Morte: 23/11/1995, Beverly Hills, Los Angeles, Califórnia, EUA
Carreira (como diretor): 1954-1994

A diversidade e contenção estilística dos filmes de Louis Malle tem levado alguns críticos a desconsiderá-lo como um diretor oportunista com pouco a dizer. No entanto, sua versatilidade pode ser uma virtude, sua descrição uma força, e a simpatia não sentimental de Malle por seus personagens e sua atração por detalhes aparentemente banais, mais repletos de significado da vida cotidiana, estabelecem-no como um talento criativo, mesmo que errático.

Após estudar cinema, Malle trabalhou com Bresson e o documentarista marinho Jacques-Yves Costeau, com quem co-dirigiria O Mundo Silencioso/Le Monde du Silence. Sua estreia solo, Ascensor para o Cadafalso/Ascenseur pour l'Échafaud foi um thriller impressionantemente filmado e estruturado, cuja precisão de ritmo e enredo não conseguiu esconder um coração frio. Amantes/Les Amants, no qual Jeanne Moreau abandona uma aborrecida vida burguesa de esposa por um amante mais jovem, foi notável por sua lírica, e não menos controversa, descrição da paixão sexual, enquanto a farsa frenética Zazie no Metrô/Zazie das le Métro, sobre uma adolescente de boca suja, perdida em Paris, foi menos engenhoso que abrasivo. Ao contrário de seus contemporâneos da Nouvelle Vague, Malle se empenhava na imprevisibilidade: Vida Privada/Vie Privée apresentava Bardot como personagem de uma estrela de cinema baseada, distantemente, em sua própria vida; Trinta Anos Esta Noite/Le Feu Follet>1 foi um sombrio, sutil e comoventemente autêntico retrato de um alcoólatra a beira do suicídio; Viva Maria! foi um espalhafatoso western cômico com a dupla Moreau e Bardot; O Ladrão Aventureiro/Le Voleur ambientava seu estudo da cleptomania enquanto vingança contra a sociedade em uma irretocável evocação da Paris do final do século XIX. Unindo materiais tão diversos, a ênfase antiquada de Malle em um suntuoso trabalho de câmera (a cargo de Henri Decaë), um erotismo mais sensual que sensacionalista e uma tendência a focar em indivíduos isolados e solitários.

Em 1967 visitaria a Índia, onde filmou os altamente subjetivos e cativantes documentários Calcutta e L'Inde Fantome, no qual as questões surgidas sobre a relação do diretor com o que vê proporcionaram uma nova seriedade de propósitos que iria se atrelar e aprofundar na obra futura de Malle.  Sopro no Coração/Le Souffle au Couer, uma despreocupada e semi-autobiográfica visão de um adolescente nos anos 50, mescla comédia com uma insistência discreta na confusão de seu protagonista, que culmina em incesto com sua mãe; enquanto Lacombe Lucien>2 explorava com tranquilidade a alienação psíquica e emocional que leva um jovem camponês a colaborar com os nazistas, sem nunca cair na armadilha do moralismo simplista. Mesmo Lua Negra/Black Moon, uma fantasia por vezes obscura, inspirada por Lewis Carroll, foi notável por sua ausência de extravagâncias enquanto construía, sem diálogos, um sinistro universo pós-apocalíptico.

Em meados dos anos 70, Malle embarcou para uma temporada de uma década nos Estados Unidos onde, após Menina Bonita/Pretty Baby (um reluzente e sensível, mas em última instância, tedioso olhar sobre a prostituição infantil na Nova Orleans de 1917) realizaria Atlantic City>3, no qual um pequeno mafioso envelhecido observa suas românticas memórias de vilania se tornarem realidade, quando se torna padre confessor, protetor e, por fim, amante de uma jovem crupiê. Parte comédia romântica, parte suspense, parte conto de fadas, o filme é simultaneamente mítico e enraizado na realidade e fascina através de sua compreensão irônica das desilusões humanas e de seu terno retrato da paixão e dignidade readquiridas. Fantasia foi também crucial para a surpreendentemente cativante peça dialogada Meu Jantar com André/My Dinner with André e para o anêmico Alta Incompetência/Crackers (uma refilmagem da clássica comédia italiana Os Eternos Desconhecidos/I Soliti Ignoti). Mas A Baía do Ódio/Alamo Bay>4 foi um tenso e inteligente thriller a respeito da violência racista de texanos contra imigrantes vietnamitas, sendo distinto por sua abordagem discreta e essencialmente realista do ritmo e nuances da vida da classe trabalhadora. Ao mesmo tempo, Malle retornava as suas origens documentais com God's Country (sobre os sonhos e desapontamentos dos habitantes de uma pequena cidade do Minnesota, consistindo de entrevistas conduzidas ao longo de seis anos) e ...And the Pursuit of Happiness (sobre a vida imigrante na América moderna). Em ambos, o respeito profundamente humano, mas nunca sentimental, de Malle por seus objetos, torna-os cinema provocativo e consistente.

Em 1987 o diretor retornou à França para espoliar suas próprias memórias em Adeus, Meninos/Au Revoir, les Enfants>5, no qual a amizade de dois colegas de escola jesuítica em 1944 chega a um final trágico quando a traição resulta na captura e morte de um - o judeu - pela Gestapo. Como sempre, as interpretações e evocação de época e lugar são soberbos; mais impressionante, no entanto, é o modo de se evitar o melodrama lacrimoso, enfatizando o egoísmo e imaturidade arrogante dos garotos. O resultado final é honesto, compassivo e serenamente comovente.

Fascinado pelos efeitos da solidão (daí o constante retorno a adolescentes e marginais), Malle tem ignorado as tendências da moda para criar um corpo de trabalho pessoal, variado - e variável - que revela, mas raramente faz discursos proselitistas, as emoções complexas que levam os humanos rumo a auto-desilusão, infelicidade, rompimento de tabus ou comportamento criminal. Nunca inovador como seus colegas mais talentosos de Nouvelle Vague, nunca se rendendo a um tema auto-imposto. ele, no entanto, merece admiração por sua modesta integridade e humanismo.

Cronologia
A versatilidade e sensibilidade de Malle sugere comparações menos com Godard, Truffaut, Rohmer, Chabrol e Jacques Rivette que com figuras anteriores como Becker, e mesmo ocasionalmente Renoir, com quem compartilha uma rara tolerância pelas fraquezas humanas. Em sua preocupação antiquada com a perfeição e a caracterização, pode ser comparado - mesmo que superficialmente - com Tavernier.

Leituras Futuras
French Cinema Since 1946, Vol. 2 (Londres, 1970)

Destaques
1. Trinta Anos Esta Noite, França, 1963 c/Maurice Ronet, Léna Skerla, Jeanne Moreau

2. Lacombe, Lucien, França, 1973 c/Pierre Blaise, Aurore Clément, Gilberte Rivet

3. Atlantic City, EUA, 1980 c/Burt Lancaster, Susan Sarandon, Kate Reid

4. A Baía do Ódio, EUA, 1984 c/Amy Madigan, Ed Harris, Ho Nguyen

5. Adeus, Meninos, França, 1987, c/Gaspard Menesse, Raphael Fejto, Francine Racette

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 185-6.

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