Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#27: Fernanda Montenegro

 

MONTENEGRO, FERNANDA (1929). Seguindo uma longa e destacada carreira como atriz de teatro, televisão e filmes para cinema, Fernanda Montenegro foi a primeira mulher latino-americana a receber uma indicação para Melhor Atriz no Oscar - por seu papel em Central do Brasil (1998), dirigido por Walter Salles. Nasceu no Rio de Janeiro como Arlete Pinheiro Monteiro Torres. Quando adolescente passou a atuar em radionovelas, e fez sua estreia no teatro, em 1950, na produção de Alegres Canções, com Fernando Torres, com quem posteriormente casaria. Foi a voz de uma atriz no filme Mãos Sangrentas (1954), mas não apareceu em filmes senão se tornar uma presença regular nas novelas de TV, em 1963. Seu primeiro genuíno papel foi como Zulmira em A Falecida (1965), uma importante obra do Cinema Novo, dirigida por Leon Hirszman. Para seu papel em Em Família (1970), somente seu terceiro filme, ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Moscou, e ao interpretar Elvira Barata em Tudo Bem (1977), de Arnaldo Jabor, foi honrada como Melhor Atriz no Festival de Cinema de Taormina, Itália. Ao longo dos anos 70 tornou-se uma das maiores estrelas de telenovelas brasileiras, séries detetivescas e especiais. Entretanto, seu excelente trabalho no teatro continuou ininterrupto, e em 1982 ganhou o Molière por As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, adaptado do filme homônimo (*) de Rainer Werner Fassbinder (1972). 

Trabalhou novamente com Hirszman em 1981, aparecendo no longa premiado Eles Não Usam Black-Tie, como esposa de um líder sindical, e em 1985 interpretou um pequeno, mas memorável, papel como cartomante (**) em A Hora da Estrela, de Suzana Amaral. Foi evidentemente bastante seletiva em seus papéis para o cinema, e o seu segundo nos anos 90 foi no indicado ao Oscar, O Que é Isso, Companheiro? (1997), de Bruno Barreto. Ao qual se seguiu seu mais famoso papel, como Dora, em Central do Brasil, pelo qual ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim. Já se aproximando dos 70 anos, Fernanda Montenegro não se intimidou em aparentar sua idade na tela. Sem utilizar maquiagem, surge como uma deprimida e desiludida professora que escreve cartas para migrantes analfabetos, que desejam se comunicar com seus entes queridos. Ela nunca manda as cartas, e é somente após retirar o garoto cuja mãe foi morta diante dela (atropelada por um ônibus) de uma agência de adoção nada confiável que começa a mudar. Ao final do filme se tornou uma personagem simpática, tendo exibido amor maternal e entregue o rapaz  ao seu irmão desconhecido. Montenegro tem ressistido a se mudar para Hollywood, tornando-se a "grande dama" da televisão brasileira, com papéis destacados como a misteriosa matriarca Luiza na telenovela Esperança (2002), assim como a vilã Bia Falcão. Também obteve uma grande interpretação em Casa de Areia (2005), contracenando com sua própria filha, Fernanda Torres. Ambos seus filhos (com o marido e parceiro de longa data Torres) se encontram envolvidos com cinema. Seu filho, Cláudio, como diretor.


Texto: Rist, Peter H. The Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, pp. 408-9.

(*) Provavelmente adaptação da peça do próprio Fassbinder, que antecedeu sua adaptação ao cinema. 

(**) No original se encontra macumbeira.

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