Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#132: PRISIONEROS DA LA TIERRA
PRISIONEROS DA LA TIERRA. (Argentina, 1939). Frequentemente considerado como o melhor filme da "era de ouro" do cinema argentino, Prisioneros de la Tierra (Prisioneros da Terra), dirigido por Mario Soffici, foi também o primeiro, e nas palavras de Tim Barnard "uma das mais duradouras e sombrias expressões do mais significativo gênero cinemoatográfico latino-americano, apelidado de "folclórico social" pelo historiador de cinema argentino Domingo di Núbila." (1996, p. 17) Prisioneros foi baseado nos contos "Una Bofetada" (1916), "El Peon" (1918), "El Destilador" (1926) e "Los Desterrados" (1926), do escritor uruguaio Horacio Quiroga, que viveu na região tropical, ao norte, de Missiones. Ele escreveu sobre solidão, loucura e morte, e as vidas dos pobres mensús, trabalhadores contratados que colhiam erva mate. Na verdade, parte de Prisioneros foi filmado em Missiones, ainda que não seja pela metade do filme que testemunhamos um mensús trabalhando no opressivo calor da selva.
O filme se inicia em Posadas, fronteira da Argentina com o Paraguai, em 1915, onde um mensú (Ángel Magaña), está abraçando uma mulher nos aposentos dela. Rapidamente compreendemos que deve se tratar de uma prostituta, assim que ele desce, vestindo botas de gaúcho, lenço e chapéu para um vibrante salão de dança e bar - trata-se de um bordel. Com seu amigo, inscreve-se para trabalhar para o patrão de terno branco, Köhner (Francisco Petrone), e, junto com o médico alemão e sua filha (Elisa Galvé), embarcam no navio a vapor para subir o Rio Paraná. Neste prólogo de mais de vinte minutos, os personagens são desenvolvidos - Dr. Else é um alcóolatra que gosta de se ver enquanto um aristocrata europeu amante da música, e suas atenções se voltam para a jovem, enquanto o personagem de Magaña é um rebelde, com quem a personagem de Galvé simpatiza, quando é acorrentado a uma coluna, por uma de suas transgressões.
Brilhantemente, a não creditada
direção de arte e a fotografia de Pablo Tabernero, combinam-se para apresentar
as diferenças gritantes das vidas dos ricos no passeio, e os trabalhadores nos
deques inferiores, onde, na sala de máquinas, o enorme mecanismo da roda
de pás domina o espaço escuro em pirmeiro plano. Em algumas externas do navio, os
personagens do deque superior são observados em câmera baixa. Tendo como
destino Missiones, muitas cenas são encenadas à noite: o embrigado Dr. Else é incapaz de salvar as vidas dos mensús enfermos, e a filha do doutor foge de suas garras, correndo rumo à selva. O personagem de Magaña eventualmente consegue sua vingança, repetida e brutalmente chicoteando os joelhos de Kohner, direcionando-o a uma jangada estropiada e o pondo no mar, presumidamente para sua morte. É certamente incomum para qualquer filme narrativo da era "clássica" apresentar um "herói" sob tal luz negativa, e o pessimismo do filme continua com Else involuntariamente batendo em sua própria filha em um estupor alcóolico: representando o ponto de vista do protagonista, a imagem se encontra fora de foco - ele pensa ser um intruso na casa. A garota sucumbe aos ferimentos, e a mensú desolada emerge de seu esconderijo. Não mais se importando com sua própria vida após a morte da amante, ele tenta fazer parte do cortejo do funeral e é baleado por um soldado com uma única bala. O último plano do filme é um plano por cima da cabeça do "herói". Prisioneros de la Terra possui o sentimento do "realismo poético" francês dos anos 30, nos filmes dirigidos por Marcel Carné e escritos por Jacques Prevert, mas seu pessimismo implacável é muito mais árduo em seu "realismo". De modo consistente, os planos são enquadrados através de janelas e soleiras; em última instância, é como se cada personagem fosse "prisioneio da terra", e mesmo o rio não proporciona nenhum escape.
Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 464-65.

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