Filme do Dia: Godzilla Minus 0ne (2023), Takashi Yamazaki

 


Godzilla Minus One (Gojira – 1.0, Japão, 2023). Direção e Rot. Original Takashi Yamazaki. Fotografia Kōzō Shibazaki. Música Naoki Satō. Montagem Riûji Miajima. Dir. de arte Anri Jōjō. Figurinos Aiko Mizushima. Com Ryonusuke Kamiki, Minami Hamabe, Sakura Ando, Kuranosuki Sasake, Hidetaka Yoshioka, Munetaka Aoki, Rikako Miura, Yuki Yamada, Michael Arias, Sae Nagatani.  

Próximo ao final da Segunda Guerra, o piloto Kōichi Shikishima (Kamiki) faz um pouso na base japonesa de Odo. Profissionais que se encontram no momento, acreditam que foi falha técnica em seu avião quando, na verdade, ele não teve coragem de partir para o combate, em uma situação de visível derrota já se anunciando para o país. Na mesma noite, o terrível monstro Godzilla emerge das águas e provoca um massacre de praticamente todos os que se encontravam na base, tendo sido Shikishima o escolhido para acertar o monstro, permanecendo paralisado de terror. Após a tragédia, Shikishima recupera os sentidos e descobre que apenas ele e Tachibana (Aoki) sobreviveram. Este se encontra extremamente indignado com a postura de Shikishima e o acusa pela responsabilidade da morte do grupo. Ao retornar a Tóquio, Shikishima fica sabendo da morte de seus pais nos bombardeios que arrasaram a cidade. Ele passa a ajudar outra órfã, Noriko Oishi (Hamabe), com dificuldades de se manter e trazendo consigo uma menina que também perdeu os pais, Akiko (Nagatani). Em maio de 1947, Shikishima tenta estratégia de explodir minas em Godzilla, mas ele consegue rapidamente se regenerar. Retornando à Tóquio, conta tudo a Noriko. Dias depois, Godzilla ataca o famoso bairro de Ginza, justamente onde Noriko trabalha, provocando mais de 30 mil mortes, inclusive aparentemente a de Noriko. Um dos homens da equipe de minas, Kenji Noda (Yoshioka), incomodado com a inação por parte do governo, temeroso de uma reação nas relações entre União Soviética e os Estados Unidos, propõe um plano para aniquilar Godzilla. A ideia é atrair o monstro para o mar profundo, afundá-lo e caso sobreviva, trazê-lo de volta à tona, com o efeito do movimento de submersão e retorno a superfície de várias centenas de metros provocando uma desestruturação do organismo do animal. Shikishima  se voluntaria a ser o piloto de avião que provocará a atenção de Godzilla e o levará a baía profunda. Shikishima traz a operação, envolvendo centenas de civis, Tachibana. Sua ideia é uma missão suicida, explodindo seu avião na boca do monstro. Ele deixa uma carta para a vizinha Sumiko (Ando) assumir a criação da pequena Akiko. A operação ocorre, mas o monstro consegue sobreviver a ela, rompendo as correntes quando se tenta traze-lo de volta ao nível do mar rapidamente. Shikishima explode seu avião na boca do monstro conseguindo, no entanto, sobreviver, ejetando-se dele. Saudado como herói, em meio as comemorações fica sabendo que Noriko se encontra viva e hospitalizada. Apesar de todas as comemorações, uma parte do monstro parece estar em processo de regeneração debaixo das águas.

A pergunta a ser feita ao se sair da projeção é qual é mesmo o motivo para tanto burburinho em torno desta produção quando de seu lançamento? Sobretudo para quem não conhece a profícua trajetória do monstro em telas grandes. Seria uma produção mais sofisticada em termos de valores de produção? Sua vinculação com a história e explicitação de motivos que suas primeiras encarnações deixariam nas entrelinhas, como boa parte da ficção científica hollywoodiana contemporânea? O monstro ter se tornado septuagenário, como nos faz lembrar já em seus créditos iniciais? A reunião de três órfãos, formando uma família no Japão repleto de traumas recentes? Outrossim, apesar do elegante e bastante gráfico desenho de produção a reconstituir trechos do Japão, e sobretudo Tóquio, e em Tóquio particularmente Ginza, há um festival de lugares-comuns em produções do gênero. Uma das mais irritantemente recorrentes é o recorte grandiloquente, no qual não apenas civis tomam conta da reação, mas sobretudo o drama pessoal e as frustrações de seu protagonista, em um país com milhares, senão milhões de pessoas com experiências tão ou mais traumáticas que a sua, e alguns milhares destes sobreviventes do exército, como ele, sendo o salvador da pátria, quando tudo parecia dar errado, inclusive o plano B da equipe comandada por Noda. Dentro desta fantasia narcísica, não falta o inverossímil posto ocupado por um Shikishima bastante volúvel diante de seu histórico de culpa e conhecidos problemas emocionais postos na conta deste episódio. A cereja do bolo da mesmice e da excessiva submissão às formulas é a descoberta final de Noriko estar viva, trazendo mais um momento patético, entre praticamente todos os que pretendem provocar algum páthos. E uma das últimas cenas já é uma senha para uma continuação. Há uma nítida impressão de se lidar com vários dos traumas históricos vivenciados pelo Japão, das experiências atômicas à prática dos pilotos kamikazes, das cidades destruídas à nova ordem mundial de então e de pateticamente tentar se costurar tais ressentimentos a partir da vitória contra o monstro. E, para quem vivencia a primeira experiência em um filme vinculado ao personagem, a aparição das placas dorsais da besta seria o equivalente da barbatana em Tubarão. |Robot Communications/Toho Co./Toho Studios para Toho Co. 124 minutos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso