Filme do Dia: Grande Hotel (1932), Edmund Goulding
Grande Hotel (Grand Hotel, EUA, 1932). Direção: Edmund Goulding. Rot. Adaptado:
Vicki Baum, a partir da peça de William Absalom Drake. Fotografia: William
H.Daniels. Música: Charles Maxwell. Dir. de arte: Cedric Gibbons. Figurinos: Adrian.
Com: Greta Garbo, John Barrymore, Joan Crawford, Wallace Beery, Lionel Barrymore, Lewis Stone, Jean Hersholt, Robert McWade.
Berlim. Grande
Hotel. A diva do balé Grusinskaya (Garbo) se encontra atormentada e decidida a
abandonar o mundo do espetáculo, achando que seu público não a ama. Um reputado
Barão (John Barrymore), na verdade, apenas encontra uma forma urgente de ganhar
dinheiro. A estenógrafa Flaemmchen (Crawford) pensa em subir de vida ou ao
menos conhecer cidades interessantes, seja ao lado do homem pela qual se sente
verdadeiramente atraída, o Barão, seja pelas mãos do rude industrial Preysing
(Beery), seu chefe. O apatetado Kringelein (Lionel Barrymore) apenas pretende
se divertir, jogar, dançar e fazer tudo o que nunca fez, já que se acredita em
estado terminal. O Barão invade os aposentos de Grusinskaya e testemunha seu
desespero, afirmando se encontrar perdidamente apaixonado por ela e a fazendo
“renascer” para a vida e a arte. Flaemmchen aceita um quarto conjugado ao lado
do seu patrão. Ao invadir o quarto de Preysing, no entanto, não possui a mesma
sorte e é espancado até a morte por esse. Ela, no entanto, não intercede por
ele e alerta Kringelein do que houve. Preysing sai do hotel algemado.
Grusinskaya saia ainda eufórica e crente que voltará a encontrar seu amado. E
Flaemmchen de mãos dadas com...Kringelein.
Essa adaptação de
uma peça, na qual não constam os créditos como colaboradores do roteiro
justamente do autor da mesma e também do teórico Béla Balazs, foi um sucesso
fenomenal junto ao público e crítica de seu tempo, embora tenha perdido boa
parte de seu brilho com o mesmo tempo. Se a sua estrutura narrativa de histórias
paralelas foi grandemente inovadora e até hoje é lembrada quando se fala em
produções de múltiplos enredos, os elos de ligação crescentes entre
participantes das mesmas, suaviza qualquer maior estranhamento que o espectador
de então poderia ter sentido inicialmente. Também existe o pioneirismo no
quesito super-elenco, mesmo modestamente quando comparado ao que
posteriormente se fará nesse sentido. No que diz respeito à proeminência
feminina, pode-se articular, de forma quase caricata, a figura de Garbo como
representante tardia da estrela muda, no estilo deusa inatingível, enquanto
Crawford personificaria sua correspondente pós-sonora, mais realista e humilde.
Os estilos de representação de ambas também são um dado não desprezível a ser
levado em conta e não parece haver sombra de dúvida sobre quem levou a melhor:
Crawford. Enquanto Garbo parece demasiado investida em uma espécie de sátira de
si própria – e não deixa de ser emblemático que uma frase repetida ao menos
duas ou três vezes aqui (I want to be
alone) tenha sido transposta sem muito esforço para sua atitude
extracinematográfica, quando abandonou sua carreira. Mais que as antecipações
acima referidas que o filme traz, talvez o que efetivamente seja mais
estimulante a um espectador contemporâneo, de oito décadas e meia após seu
lançamento, seja a forma simpática com que se relaciona com personagens, de
moralidade no mínimo ambígua. Se a estenógrafa de Crawford não titubeia em
aceitar tudo que lhe seja benéfico provindo de qualquer homem, o escroque
vivido por John Barrymore tenta roubar a todos, ainda que lhe seja concedida
uma má consciência que o faz recuar, mesmo a trama, em última instância, transformando-o mais em vítima que propriamente vilão e, curiosamente, deixe o papel
da personagem mais grotesca justamente ao ganancioso e pragmático capitalista.
Pouco inventivo em termos estéticos, não há como deixar de observar prováveis
ecos distantes de um filme como A Última Gargalhada (1924), de Murnau, assim como sendo impossível de evoca-lo em
filmes mais recentes que observam temas similares seja de forma ortodoxa (O Exótico Hotel Marigold) ou não (O Grande Hotel Budapeste). A versão
oficial é 5 minutos mais longa. MGM. 107 minutos.
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