Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#130: Óscar Soria



 SORIA, ÓSCAR (Bolívia, 1917-1988). A pessoa-chave ligada aos três maiores diretores bolivianos, Jorge Ruiz, Jorge Sanjinés e Antonio Eguino, o escritor e roteirista Óscar Soria foi talvez o maior responsável pelo direcionamento do cinema boliviano em lidar com a Guerra do Chaco (1932-35), da qual foi um veterano; o universo dos mineiros bolivianos, o altiplano, os direitos indígenas, todos os quais não podiam ser facilmente tematizados pela literatura ou pelo cinema, antes do Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR) e do Partido Nacionalista Revolucionário, sobre o comando de Victor Paz Estenssoro, em 1952. 

Nascido na capital da Bolívia, La Paz, Soria se tornou escritor durante sua adolescência, quando também se envolveu com a Guerra com o Paraguai, após a qual muito de área da Bolívia foi cedida a este país. Ganhou o prêmio de escrita do jornal boliviano La Razón em 1941, e em 1954 recebeu o segundo lugar no prêmio de escrita do mais antigo jornal baseado em La Paz, El Diario. Soria visitou a mina de estanho Siglo XX (Século XX), enquanto um estudante universitário e encontrou um mineiro que havia perdido suas pernas em um confronto do sindicato com as autoridades. Após o presidente Paz Estenssoro nacionalizar a mina, encorajou Soria a escrever um conto celebrando a nacionalização. Soria utilizou este personagem, "El Saldo", como uma inspiração ao país que "se levanta e anda". Incapaz de ter a história publicada na Bolívia, levou-a a uma competição patrocinada pelo jornal mexicano El Nacional, em 1954, vencendo o primeiro prêmio. Por volta desta época, um conto que Soria havia escrito, foi adaptado como roteiro para um filme educacional, Los que Nunca Fueron (1954), dirigido por Ruiz. 

Soria roteirizou vários filmes educacionais sobre patrocínio governamental, incluindo Voces de la Tierra (1956), um documentário etnográfico sobre a música do altiplano, e roteirizou uma série de filmes dirigidos por Ruiz, mais notavelmente o longa-metragem La Vertiente (1958), e o curta Laredo de Bolivia (1959), ambos feitos com o patrocínio governamental do Instituto Cinematográfico Boliviano (ICB). Mas dois dos melhores roteiros de Soria do período nunca se tornaram filmes, Tatamayu, expressão quíchua para "rio pai", e Gringo, sobre o conhecido fora-da-lei americano John Smith, conhecido como "Butch Cassidy". Insatisfeito com a sua obra em filmes promocionais, Soria parou de escreveer roteiros até encontrar-se com Sanjinés, e uma importante parceria se iniciou, que durou dos curtas promocionais do período, por exemplo, Sueños y Realidades (1961), passando por Revolución (1963), pelo qual Soria foi creditado como co-diretor e os primeiros três longas completados por Sanjinés, até El Coraje del Pueblo, o roteiro que Soria mais se orgulha, retornando à mina Siglo XX, desta vez para condenar o massacre de 1967.

Após Sanjinés ter sido forçado a se exilar, e seu Grupo Ukamau ter se dividido em dois, Soria começou a trabalhar com Eguino, e escreveu os roteiros de todos os seus filmes, incluindo três longas, Pueblo Chico (1974), Chuquiago (o nome em Aymara para La Paz) e Amargo Mar (1984). Também escreveu roteiros para dois longas dirigidos por Paolo Agazzi, Mi Socio (1982) e Los Hermanos Cartagena (1985), que foi o único roteiro adaptado da obra de outro escritor, o romance de Gaby Vallejo de Bolívar, Hijo de Opa. Quando morreu, Soria estava trabalhando em um roteiro para uma co-produção boliviana com a antiga União Soviética. 

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Film. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 536-37. 

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