Filme do Dia: Quando Ele Voltou (1949), Arthur Lubin

 


Quando Ele Voltou (Impact, EUA, 1949). Direção Arthur Lubin. Rot. Original Dorothy Davenport & Jay Dratler, a partir do argumento de Dratler. Fotografia Ernest Laszlo. Música Michel Michelet. Montagem Arthur H. Nadel. Dir. de arte Rudi Feld. Cenografia Jacques Mapes. Figurinos Maria P. Donovan. Maquiagem Lee Greenway. Com Brian Donlevy, Ella Raines, Charles Coburn, Helen Walker, Anna May Wong, Robert Warwick, Clarence Kolb, Art Baker, Tony Barrett, Mae Marsh.

Walter Williams (Donlevy), é um empresário bem sucedido em San Francisco e apaixonado por sua esposa, Irene (Walker), que trama com o amante Jim Torrance (Barrett), o assassinato do marido, fazendo-o passar por um primo seu em uma viagem de longa duração de carro. Walter sobrevive, no entanto, enquanto Jim é quem morre. A notícia da morte de Walter é que ganha os jornais. Este, confuso e tendo sofrido uma concussão, vai morar numa pequena vila do Idaho, onde torna-se mecânico da jovem e bela Marsha (Raines), que se apaixona por ele. Walter retorna a San Francisco e conta sua história à Polícia. Embora o investigador Tom Quincy (Coburn), acredite nele, sua esposa, então presa acusada de seu assassinato, é solta e ele é quem vai a julgamento, acusado de ter matado Torrance.

É de certa forma admirável o modo relativamente compassado com o qual se vai urdindo sua trama, que possui evidentes ecos do célebre Pacto de Sangue, inclusive o primeiro nome do personagem principal, embora fiquemos aqui com o ponto de vista do cordeiro ao qual seria sacrificado, fazendo uso dos códigos da intimidade do casal. Se é surpreendente se ver a bela Ella Raines como mecânica – e embora tenha o crédito principal feminino, sua personagem somente surge muito tempo depois da trama encaminhada – ser aparentemente progressista, e também um retrato das mudanças sociais provocadas pela guerra, trata-se mais de um efeito cosmético que propriamente substancioso, dada a facilidade instantânea com a qual Marsha se subjuga voluntariamente a Walter; inclusive sem deixar de fora os laivos sexistas tipicamente presentes do gênero; mesmo que aqui deslocados para uma mecânica profissional que entende menos de carros que um amador do sexo oposto. Chega a ser patético a pressão de Marsha para ouvir algo acalentador, em vão, por parte de Walter, como no momento em que passeia por uma paisagem idílica na qual ele vivencia uma epifania, e ela indaga se há alguma flor particularmente que ele aprecie a beleza.  Provavelmente a escolha dela como mecânica somente se deu por seu efeito dissonante, exótico, e por isso mesmo atrativo, de se observar figura de traços tão delicados, espécie de antecipação de Brooke Shields ou Phoebe Cats, em um macacão de mecânico tipicamente masculino. Por sua vez Donlevy, com maxilas salientes e certa paralisia labial parcial, parece quase pedir, com sua caracterização de um tipo poltrão, uma traição dos “primos” ladinos contra si. Dando-se ao luxo, inclusive, de chorar abertamente de soluçar, ao descobrir a traição da esposa, incomum nas representações masculinas da época. Porém, o que de longe chama mais atenção é mesmo uma estrutura narrativa curiosa, pois efetua diversas torsões dentro do modelo do noir, mas não exatamente fugindo do modelo – femme fatale aqui estaria casada com o próprio protagonista (embora a do filme de Billy Wilder, icônico do gênero-estilo, também estivesse); mais singularmente, o filme parece ir esgotando seus temas, antes mesmo que outros irrompam, fazendo, por exemplo, o espectador se indagar sobre o que sobrará após a tentativa mal sucedida de assassinato de Walter. Por outro lado, desde que a empregada chinesa (era o que restava para americana de terceira geração Wong) ressurge timidamente na trama, sabemos ela ser o fator x a desequilibrar a situação desfavorável a Walter em seu julgamento. A mãe de Marsha é vivida por uma veterana que iniciou a carreira nos filmes de um ou dois rolos para Griffith na Biograph. |Harry Popkin Prod. para United Artists. 111 minutos.

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