Filme do Dia: O Anjo Exterminador (1962), Luis Buñuel
OAnjo Exterminador (Él Ángel Exterminador, Espanha, 1962).
Direção: Luis Buñuel. Rot. Adaptado: Luis Alcoriza & Luis Buñuel, baseado
na peça Los Naufragos, de José
Bergamin. Fotografia: Gabriel Figueroa. Música: Raúl Lavista. Montagem: Carlos
Savage. Dir. de arte: Jesús Bracho. Figurinos: Georgette Somohano. Com: Silvia
Pinal, Jacqueline Andere, José Baviera, Augusto Benedico, Luis Beristáin,
Antonio Bravo, Claudio Brook, César del Campo, Lucy Gallardo, Enrique García
Álvarez.
Um extenso grupo de convidados atende
ao convite para uma festa na mansão de Alicia (Andere) e Augusto Roc (Álvarez).
Porém, no momento de irem embora são acometidos por uma espécie de paralisia
que os impede de abandona o local, coisa que os serviçais fizeram pouco antes.
Aos poucos todas as finezas são substítuidas, com o decorrer do tempo, pelos
reclames do instinto, com relação a fome e sexualidade. Enquanto alguns não
sucumbem a longa empreitada de dias, e morrem ou suicidam-se, outros disputam o
pouco de água que conseguem dos canos da parede. Do lado de fora da casa uma
multidão, igualmente paralisada, não se atreve a entrar na residência. A
situação somente se recompõe quando Leticia (Pinal) percebe que todos
encontram-se na mesma posição do momento em que a estranha situação começou a
se desenvolver. Após repetirem a situação, acabam espontaneamente e
comemorativamente abandonando a mansão. No dia da missa de ação de graças que
celebra o fim da torturante situação, a situação volta a se repetir na Igreja.
Enquanto isso, nas ruas, a multidão é reprimida à bala pelo Exército.
Nessa ácida crítica a hipocrisia
burguesa, Buñuel retoma como em nenhum de seus filmes posteriores a Um Cão Andaluz e A Idade do Ouro seu diálogo com o surrealismo, mesmo que dentro de
moldes narrativos mais tradicionais, antecipando o estilo de uma série de
filmes que realizaria nos anos 70. O contraste entre cultura e instintos (já
presente em Um Cão Andaluz, ao qual
o cineasta faz referência na seqüência que um homem apalpa vorazmente um corpo
feminino, é abordado pelo cineasta sem esquecer a dimensão política, em que a
paralisia em que o grupo permanece por longo tempo é uma metáfora da própria
vacuidade moral burguesa. A utilização não naturalista da banda sonora no
tiroteio final, onde a dessincronia entre os eventos e os sons é evidente,
provavelmente influenciou a obra de vários cineastas da época, como Gláuber Rocha. A situação de crescente promiscuidade, beirando os limites da
racionalidade foi radicalizada por Godard em Week-End à Francesa (1967). Já a repetição da seqüência em
que os convidados chegam sob o ponto de vista de duas empregadas que pretendem
abandonar a casa evoca a “falta de sicronia” de montagem dos filmes dos pioneiros
do cinema. O non-sense representado
pela aparição não explicável de animais na mansão voltaria a surgir em filmes
posteriores como O Fantasma da Liberdade
(1974) que, mesmo preservando o tom anárquico de Buñuel, são realizações mais
bem acabadas em termos industriais. Films 59/Producciones Gustavo
Alatriste/UNINCI. 95 minutos.

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