Filme do Dia: Polanski: Procurado e Desejado (2008), Marina Zenovich
Polanski: Procurado e Desejado
(EUA/Reino Unido, 2008). Direção: Marina Zenovich. Rot. Original: Joe Bini,
P.G. Morgan & Marina Zenovich. Fotografia: Tanja Koop. Música: Mark De Gli
Antoni. Montagem: Joe Bini.
Desde que se tenha em conta que o
próprio tema e título já são suficientemente oportunistas por si só, esse
documentário consegue efetivar uma análise relativamente sóbria do processo que
envolveu o cineasta Roman Polanski, acusado de ter feito sexo e usado drogas
com uma menor, que o acabaria levando a abandonar os Estados Unidos em 1977.
Zenovich constrói sua narrativa, em alguma medida seguindo uma linha dramática
próxima da ficção que tem caracterizado o documentário contemporâneo. Para
tanto ela se apóia não apenas em entrevistas com os advogados que lidaram com o
caso, assim como amigos pessoais e a própria garota com o qual o cineasta
manteve a polêmica relação, e também em fartas imagens de arquivo do período do
julgamento e cenas raras de Polanski no auge de seu deslumbramento pelos
Estados Unidos, ao lado de Sharon Tate. O filme, no entanto, é centrado o
bastante a não fugir de seu tema principal, sendo que a própria morte trágica
de Tate não chega a ser explorada excessivamente – não há nenhuma imagem de
Manson ou de seus seguidores, por exemplo – como se a realizadora estivesse
consciente da demasiada exposição do evento para tocá-lo novamente mesmo
enquanto uma nota didática. Uma nada desprezível orientação do ritmo do filme
por inserções sonoras como a da canção de ninar cantada por Mia Farrow para O Bebê de Rosemary. Cenas desse filme,
assim como de outros, procuram alinhavar, de modo um tanto frouxo, a trajetória
pessoal do realizador com cenas de seus próprios filmes, porém não de modo excessivo.
Polanski, com surpreendente franqueza, admite sem nenhum falso pudor sobre sua
vida dissoluta após a morte de Tate, afirmando que cada um reage de uma forma
diferente a perda em filmagem de arquivo – ele, evidentemente, não contribuiu
para esse documentário. Tudo que o filme indica é que todo o processo que
resultou na incerteza legal do que aconteceria caso Polanski viajasse para os
Estados Unidos no momento de sua produção, foi orquestrado sobretudo por um
juiz inseguro e sedento de publicidade, partindo
de entrevistas atuais tanto com o advogado de defesa quanto com o próprio
promotor do caso, que acabariam por afastar o juiz do mesmo. Sua cena final
resume bem o seu próprio título, mesmo que não de modo tão maniqueísta quando
se pensa na contraposição entre uma França que o acolhe, tornando-o membro de
sua prestimosa academia literária e uns Estados Unidos que ainda o acusam de
não ter cumprido de todo sua pena – já que tampouco se deixa de exibir sua
premiação e aplauso no Oscar como melhor diretor por O Pianista. Antidote Films/BBC/Graceful Pictures para HBO. 95
minutos.

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