O Dicionário Biográfico de Cinema#266: Rudolph Valentino
Rudolph Valentino (Rodolpho Guglielmi di Valentina d'Antonguolla) (1895-1926), n. Castellaneta, Itália
No verão de 1926, Valentino colapsou em Nova York. Os médicos abriram aquele corpo sonhado e elegante e encontraram peritonite. Era um caso inoperável, mas quando Valentino veio, de acordo com dos Passos em U.S.A., perguntou ansioso: "Eu me comportei como um pó de arroz rosa?" Essa pergunta ainda paira no ar, mesmo que o próprio Valentino esteja além do conforto. Teve uma carreira extraordinária, suficiente a levar grandes multidões ao seu funeral, a persuadir muitas mulheres que falava com elas do túmulo e perturbar um rapaz bastante monótono e desanimado do interior da Itália. Há ao menos três formas de interpretar Valentino.
1. Foi o grande amante das telas, que em cinco anos e uma dúzia de filmes carnalizou a ideia do herói como uma arma sexual. Apesar de ter tido seu primeiro grande sucesso com The Four Horsemen of the Apocalypse [Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse] (21, Rex Ingram), e estrelado em Uncharted Seas [Corações Cegos] (21, Wesley Ruggles), com Nazimova, em Camille [Dama das Camélias] (21, Ray C. Smallwood), e em The Conquering Power [Eugenia Grandet] (21, Ingram), esta imagem se baseou principalmente em The Sheik [O Sheik] (21, George Melford). Nele, Valentino interpretava um árabe que capturava "uma orgulhosa e espirituosa moça britânica." O estupro é iminente na maior parte do filme, e somente gradualmente domesticado quando o sheik é ferido, sendo cuidado pela garota, e levado a entender o quão desejável é o casamento.
A banalidade é fácil de ser zombada, mas era a credulidade ingênua de tantas imaginações femininas que explicava as apaixonadas seguidoras de Valentino. O Sheik incorpora a ambivalência do cinema, oferecendo arrebatar mentes inexperientes com sonhos de glamour proibidos, mas acabando por optar pela estabilidade social. E é digno se frisar que a garota "britânica" em O Sheik é capturada mascarada como uma escrava árabe. Escravidão, captura, perigo, cuidados, amada e esposa - há uma gama noturna de uma senhora de classe média, uma jornada segura e tranquila, renovando esperanças de emoção e restaurando a autoestima da dama em relação à sua própria atratividade. Para Valentino, significa uma divisão de personalidade: inicialmente o homem selvagem, seu corpo cheio de óleo, seus olhos tão duros quanto seu pênis; mas, ao final, o impulsionador ferido, humilhado, trazido de volta a uma mais saudável e submissa calma, e ao casamento.
2. Desde que, claramente, não era um ator, aqueles imunes ao sonho, insultaram-no. Escolheram considerá-lo primeiro como um gigolô. Tal interpretação enfatizava seus sombrios primórdios na América, de 1914 em diante, como dançarino de um café, extra em filmes, pequeno trapaceiro, e flexível oportunista sexual. Em tempo, ressaltava o fato que o estuprador era bastante inseguro. Seu primeiro casamento, com a dançarina Jean Acker, era reputado como nunca consumado. Após isso, duas mulheres competiram por seu controle: Natacha Rambova, sua segunda esposa, e June Mathis, uma executiva da Metro. Mathis havia sido o cérebro por trás de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, e havia insistido para Valentino interpretá-lo. Rambova fora diretora de arte em A Dama das Camélias. Ela crescentemente dominou o italiano, com Mathis, persuadindo-o a abandonar a Metro pela Paramount, onde O Sheik foi realizado. Após isso, atuou em Moran of the Lady Letty [De Marujo a Comandante] (22, Melford), com Gloria Swanson em Beyond the Rocks [Esposa Mártir] e como o toureiro em Blood and Sand [Sangue e Areia] (22, Fred Niblo).
Mas então as duas damas pressionaram para que ele insistisse em uma maior liberdade. Primeiro Mathis escreveu The Young Rajah [O Jovem Rajá] (22, Phil Rosen) para ele, e então Rambova o persuadiu a se estabelecer como um independente, com J.D. Williams, lançando através da Paramount. Escreveu e o delineou como um personagem mais efeminado em Monsieur Beaucaire (24, Sidney Olcott), A Sainted Devil [Pecador Divino] (24, Joseph Henabery) e Cobra (25, Henabery). Veio a tona que Rambova possuía alianças lésbicas, mas ela apenas trouxe qualidades da homossexualidade que havia sempre sido latentes em Valentino. O acordo com Williams foi rompido, e Valentino se mudou para a United Artists para dois filmes finais e aperfeiçoados: The Eagle [O Águia] (25, Clarence Brown e The Son of the Sheik [O Filho do Sheik] (25, George Fitzmaurice). Mas, então, a hostilidade masculina já havia se fixado nele. O jovem fauno, autor de poesias tolas e instrumento de mulheres dominadoras, foi chamado de "pó de arroz rosa" pela imprensa. A morte o livrou de uma sórdido escândalo, empurrando-o para a mitologia e, incidentalmente, salvou-o da exposição que o som teria ameaçado. (Observe que Jeanine Basinger considera que poderia ter se tornado George Raft).
3. A terceira perspectiva é a de Valentino. Pois parece que estivesse perplexo com sua fama e a abundância de personagens que ela lhe proporcionara. Sua personalidade nas telas e sua reputação são ambas inacessíveis agora porque dependem da moda do momento. Os homens sempre tiveram uma posição insegura diante das câmeras, e o apelo sexual masculino desaparece muito mais rapidamente do que a influência exercida pelas atrizes. Mas Valentino foi a origem de uma importante linhagem de heróis das telas: o andrógino sexual, um ícone para damas desiludidas e também para homossexuais. Ele é o primeiro de uma pequena, mas marcante, banda de refinados e brilhantinados, que inclui Presley, Mick Jagger e os atletas do estábulo de Warhol.
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2696-98.
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