Filme do Dia: Os Amantes de Montparnasse (1958), Jacques Becker


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Os Amantes de Montparnasse (Montparnasse 19, França/Itália, 1958). Direção: Jacques Becker. Rot. Original: Jacques Becker, Henri Jeanson & Max Ophüls sobre o argumento de Michel-Georges Michel. Fotografia: Christian Matras. Música: Paul Misraki & George van Parys. Montagem: Marguerite Renoir. Dir. de arte: Jean d´Eaubonne. Figurinos: Georges Annenkov & Jacques Heim. Com: Gérard Philipe, Lili Palmer, Anouk Aimée, Gérard Sety, Lila Kedrova, Lino Ventura, Arlette Poirier, Pâquerette.
           O incorrigível pintor alcóolatra Modigliani (Philipe), cansado de sua vida errante e das brigas com a liberal e superficial Béatrice (Palmer) acaba se envolvendo com uma moça que conhece na Academia, Jeanne (Aimée). Jeanne abandona a família para procurar por Modigliani na província, onde foi para se recuperar. Um dos poucos fiéis amigos do casal é o marchand Sborowski (Sety), que procura ser o mais pragmático possível, sem grande sucesso. Vivendo sempre em dificuldades, Modi, como é conhecido pelos íntimos, finaliza seu processo de auto-destruição, sem que Jeanne ou Sborowski consigam reverter a situação e fazendo com que o insensível especulador Morel (Ventura),  mais uma vez se beneficie das obras de um artista morto.
             Becker, em seu penúltimo filme, inevitavelmente se enreda nos clichês típicos de filmes biográficos, sobretudo sobre pintores e músicos de jazz célebres, em que o artista é analisado sob o prisma do gênio incompreendido, herança simplificada do romantismo alemão. Alguns efeitos fáceis de maniqueísmo, como a sórdida figura de Morel, incapaz do menor escrúpulo humano contraposta ao dedicado Sborowski são igualmente perfeitamente dispensáveis. Dito isso, entretanto, cumpre salientar que o filme prima por uma visão relativamente equilibrada e distanciada de um efeito lacrimogêneo explícito, presente nos piores momentos de seu contemporâneo americano Sede de Viver, sobre Van Gogh. Philipe, por sua vez, vive o protagonista com um carisma que não descamba para a ingenuidade grosseira de tipos contemporâneos ao filme como Jean-Pierre Cassel em O Gozador e similares e com seu lado sedutor contrabalançado pela depressão e falta de auto-estima. Fica patente no personagem, sem sombra de dúvida, o costumeiro olhar cheio de ternura humanista sem cair no sentimentalismo fácil que é habitual do cinema de Becker, um meio termo entre a produção acadêmica francesa execrada pelos cineastas que farão seus nomes na década seguinte e aqueles que, mesmo trabalhando com narrativas convencionais e no sistema de estúdio eram tidos na mais alta conta como “autores”, tais como Renoir – de quem o cineasta foi discípulo - e Max Ophüls, que co-assina o roteiro dessa produção e morreu enquanto a dirigia. Astra Cinematográfica/Franco London Films. 104 minutos.


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