O Dicionário Biográfico de Cinema#245: Roger Vadim
Roger Vadim (Roger Vadim Plemiannikov) (1928-2000), n. Paris
1956: Et Dieu Créa la Femme [E Deus Criou a Mulher]. 1957: Sait-on Jamais? [Aconteceu em Veneza]; Les Bijoutiers du Clair de Lune [Vingança de Mulher]. 1959: Les Liaisons Dangereuses [Ligações Amorosas]. 1960: Et Mourir de Plaisir [Rosas de Sangue]. 1961: Le Brid sur le Cou [Torneio de Amor]; 'L'Orgeuil', um episódio de Les Sept Péchés Capitaux [Os Sete Pecados Capitais]. 1962: La Vice et la Vertu [Vício e Virtude]; Le Repos de Guerrier [O Repouso do Guerreiro]. 1963: Château en Suède [Castelos na Suécia]. 1964: La Ronde [Circle of Love]. 1966: La Curée [O Perigoso Jogo do Amor]. 1968: "Metzengerstein", um episódio de Histories Extraordinaires [Histórias Extraordinárias]; Barbarella. 1971: Pretty Maids all in a Row [Garotas Lindas aos Montes]. 1973: Don Juan 73 ou Si Don Juan Etait une Femme [Se Don Juan Fosse Mulher]. 1974: La Jeune Fille Assassinée [A Jovem Assassinada]. 1976: Une Femme Infidèle [A Mulher Fiel]. 1980: Night Games [Jogos Noturnos]. 1982: Hot Touch. 1983: Surprise Party. 1987: And God Created a Woman [E Deus Criou a Mulher]. 1988: um episódio de Deadly Nightmares [O Carona]. 1994: Amour Fou.
É preciso ser um intelectual libertino de cabeça vazia para desfrutar de tantas jovens bonitas na carne e no celuloide, vê-las passar por ele uma após outra, e ainda assim persistir com filmes que tem toda a animação suspensa de um sonho masturbatório. Há um esplendor idiota uma vez Vadim tendo transformado o cinema em seu próprio harém, absurdo o suficiente para nos deixar encalhados entre a inveja e a reprovação.
A realidade do sexo (se tal coisa ainda existe) deve ser uma emoção interior trocada (estas eram as pretensões por seus realizadores), ridiculamente glamorizados e trivializados pelo erotismo da nudez Cinemascópica. Sexo como expectativa, ou cura retrospectiva; sexo como um produto de consumo; como uma ideia mágica - estas eram as preocupações de Vadim. Desaprovadores afirmam que ele despiu tantas de suas próprias conquistas para nos insultar, e para tornar sua habilidade notória. Mas talvez tenham realizado imagens tão suntuosas para possibitá-lo viver de ideias. As realidades humanas não se intrometem em seu universo, e há sinais deprimentes de uma verdadeira hostilidade às mulheres enquanto pessoas, mais que como objeto sexual que é possuído no momento de ser visto. Isto é o que torna Circle of Love de Vadim mecânico e despovoado, um brinquedo embrulhado, e o de Ophüls um veículo perigoso que transporta pessoas frágeis e sem seguro.
Mas mesmo que você decida que o voyeurismo de Vadim é triste, sórdido, desprovido de vida, ele é também uma corrupção universal da humanidade (tão universal que se tornou normal) e profundo no coração do cinema. E é possível que a maior parte da atividade sexual no mundo seja imaginária e privada - o que quer dizer não correspondida, mas desfrutada por trás dos olhos fechados - então Vadim é digno de estudo. Talvez ele seja o ponto de encontro cego entre o cinema de arte e o tipo de satisfação desenfreada dos gostos eróticos que a escuridão sempre incentivou e que o cinema ainda pode descobrir como seu destino comercial. Quando as ruas se tornam árduas e perigosas, quem condenaria o uso dos cinemas para solitárias autoexpressões, onde a imagem piscando dá uma breve substância aos sonhos que elevam pressões intoleráveis?
Há alguma advertência puritana a ser feita? Garotas Lindas aos Montes é, sociologicamente falando, um filme de ideias perturbadoras no qual o seu personagem central - um divertido Rock Hudson (uma vez tudo que a Universal permitia aos apaixonados) - que não separa sua foda de ninfetas em um campus universitário do assassinato delas. Irreais demais para conhecer na cama, estas garotas são plásticas o suficiente para serem descartadas. A ideia sexual de Garotas Lindas se torna psicótica, representando o desprezo pela realidade humana que sempre foi implícita ao método. E, no entanto, é trivialmente brincalhão e a sucessão de crianças pós-púberes é dourada pela fotografia daquele veterano, Charles Rosher, que uma vez capturou o êxtase de Janey Gaynor em Sunrise [Aurora]. Garotas Lindas poderia ser desculpado por sua sátira dilacerante, mas Vadim foi sempre desprovido de humor, incapaz de descartar sua obsessão com o glamor. A atratividade desperdiça personagens, e deixa a insegurança horrorosa de um mundo de aparências. O cinema de Vadim evidencia o isolamento do espectador.
Nisto reside seu interesse: o senso de poder inútil entusiasmado no espectador. Vadim criou a lenda Bardot. Começou no cinema como assistente de Marc Allégret: Blanche Fury [Mais Forte Que o Amor]. E foi através de Allégret que, em Futures Vedettes [A Mais Linda Vedete], conheceu Bardot. Sem dúvida, estava suficientemente atento à moda tumescente para perceber a relevância iminente de tal tola glória. Fez com que um corpo magnífico e vazio estivesse ciente de que estava sendo observado e tolerante com o espetáculo. Nas pin ups, as garotas sabem que o homem pode estar se masturbando (ao alcance, por mais distante que esteja), e ainda assim elas sorriem, com os lábios úmidos, e uma incapacidade maternal de ficar com raiva. A despeito de sua farça dos tempos de Jane Fonda, é provável que Klute não tivesse sido tão franco se Vadim não a tivesse ensinado antes primeiro a admirar a si própria (Barbarella) e então detestar esta visão niilista. Fonda proporcionou a Vadim seu único momento de humor, tornando Barbarella em uma simplória numa máquina do prazer. Mas em Klute, como a garota que olha para o relógio enquanto finge estar feliz, nos braços de um vendedor, ela pode estar dando a língua para Vadim.
Por todos os padrões literários, fornece bobagem. Mas no cinema, isto nos leva a indagar, "são as apresentações em telas panorâmicas de mulheres nuas bobagens, ou eu sou o bobo a assisti-las?" Visualmente seus filmes são tão adolescentes e imaginativos - qual idade é mais imaginativa? - quanto anúncios de loções corporais e lingerie. Onde ele é importância inevitável para o humanista libidinoso é na ênfase na excitação de si mesmo e de seu público. Ele sugere que o erotismo é superior ao sexo. Afirmamos que não deveria ser assim. Mas, se temos a justiça do nosso lado, talvez então ele tenha a precisão. A mulher mais sexy de sua obra é Françoise Arnaul em Aconteceu em Veneza, que mal tira uma peça de roupa. A nudez resplandecente de Bardot e Fonda - em E Deus Criou a Mulher, Vingança de Mulher, O Repouso do Guerreiro, O Perigoso Jogo do Amor e Barbarella - é puramente iconográfica. Ele é instintivamente um decadente, subordinando enredo, pessoas e significado à harmonia visual. Mas em Aconteceu em Veneza, o herói, que cai numa intrig veneziana de filme de Gerald McBoing-Boing (*) é um precursor do Belmondo de Acossado. Além do que, o filme faz uso de Veneza e do Modern Jazz Quartet tão elegantemente, quanto posteriormente recorrerá a Laclos, Sheridan le Fanu e tantas mulheres, despidas, mas não reveladas. O mais angustiante é a consciência publicitária da maldade. Instintivamente, Vadim sempre possui um sentimento pela depravação: daí o par de Peter e Jane Fonda em Histórias Extraordinárias e o retorno de Bardot indefesamente envelhecida - para Se Don Juan Fosse Mulher, na cama com Jane Birkin, em um esforço de reviver suas [de Vadim] exauridas fantasias.
Tantas revoluções sexuais e catástrofes deixaram Vadim parecer mais um anacronismo. Assim, em 1987, quando se aproximava dos 60, sua câmera acariciava Rebecca De Mornay em um remake do filme de Bardot que necessitava muito da inocência do de 1956 para parecer ousado.
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, pp. 2693-96.
(*) N. do E: Popular personagem de séries animadas derivativas do curta ganhador do Oscar homônimo de 1950, sobre um garoto inompreendido por tudo e todos que se torna famoso nacionalmente.
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