Filme do Dia: Infâmia (1961), William Wyler

 



Infâmia (The Children´s Hour, EUA, 1961). Direção: William Wyler. Rot. Adaptado: John Michael Hayes, baseado na peça de Lillian Hellman. Fotografia: John Michael Hayes, baseado na peça de Lilian Hellman. Fotografia: Franz Planer. Música: Alex North. Montagem: Robert Swink. Dir. de arte: Fernando Carrere. Cenografia: Edward G. Boyle. Figurinos: Dorothy Jenkins. Com: Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner, Mirian Hopkins, Fay Bainter, Karen Balkin, Veronica Carthwright, Mimi Gibson.

A escola particular recém-criada pelas amigas desde o colegial Karen (Hepburn) e Martha (MacLaine) se vê praticamente fechada, assim como a própria vida pessoal delas arruinada, quando a garota Mary Tilfford (Balkin) conta a sua avó Amelia (Bainter), sobre a suposta relação lésbica entre as duas professoras. O fato abala igualmente a relação entre Karen e seu noivo Joe (Garner). Quando fica comprovada a mentira de Mary, a própria Karen se sente balançada e se afasta do noivo, convidando Martha para viver com ela em outra cidade. Martha, no entanto, suicida-se.
Nessa refilmagem da peça de Lillian Hellman efetuada pelo mesmo Wyler, que havia recebido o título brasileiro de A Revolta do Colégio (1936), trata-se o tema com a liberdade possível para o momento, no qual a homossexualidade começava a ser tematizada, sobretudo sob certo viés sensacionalista (Tempestade Sobre WashingtonMeu Passado Me Condena). Como era comum, então, o cerne da aproximação se dava pelo impacto junto à sociedade. O filme de Wyler parece se encontrar ao mesmo tempo além e aquém desses limites. Aquém, por conta da dissimulação e ambiguidade, mesmo que menos refratária a ao menos verbalizar algo que somente fica sugerido em produções  anteriores (como é o caso de Gata em Teto de Zinco Quente). Além por observar a questão para além do embate social, transformado na questão de sentimentos e possibilidade efetiva de uma relação. Enquanto nos outros filmes citados a publicização vem a tolher atividades que eram desenvolvidas marginalmente, aqui é o próprio embate com o social que traz a superfície o que sempre se encontrara no plano subliminar. É verdade que não apenas tal efetivação não se sucede como o fim que chega a personagem que tardiamente toma consciência de seu próprio desejo é o que mais habitualmente já havia sido apresentado pelo cinema clássico, como observado no documentário O Celulóide Secreto, o da morte trágica. E, por mais que essa morte  se encontre presa à trama da própria peça, o interessante final do filme parece ser a concretização máxima da ambiguidade. De fato, ao mesmo tempo  em que o desfilar soberano de Hepburn, após ter tido um último momento de despedida reservado junto a sua ex-futura companheira, sinaliza para uma nova postura em sua vida, os planos subjetivos de um ainda esperançoso Joe a observá-la apontam para uma volta “aos trilhos da normalidade”, sem mais a incômoda lembrança do próprio desejo não concretizado e ela parece ir de encontro a seu futuro marido, embora os olhares de ambos não se cruzem. Fica assim a cargo do espectador escolher qual desenlace preferiria. Mirian Hopkins, que aqui vive uma tia incômoda de Martha, viveu a própria sobrinha na primeira versão, ao lado de Merle Oberon. The Mirisch Corp. para United Artists. 107 minutos.

Postado originalmente em 24/11/2017

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