Filme do Dia: De Passagem (2003), Ricardo Elias

 


De Passagem (Brasil, 2003). Direção: Ricardo Elias. Rot. Original: Ricardo Elias & Cláudio Yosida. Fotografia: Carlos Jay Yamashita. Música: André Abujamra. Montagem: Reinaldo Volpato. Dir. de arte: Cristiano Amaral. Com: Sílvio Guindane, Fabinho Nepo, Lohan Brandão, Wilma de Souza, Priscila Dias, Paulo Igor, Mariana Loureiro, Lucélia Maquiavelli, Francisca Queiroz.

Jefferson (Guindane) consegue uma licença na escola militar que se prepara  no Rio de Janeiro para visitar a família em São Paulo, chocada com a morte prematura do irmão –problema de Jefferson, Kennedy. Jefferson vai fazer o reconhecimento do corpo com o amigo de infância Washington (Nepo), melhor amigo do irmão. No longo percurso até o IML, acabam relembrando momentos da infância dos três e também entrando em atrito. O fato que causa maior desencontro entre ambos é o do pai de Jefferson ter sido o motivo para o internamento de Washington e Kennedy na Febem. Finalmente ao conseguirem ver o corpodescobrem que não se trata de Washington. Na despedida, Jefferson parece ter se tornado menos rígido e mais aberto aos próprios sentimentos e lembranças.

Centrado basicamente em duas narrativas paralelas que praticamente se sucedem num   único dia – a do passado, trata-se da odisséia dos três garotos para entregar droga numa favela; a do presente, de procura do corpo do irmão-amigo – o filme flerta em alguns momentos com o melodrama social e com o filme de ação, mas acertadamente busca outra chave, mais intimista. Nesse sentido, vai todo seu trabalho de tornar elípticas muitas das situações que seriam justamente as mais exploradas nas outras leituras. Mesmo que não seja nada sofisticada, resvalando mesmo para o clichê, a contraposição entre o irmão militar linha dura e o irmão traficante mais humano e sentimental, o filme consegue contrabalançar tal fraqueza tanto pela ausência do irmão traficante na narrativa contemporânea quanto – e principalmente - por construir uma certa poética do universo sentimental da baixa classe média, sem resvalar seja para o paternalismo, denúncia social ou exploração do universo da violência por si próprio, como usualmente tem ocorrido. Entre suas fraquezas, seu excessivo centramento no diálogo, mesmo que tenha sido bem sucedido numa das poucas incursões predominantemente visuais – quando apresenta os três garotos sentados e imóveis em meio aos trens numa estação, ainda atordoados com o crime involuntário que cometeram. O elenco, ainda que desigual e tendo como destaque o próprio protagonista, que transmite a intensa contenção emocional de seu personagem, acertadamente se esquivou de nomes famosos. Raiz Produções Cinematográficas. 87 minutos.

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