Filme do Dia: O Escritor Fantsma (2010), Roman Polanski
O Escritor Fantasma (The Ghost Writer,França/Alemanha/Reino
Unido, 2010). Direção: Roman Polanski. Rot. Adaptado: Robert Harris & Roman
Polanski, a partir do romance de Harris, The
Ghost. Fotografia: Pawel Edelman. Música: Alexandre Desplat. Montagem:
Hervé de Luze. Dir. de arte: Cornelia Ott, David Scheunemann & Steve
Summersgill. Cenografia:
Bernhard Heinrich. Figurinos: Dinah Collin. Com: Ewan McGregor, Olivia
Williams, Pierce Brosnan, James Belushi, Timothy Hutton, Anna Botting, Soogi
Kang, John Bernthal, Tom Wilkinson, Elli Wallach.
Escritor-fantasma (McGregor) é
contratado pelo Primeiro Ministro Britânico Adam Lang (Brosnan) para escrever
suas memórias, sendo que o que havia sido anteriormente designado para o trabalho,
foi encontrado morto na mesma praia onde o novo escritor é convidado para
permanecer, uma residência de verão do primeiro ministro. A situação começa a
se tornar crescentemente tensa quando o escritor descobre indícios que levam ao
envolvimento de Lang na morte do escritor anteriormente contratado que, como o
atual, também descobrira coisas além do esperado por quem o contratou. Após uma
noite em que dorme com esposa de Adam,
Ruth (Williams), o escritor tenta abandonar a praia, porém um chamado do
primeiro-ministro o faz retornar temeroso e ingressar no jato particular dele.
Durante a viagem, ele afirma a Lang tudo que sabe sobre ele. Quando saem do
avião, no entanto, Lang é assassinado. Participando do coquetel de lançamento do
livro, seu verdadeiro autor envia uma mensagem para Ruth, alertando-a que ele
sabe tudo sobre o envolvimento dela com o acadêmico Paul Emmett (Wilkinson),
também presente no evento, numa trama que levou Adam ao poder.
Mesmo que o filme possua muitas referências
ao Primeiro Ministro Tony Blair, aproxima-se menos das adaptações para o cinema
de eventos políticos reais como Todo os Homens do Presidente (1976), de
Pakula ou dos hiper-realistas thrillers
políticos da década anterior que giravam em torno de conspirações como Sob o Domínio do Mal, de Frankenheimer,
que do cinema noir clássico. Ao
contrário dos filmes de Pakula, não existe propriamente um talento gráfico que
o distinga visualmente do cenário contemporâneo – como se, desde o momento em
que abdicou de sua veia mais autoral, Polanski se esforçasse ao máximo para
apresentar em seus filmes o que há de mais eficiente ou sofisticado visualmente
na época em que foram produzidos, em termos de cinema de maior apelo de
público, sem se afastar do convencional, e nem sempre o conseguindo. O filme
tampouco faz uso de perseguições ao volante ou da violência, ao menos no mesmo
grau de que se tornaram chamarizes dos thrillers
norte-americanos, sendo que o próprio assassinato do primeiro-ministro possui
um lugar bem restrito na dramaturgia do filme, funcionando apenas como uma peça
a mais do quebra-cabeças. Como se Polanski quisesse mais uma vez se voltar para
o universo mais intimista e de bastidores, tipicamente noir, no qual muitas vezes o limite da violência não vai além de
alguns murros no queixo. Por mais que não consiga ser efetivamente empolgante
ou consiga retraduzir ironicamente convenções trabalhadas de modo bastante
distinto pelo cinema norte-americano como o faz, por exemplo, o contemporâneo Vício Frenético, de Herzog, talvez
possua como maior qualidade a efetiva e bem dosada mescla entre elementos
característicos de filmes de gênero (não falta sequer uma femme fatale, vivida pela própria esposa do primeiro ministro) com
outros egressos do próprio cenário político mundial. Não se chega a antecipar a
história, como o filme de Frankenheimer e mesmo se capitula diante de um final
demasiado convencional. Pode-se até argumentar que é algo herdeiro do original
literário, porém Herzog não se deteve diante de tais empecilhos e acabou
praticamente recriando a chave com a qual a trama original era direcionada.
Polanski trabalhou na pós-produção do filme enquanto ainda se encontrava sob
prisão domiciliar na Suiça. R.P Productions/France 2 Cinéma/Eltfe Babelsberg Film/Runteam para
Optimun Releasing. 128 minutos.
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