Filme do Dia: Tormenta (1930), Arthur Serra

 


Tormenta (Brasil, 1930). Direção e Rot. Original: Arthur Serra. Fotografia: Igino Bonfioli. Montagem: Pedro Piacenza. Com:  Álvaro Santelmo, Alda Rios, Waldy Braga, Severino Peixoto,  Victorio Nunes, Carlos Neron.

Em Ouro Velho, Daniel (Santelmo), o filho de  Jacques , enraivecido com o grupo de amigos, liderado por Julio Guimarães (Neron),  que leva o pai de volta a um antigo vício, a jogatina, ameaça-os e tem como consequência   tiros por Julio, e um pai gravemente ferido. Esse, músico amador, quer deixar uma última composição sua para piano e, quando sente um último sinal de vida, corre para avançar sua composição, morrendo em meio ao esforço. Daniel se torna desgostoso da vida. Um dia que ameaça chover forte, Álvaro (Nunes) pede para pernoitar com a irmã Lucia (Rios). Enquanto Daniel passeia a cavalo com Álvaro, Lucia (Rios) aproveita a sua saída para fazer uma limpeza caprichada na casa. Daniel agradece a moça, que se encontra noiva, mas que afirma se tratar de um interesse maior do pai que dela própria. Ele reage às tentativas de aproximação de Suzana (Braga), no entanto. O envolvimento de Daniel com Lucia também não é livre de problemas. Apesar de se encontrar apaixonado, vem a descobrir que é filha de Julio Guimarães.

Um tanto desajeitado, seja no trato visual, seja na elaboração de sua narrativa, o filme certamente ganha muito com a fotografia do também realizador Bonfioli, que consegue algumas belas – e talvez os melhores momentos – imagens, como as um tanto excêntricas que acompanham a dupla de amigos em seu passeio à Lagoa. Há alguma cartelas saborosas pela desmedida dosagem de páthos: ”A primitiva selvageria de Daniel provocará, em Suzana Macedo, uma brutal paixão.” E numa cartela seguinte recorre a nada menos que as “Sagradas Escrituras”. Ou ainda mais adiante, quando o narrador afirma, categórico: “Apanhara já gosto pela vida. Uma tênue claridade rasgará aos poucos a densa escuridão de seus pensamentos sombrios.” É provável que o filme tenha sobrevivido incompleto, já que o episódio envolvendo a atração  ou “primitiva selvageria” é com uma personagem que surge do nada e do nada retorna, a coquete Suzana. Tampouco fica claro quem (se é que há uma motivação única)  está praticando assassinatos contra a família Guimarães, o que fica ambíguo se foram crimes praticados pelo herói, já que ele está com uma caderneta com o nome dos membros da família riscados e um investigador da polícia não por acaso o tem como principal suspeito, mas não vemos nenhuma movimentação por parte dele em relação a tais crimes. Daniel é vivido com nuances dramáticas, mesmo que irregulares, que parecem se encontrar bem adiante da maior parte das interpretações de seu tempo, sobretudo quando se encontra atormentado e assombrado pelos fantasmas envolvendo as memórias do assassinato de seu pai; algo que o filme também consegue trabalhar de forma interessante visualmente e longe de excessos, através da aproximação da câmera da figura. Inicia com cartelas patrióticas (algo comum no cinema silencioso brasileiro, como demonstra os arroubos de São Paulo, Sinfonia da Metrópole, ou os mais modestos comentários de Jurando Vingar) que talvez tenham a ver diretamente com financiamentos governamentais. S.A.I.F.A Yara. 60 minutos.

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