Filme do Dia: Ilha nos Trópicos (1957), Robert Rossen

 


Ilha nos Trópicos (Island in the Sun, EUA, 1957). Direção: Robert Rossen. Rot. Adaptado: Alfred Hayes, a partir do romance de Alec Waugh. Fotografia: Freddie Young. Música: Malcolm Arnold. Montagem: Reginald Beck. Dir. de arte: John DeCuir. Figurinos: Phyllis Dalton & David Ffolkes. Com: James Mason, Joan Fontaine, Dorothy Dandridge, Joan Collins, Harry Belafonte, Michael Rennie, Diana Wynyard, John Williams, Stephen Boyd.

Numa ilha do Caribe, durante o regime colonial, Maxwell Fleury (Mason), playboy da elite, lança-se como candidato a governador de um lado, enquanto o carismático jovem negro de origem humilde, David Boyeur (Belafonte) possui bem maior apelo junto aos ilhéus, de expressiva maioria negra. Enquanto Fleury descobre ser filho de uma negra, e portanto ser um mestiço, tornando-se alvo de controvérsia com a matéria do jornal, também se encontra grandemente desconfiado que sua esposa (Wynyard) o trai com o viajado Hilary (Rennie). Sua irmã, Jocelyn (Collins), por sua vez, acredita que a revelação poderá ter efeito junto a um membro da aristocracia britânica, Euan (Boyd), que se encontra apaixonado por ela. Já o discurso radicalmente anti-branco de Boyeur não o impede de se envolver com a branca Mavis Norman (Fontaine). E a negra Margot (Dandridge) parece disposta a acenar positivamente para quem a convidar para as festas da elite ou sinalize para uma vida fora da ilha.

Mesclando tensões amorosas e raciais, essa produção, ao apresentar um prólogo com cenas turísticas ao som de um igualmente “exótico” calipso, seguidas de uma abordagem tipicamente documental, em que apresenta representantes dos 90% da população negra trabalhando no cultivo da cana e em plantações de banana, talvez sugiram qual das tensões será proeminente. Na verdade, haverá uma mescla de ambas com as tensões trazidas pelas relações inter-raciais.  O colorido local, não tão distante assim daquele que um Huston já apresentava em seus filmes, surge aqui e ali, assim como uma primeira fala mais prolongada de Belafonte clamando não por caridade mas sim por uma maior igualdade racial, quando o personagem de Mason o lembra que seu pai trabalhara para ele em sua plantação. Suas relações inter-raciais (ou sugestões de) são apresentadas de forma bem mais tímida e distantes do beijo prolongado dado por Jocelyn em seu Euan. E, não apenas a intimidade do engajado David é negada, observando-se somente sua atuação pública ou, no máximo, o ambiente pobre no qual viveu sem direito a nenhuma cena interna em sua casa – cujo contraste seria certamente lancinante ou pelo menos uma atenuação diante dos mais cinematográficos interiores da elite que o filme evidentemente favorece – como o mau-caratismo, insegurança e talvez impotência de Maxwell não deixe de se encontrar vinculada ao seu sangue mestiço somado a têmpera familiar de ter sido o relegado em relação ao irmão morto herói em combate. E, não menos cômoda é a solução final, que faz com que a mulher negra parta para a metrópole britânica com o homem branco, mas a mulher branca finde sua relação com o homem negro, a quem inclusive havia acometido o lapso de chamar de “crioulo” um dia antes. Quando se afasta da direção ou roteirização de temas mais afinados com seu metier, como é o caso em questão, Rossen realiza uma obra irreconhecível em relação aos seus melhores filmes. De fato, pesa contra este a quantidade exorbitante de personagens e tramas paralelas herdadas – e não enxugadas – do romance que lhe deu origem e um enfrentamento mal resolvido tanto das questões amorosas quanto raciais, incluindo no pacote uma questão criminal. Nem exatamente um suspense, nem melodrama ou drama liberal, embora contendo elementos de todos, patina em momentos que não conseguem articular algo de maior consistência, como o canto do Boyeur de Belafonte em réplica aos pescadores da comunidade em que nasceu, versão quase transplantada do exotismo coletivo negro, que podia ser vivido contemporaneamente no próprio universo do Sul Profundo dos tempos da escravidão e da Guerra da Secessão em Meu Pecado Foi Nascer, de Walsh. Porém, da mesma forma que Belafonte não possui nem de longe a eloquência de Poitier, o filme tampouco consegue costurar sequer uma trama romanesca e anacrônica minimamente razoável a ser criticada. A determinado momento o personagem de Euan sugere para Jocelyn afirmar à mãe que foram assistir Sapatinhos Vermelhos (1948), da dupla Powell&Pressburger, e que ela diga que o achou lento, algo inusitado para um filme que dura apenas um pouco menos e parece infinitamente mais longo de tão aborrecido, dramaticamente mal resolvido e inócuo que é. Darryl F. Zanuck Prod./Twentieth Century Fox Film Corp. para Twentieth Century Fox Film Corp. 119 minutos.

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