Filme do Dia: Thunderstorm (1934), Vladimir Petrov

 


Thunderstorm (Groza, União Soviética, 1934). Direção: Vladimir Petrov. Rot. Adaptado: Vladimir Petrov, a partir da peça de Aleksandr Ostrovskiy. Fotografia: Vyacheslav Gordanov. Música: Vladimir Shcherbachov. Dir. de arte: Nikolai Sovurov. Com: Alla Tarasova, Ivan Chuvelyov, Mikahil Tsaryov, Varvara Massalitinova, Irina Zarubina, Mikhail Zharov,  Yakaterina Khorchargina-Aleksandrovskaya, Mikhail Tarkhanov.

Na pequena Kalinov, primeira metade do século XIX, Katerina (Tarasova) se casa com Tikhon (Chuvelyov), filho da importante e religiosa mercadora Marfa (Massalitinova). Katerina não sente maiores afeições por seu estúpido marido e quando esse parte,  ela não resiste em se encontrar com o homem por quem sente verdadeira atração, Boris Grigoriyevich (Tsaryov), com a ajuda de sua nora, Barbara (Zarubina), que também possui um amante entre os comerciantes do mercado. Katerina, no entanto, não consegue lidar com a culpa e após uma missa declara sua infidelidade diante de toda a comunidade. A noite, ela vai ao encontro de Boris, que afirma que partirá para a Sibéria por ordem do tio. Ela pede que a leve com ele, mas ele se despede. Katerina se joga nas águas do rio.

Para quem estava lidando com sistema de sonorização de filmes de forma tão recente, essa produção soviética ao apresentar o banquete festivo de casamento em seu prólogo, igualmente o apresenta através de um festival de movimentos de câmera. E a própria representação da celebração mescla o religioso com o mais fortemente – e até grotescamente – mundano e carnal.  Seu relativamente longo prólogo – oito minutos ou o equivalente a um rolo de filme – finda de forma engenhosamente consciente. E no início da segunda sequencia o filme imediatamente contrapõe o festivo banquete com o constrangedor silêncio que acompanha o casal agora restrito à própria intimidade. E igualmente, o caráter romântico e comunicativo da noiva em contraposição a gulosa voracidade bestial de sexo do noivo. Na terceira sequência, percebe-se a rápida perda de viço da noiva com o cotidiano em paralelo com um pássaro engaiolado. Na quarta sequência a visita ao mercado, ou seja, um respiro na reclusa vida doméstica e a possibilidade de flerte de ambas as mulheres, sobretudo a mais desembaraçada – e também desimpedida – nora Barbara. Na quinta sequência, o que se imagina como futuro amante de Katerina se apresenta à serviço de seu padrinho-tio no mercado. Na sexta, uma tensão familiar surge com Tikhon dividido entre Katerina e a mãe. Mais ou menos pela metade do filme se anuncia uma tempestade que de fato não se concretiza. Noutro campo, o dos sentimentos, no entanto, ela está em pleno vapor e a cumplicidade de Katerina com sua nora é tocante, quando se observa a sugestão dela própria de ajudar no encontro dessa com o seu objeto de desejo.  As panorâmicas relativamente prolongadas de alvoradas sobre o rio servem tanto para pontuar o ritmo do filme quanto para traduzir seu pathos suavemente lírico e transcendental (acentuado pelos cantos que as acompanham). Dentre os destaques o momento em que sucumbe ao peso da culpa sobre “o olhar” dos severos ícones religiosos nos muros da igreja, algo que será multiplicado pelos olhares igualmente duros das outras mulheres, a começar pela própria matriarca da família a qual passou a fazer parte. Adaptado de uma peça, embora o filme lide com o desejo feminino, algo praticamente eludido da heroína de Women of Ryazan (1927), que é sobretudo vítima das circunstâncias, a opção tomada pelas duas é a do suicídio nas águas do rio. GUKF. 85 minutos.

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