Filme do Dia: O Voto é Secreto (2001), Babak Payami

 


Voto é Secreto (Raye Makhfi, Itália/Irã/Suíça/Canadá, 2001). Direção e Rot. Original: Babak Payami. Fotografia: Farzad Jadat. Música: Mike Galasso. Montagem: Babak Karimi. Dir. de arte: Mandana Masoudi. Figurinos: Faride Harajl. Com: Nassim Abdi, Cyrus Abidi, Youssef Habashi, Farrokh Shojaii, Golbahar Janghali.

No dia das eleições, uma garota (Nassim Abdi), enviada pela junta eleitoral, chega a um posto militar em uma região isolada do deserto, para ser acompanhada por um de seus membros, um soldado (Cyrus Abidi), que cumpre o papel, inicialmente indignado, o papel de ser sua escolta, já que esperava que viesse outro homem. Juntos, eles fazem um longo percurso, onde se deparam com as situações mais inusitadas que vão desde um homem que corre, afastando-se do carro até um povoado onde as pessoas não votam já que se encontram sob o domínio do líder local ou, como um ancião que faz a manutenção de uma usina de energia solar, acabam votando em Deus, pois não acredita no destino traçado pelos homens. A garota se desespera ao retornar ao acampamento militar, pois aparentemente ela perdeu a condução para retornar e os votos serão anulados. Pouco tempo depois, no entanto, pousa um avião que irá leva-la.

Sem dúvida alguma influenciado pelos grandes realizadores de seu país (a idéia da história partiu de Makmalbaf, enquanto a fotografia e as longas peregrinações de carro remetem a obra de Kiarostami), Payami tentou efetivar uma comédia de humor negro, onde muito dos elementos que poderiam provocar hilaridade são subjugados pela própria dimensão crítica e engajada do cineasta. Assim, a todo momento são efetivadas referências a condição de inferioridade da mulher iraniana (desde o soldado que resiste inicialmente a aceita-la como interlocutora até uma comunidade aldeã que não permite que as mulheres adentrem o cemitério local e outra em que elas só podem votar após ouvirem seus homens) assim como práticas de subjugação política aos líderes locais que nada tem de humorísticas. Tampouco chega a ser divertida sua esquemática contraposição entre os valores tradicionais encarnados no bruto e inseguro soldado, que quer fazer valer a qualquer custo sua autoridade e a voz da lei, da modernização e da democracia participativa encarnada na esforçada garota urbana que procura conquistar o maior número de votos possíveis de pessoas que, em sua maior parte, pouco ou nada compartilham da significação que para ela possui a votação. Talvez a dimensão de absurdo possa ser melhor apreciada na Europa Ocidental, já que para boa parte do restante do mundo, inclusive no Brasil, muitas das realidades evocadas pelo filme ainda remetem a sua história recente ou mesmo contemporânea. Infelizmente, tal dimensão do absurdo raras vezes diz respeito ao próprio universo visual do filme, como quando a urna é jogada de para-quedas no início ou – e principalmente – quando o avião pousa em meio ao deserto, no final. Provavelmente por ser uma co-produção internacional, rompe com o universo apolítico e não reflexivo de boa parte das contradições sociais vivenciadas pelo país  em que se viu enredada boa parte da cinematografia iraniana, por questões de repressão política, apresentando igualmente uma realidade litorânea pouco explorada pela produção que chegou ao mercado internacional. Por outro lado, porém, não possui a mesma sofisticação narrativa nem encantamento estético de filmes menos politizados como O Jarro (1992), de Ebrahim Foruzesh ou O Balão Branco (1995) e O Espelho (1997) de Jafar Panahi. Com interpretações irregulares, sendo a garota bem mais convincente que o soldado, o filme recebeu diversos prêmios internacionais entre eles o Prêmio do Júri Popular na Mostra de São Paulo e o Prêmio Especial de Melhor Diretor no Festival de Veneza. Fabrica/Payam/Rai Cinemafiction/Sharmshir/TSI. 100 minutos.

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