Filme do Dia: Everyday (1929), Hans Richter

 


Everyday (Reino Unido/Suiça, 1929). Direção: Hans Richter. Rot. Original: Hans Richter & Hans Arp.

Já da primeira imagem de seus créditos iniciais, em que se tem o título recortado contra um catálogo de indicações aparentemente do preço de ações ao fundo, encontra-se posto referências ao tema e (alguns dos) recursos estilísticos utilizados para compo-lo visualmente. O titulo parece ser resultado de um processo de colagem de letras, evocando a própria colagem visual e sonora que é o filme, já o catálogo o primeiro indicativo do processo de massificação que o filme parece reiterar ao longo de sua metragem, e uma crítica direcionada ao coração do sistema capitalista, o mundo das finanças. É impossível não observar que é a visão crítica que guia o filme, sem concessões, ao contrário das mais ambíguas sinfonias contemporâneas como Berlim, Sinfonia de uma Metrópole (1927), de Ruttman e O Homem com a Câmera (1929), de Vertov. Parece quase impensável que Richter não tenha visto o filme de Vertov, lançado no mesmo ano, tal a similaridade de vários de seus motivos,  como a repetição de processos fabris destituídos de qualquer significado para os trabalhadores que os praticam, a exemplo dos maços de cigarro reunidos pelas mãos, ou as telefonistas a ligarem e desligarem chamadas, acentuados pela montagem acelerada, todos bastante próximos da representação trazida pelo cineasta soviético. Ou ainda a tomada a partir dos trilhos de uma locomotiva se deslocando a grande velocidade.  A banda sonora, algo inexistente na produção de Vertov, torna-se um auxiliar nesse processo de representação, com pés sendo pousados ao chão para mais um dia de trabalho acompanhados no áudio  pela rotação de uma máquina (locomotiva? prensa?) que transforma o corpo humano em mais uma máquina à serviço do capital. Pouco depois cânticos tribais ilustram uma cena de multidão e de tráfego intenso em Londres. E pela leitura quase tão frenética do acompanhamento de uma partida de futebol para o mercado de ações. Ao contrário daquela, no entanto, o tom é de absoluta impessoalidade. No escritório, todos ansiam para o segundo exato que os libere do ofício. Assim como Vertov, o próprio cinema não deixa de ser motivo, embora de uma forma de longe menos auto-reflexiva. Aqui, tanto pode ser imagens de beijos, massificadas quanto qualquer outro produto exibido em montagem acelerada e contrapondo o lado de algumas das imagens originais com seus contrapontos, quanto uma aparente incursão antropológica em que homem e mulher de torsos desnudos. Eisenstein e o documentarista Basil Wright participaram da produção, o primeiro como o (não reconhecível) guarda de trânsito. The Film Society.  17 minutos.

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