Sidney Poitier (1927-2022)/Peter Bogdanovich (1939-2022)

 


Nesta semana,  o cinema perdeu dois talentos marcantes. O ator Sidney Poitier, vencedor do primeiro Oscar para um ator negro por um filme distante dos mais interessante que fez, Uma Voz nas Sombras. O tema racial esteve quase inexpugnavelmente colado à carreira do ator que embora iniciada em 1950, com o filme O Ódio é Cego, somente teria o ápice da popularidade em meados dos anos 60, e mais particularmente em 1967, quando três de seus maiores sucessos estrearam: No Calor da Noite, seu filme de maior impacto, Adivinhe Quem Vem para Jantar e o ainda clássico nas sessões da tarde de década e meia após, o sentimental Ao Mestre, com Carinho. Espécie de tipo ideal para que os realizadores liberais norte-americanos plasmassem suas mensagens, e a encarnação quase caricata seria Stanley Kramer, com quem além de Adivinhe, estrelou Acorrentados, assim como protótipo para a sondagem acanhada de temas como relações interraciais (Quando Só o Coração Vê), apoio para os inseguros, sendo pago com a morte (Um Homem Tem Três Metros de Altura), dramas escravagistas temporões (Meu Pecado Foi Nascer), paralelo para um casal branco "avançado" (Paris Vive à Noite), conflitos raciais na África que envolvem um branco e um negro "criados juntos" (Sangue Sobre a Terra) raramente sendo empregado em filmes de proposta mais prosaica como Os Legendários Vikings. Ou ainda, curiosamente, estando do outro lado da relação de poder da sala de aula, no mais cru Sementes da Violência. Uma rara oportunidade de observá-lo a partir de um ambiente predominantemente negro se encontra em O Sol Tornará a Brilhar, produção menor e pouco lembrada de sua filmografia. Já no momento posterior ao declínio do auge de seu sucesso, acompanhado das acusações de ter sido instrumentalizado no papel de "bom negro" pela radicalização do final dos anos 60,  encontra-se ao lado do mais engajado (e com quem teve tensões ao longo de sua carreira) Harry Belafonte em Um Por Deus, Outro Pelo Diabo.


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Peter Bogdanovich, cuja vibrante carreira inicial renderia ao menos um dos grandes clássicos da New Hollywood, A Última Sessão de Cinema, celeiro para talentos em início de carreira ou veteranos pouco destacados pela indústria até então. Com diversos livros sobre aspectos que envolvem ou discutem o cinema clássico hollywoodiano, de Welles a entrevistas com diretores célebres.

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