Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#60: Fina Torres



 TORRES, FINA. (Venezuela, 1951.) Ainda que não muito prolífica, Fina Torres tem mantido uma carreira incomumente proeminente como diretora de cinema latino-americana, viajando de um canto para outro, incluindo Hollywood, em busca de financiamento para seus projetos. Nascida Josefina Torres Benedetti, em Caracas, Venezuela, estudou design, fotografia e jornalismo em seu país natal, enquanto jovem, tornando-se fotojornalista aos 17 anos. Mudou-se para a França, onde graduou-se em cinematografia no prestigiado Institut des Hautes Études Cinematographiques, em Paris. Já versátil no cinema, permaneceu na França e trabalhou como operadora de câmera, montadora e supervisora de roteiros. Em 1989 foi trainee de assistente de diretora  para Nadine Trintignant em Premier Voyage, co-escrevendo então um roteiro para longa-metragem com Catherine Philippe-Gérard, para o qual foi capaz de assegurar financiamento tanto da França (Arion Productions) quanto da Venezuela, através da agência de financiamento estatal, FONCINE (FONDO DE FOMENTO CINEMATOGRÁFICO DE VENEZUELA). O filme resultanta, Oriana (1985), que produziu e dirigiu, ganhou a Camera D'Or em Cannes e foi subsequentemente lançado em vários países. 

A despeito da aclamação internacional de seu primeiro longa, foram necessários dez anos antes que Torres produzisse e dirigisse seu segundo. Nesse entretempo, produziu um filme dirigido por uma colega venezuelana, Ana Christina Henríquez, Luna Llena (Espanha, 1991) e trabalhou como roteirista de um curta francês em 1993. Para Mécaniques Célestes (Poção de Amor, 1995), Torres foi capaz de reunir financiamentos para uma co-produção internacional da França (muitas companhias e organizações, incluindo Eurimages, o Ministério da Cultura e o Canal +),  e Espanha (Producciones Pandorados), assim como assegurou fundos do venezuelano FONCINE. A história de Ana, uma jovem venezuelana (interpretada pela atriz espanhola Ariadna Gil) que foge de seu próprio casamento para buscar fama como cantora de ópera em Paris,  é sutilmente melodramática em sua narrativa, e no realismo mágico de seu estilo. Premiado no Festival Internacional de Cinema de Toronto, o filme foi um bem recebido entretenimento de comédia/aventura, sendo posteriormente lançado em muitos países, incluindo o Canadá, Estados Unidos e o Brasil. 

O terceiro longa de Torres, Woman on Top [Sabor da Paixão], foi produzido em Hollywood pela Fox Searchlight Pictures. Foi estrelado por Penelópe Cruz, como Isabella, grande cozinheira, que sofre com uma doença de mobilidade e, portanto, somente pode fazer sexo por cima. Seu marido Toninho (vivido pela estrela da telenovela brasileira, Murilo Benício), machista e intolerante, não pode lidar com esta situação e engana Isabella, fazendo com que ela abandone a casa e parta para San Francisco. Filmado em locações de Salvador, Bahia e nos Estados Unidos, e falado em português e inglês, este filme também teve influências culturais brasileiras - Isabella busca ajuda com a deusa do mar Iemanjá para seus problemas românticos e culinários - e o final feliz do filme ocorre de volta a Salvador, onde a chefe e proprietária de um restaurante e o marido se encontram novamente. Estreando na mosta Um Certo Olhar de Cannes, Sabor da Paixão foi um sucesso  de bilheterias no circuito de arte norte-americano e estreou em mais de vinte países. Não foi, definitivamente, um sucesso de crítica, no entanto. Fina Torres está vivendo no México, mas tem retornado à Venezuela (e  para Cuba) para realizar seu quarto longa, Habana Eva, uma comédia romântica, em 2010. 

Fonte: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014,  pp. 563-64.

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