Filme do Dia: Árido Movie (2005), Lírio Ferreira
Árido Movie (Brasil, 2005). Direção: Lírio Ferreira. Rot. Original: Lírio Ferreira, Alisar Hilton & Eduardo Nunes. Fotografia: Murilo Salles. Com: Guilherme Weber, José Dumont, Selton Mello, Giulia Gam, Magdala Alves, Suyane Moreira, Matheus Nachtergaele, Luís Carlos Vasconcelos, Maria de Jesus Bucarelli, Renata Sorrah, Paulo César Pereio, Gustavo Falcão, Zé Celso Martinez.
Jonas (Weber), tem sua bem sucedida carreira na televisão como meteorologista em São Paulo interrompida com a súbita morte do pai, Lázaro (Pereio), assassinado no sertão do Pernambuco, por Jurandir (Vasconcelos), irmão de Wedja (Moreira), a garota que Lázaro queria levar para cama. Os amigos de Jonas de Recife, Bob (Mello), Dedé (Alves) e Falcão (Falcão) decidem também viajar para o vilarejo. Para seus amigos, tudo é motivo de festa, pois a cidade se encontra no Polígono da Maconha. Jonas, por sua vez, no meio da viagem de ônibus aceita a carona de Soledad (Gam), interessada em gravar depoimentos de personagens locais ligados a questão da água, como Meu Velho (Martinez). O enterro de Lázaro é adiado por ordem da avó Carmo (Bucarelli) até a chegada do neto. Jonas, por sua vez, terá que lidar com a pressão da avó e dos tios para que vingue a morte do pai, enquanto se torna cada vez mais próximo do índio Zé Elétrico (Dumont), justamente o homem que acoberta Jurandir.
Ferreira demonstra um fôlego narrativo bem acima da média da produção nacional contemporânea, fazendo uso de uma montagem extremamente dinâmica, porém tampouco deixando de acrescentar longos planos descritivos que pouco acrescentam a um filme que estivesse atento somente com uma lógica estritamente preocupada com os eventos por si só, como a seqüência filmada nos rochedos. Mais que somente contar uma boa história, Ferreira pretende traçar uma viagem extremamente pessoal de alguém de volta a suas raízes, metáfora que pode comportar uma representação do próprio país. É justamente essa representação de um Nordeste Profundo em que valores tradicionais se mesclam a uma cosmogonia extremamente particular, distantes dos valores somente do trabalho, do status social ou do hedonismo desenfreado com que são representadas os personagens de classe média tanto paulistanos quanto de Recife que talvez soe pouco original. Ainda assim, Ferreira aparentemente não se rende integralmente aos clichês que contrapõem Nordeste e Sudeste, ou ao menos enquanto elementos essenciais, apontando de certa maneira que a própria visão de mundo mítica e profunda de um personagem como Meu Velho pode ter muito de encantamento para forasteiro admirar. Talvez a seqüência mais admirável do filme seja a que a avó de Jonas lhe faz lembrar que sua vinculação com todo o episódio é mais que opcional, borrando todos os limites da justiça formal por uma vinculação que envolve sangue e afeto sim, mas também a própria questão da propriedade. Com um elenco afinado e uma simpática e divertida representação do trio de amigos de Jonas que compõe o núcleo humorístico, o filme ainda se beneficia de um final pseudo-elíptico que recusa apresentar a conclusão dos fatos de maneira mais ortodoxa. Cinema Brasil Digital. 100 minutos.
Postado originalmente em 30/01/2016
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