Filme do Dia: Feminino Plural (1976), Vera de Figueiredo
Feminino Plural (Brasil, 1976).
Direção e Rot. Original: Vera de Figueiredo. Fotografia: João Fernandes.
Música: Guilherme Magalhães Vaz. Montagem: Amaury Alves. Cenografia: Vera de
Figueiredo. Com: Dorinha Duval, Léa Garcia, Kita Xavier, Catalina Bonaki, Adriana
de Figueiredo, Ângela de Figueiredo, Maria Rita Freire, Nélson Xavier, Joel
Barcellos, Tereza Raquel, Carlos Kroeber, Reinaldo Amaral.
Como quase
todo exercício com grande dose de experimentalismo, há também um grau de
auto-complacência, nada diminuta, embolada com momentos maravilhosos, como seu
prólogo um tanto documental ou o pioneirismo de um discurso abertamente
feminino/feminista, inclusive já incorporando a mulher negra, como a excluída
dentre as excluídas. E se há muito de vanguardismo nesse quesito, e não apenas
em relação ao cinema brasileiro, também há a utilização de uma postura não
naturalista e teatral na encenação, que busca a via do escape da alegoria, por
vezes prontamente política, tal como aquela que se dava entre o final dos anos
1960 e os idos da década seguinte, sobretudo pelos realizadores
cinema-novistas. E ironia em seu estado bruto, como é o caso da passagem que
apresenta de forma didática, a educação que é direcionada às crianças do sexo
feminino desde a mais tenra infância até a formatura e o casamento. Sequencia
que termina com um nível de radicalidade evocativo dos super-8, com nosso
modelo de “boa menina-moça-mulher-esposa-mãe-funcionária” sucumbindo a um
vômito de sangue que atinge a própria câmera, por entre caibros de uma
construção. Já dentre os momentos menos interessantes estão muitos daqueles
mais ensaísticos, em que as atrizes em coletivo pulam e se divertem como
sílfides ou uma delas rola na praia com um jovem desnudo – e ela coberta
somente por um lenço, numa provavelmente intencional inversão da forma como o
cinema, e não só o brasileiro, abordava a nudez, cena essa que, noutra chave,
não estaria distante do quase contemporâneo A Lagoa Azul. E ganha ainda
mais destaque por ter sido produzido durante a ditadura militar, e ainda um
pouco antes do momento de maior distensionamento dos dois últimos anos da
década. O filme todo é pontuado pelo olhar de uma das mais jovens personagens
com uma parte de sua viseira de moto e, à guisa de um fecho, apresenta em suas
últimas imagens, já acompanhadas de seus créditos finais, o mesmo batalhão de
motociclistas feminino. A feminista Rose Maria Muraro contribuiu com a voz da
“repressão” da sequencia acima aludida. De forma menos militante e com uma
linguagem cinematográfica mais convencional, Teresa Trautman conseguiu
excelentes resultados com seu Os Homens Que Eu Tive, enquanto Ana
Carolina consegue se sair melhor no campo do não naturalismo, inclusive
trabalhando com uma aproximação mais original desse -e provavelmente com
orçamento mais folgado – em seu longa de estreia, Mar de Rosas. Essa
cópia em vídeo pode não ser a mais completa, já que há fontes que o registram
com 8 minutos a mais. Circofilme/Embrafilme para Embrafilme. 71 minutos.
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